Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

sábado, 26 de dezembro de 2009

O último baluarte - por Norma Hauer



Na véspera de Natal (de 2006) quando a cidade se preparava para as festas,com suas luzes tremulando, uma se apagou, deixando um rastro de Saudade: João de Barro, o nosso Braguinha partiu.

E por que João de Barro?

Eles eram 5: Carlos Braga, Henrique Foréis, Noel Rosa, Henrique Brito e Alvinho. Criaram o "Bando dos Tangarás" lembrando um pássaro cantador. Cada qual se
"incorporou" em um pássaro e começaram a cantar, apresentando-se nas emissoras de rádio então existentes, em pequenas reuniões e em qualquer lugar onde pudessem se apresentar como um grupo de "cantadores". Sua primeira gravação, na gravadora Parlophon, foi um samba de Almirante (Henrique Foréis), de nome "Mulher Exigente".

Com a morte de Henrique Brito e a saída de Alvinho, o grupo se desfez e cada qual seguiu seu caminho, dentro da esfera musical da época (fim dos anos 20). Henrique Foréis passou a ser conhecido como Almirante, Noel Rosa era o Noel que todos conhecemos e Carlos Braga, que adotara o pseudônimo de João de Barro, foi o único que manteve o nome do pássaro. E assim passou a assinar as inúmeras composições que foi criando. E como criou!!!
Um de seus primeiros sucessos foi gravado por Mário Reis: "Moreninha da Praia":

Moreninha querida/ da beira da praia /que mora na areia todo o verão.../ que anda sem meia,/ em plena avenida,/ varia como as ondas/ o seu coração".

Andar sem meia era um ato corajoso.

Os anos foram passando e ele sempre produzindo com o nome de João de Barro. Vieram a "Chiquita Bacana" que se vestia "com uma casca de banana nanica", as "Touradas em Madri", ele cantou as "Noites de Junho": "noite fria,/ bem fria de junho,/ os balões para o céu vão subindo... " transformou parte da letra de "Linda Pequena", de sua pareceria com Noel Rosa, tornando-a um dos maiores sucessos de todos os tempos, com o nome de "As Pastorinhas", da mesma forma que, fazendo a letra de um velho choro que vinha dos anos 10, da autoria de Pixinguinha, marcou uma das músicas mais ouvidas em serestas:"Carinhoso".

Enfeitou o carnaval dizendo "Yes, nós temos banana", cantou o "Balancê", "A Saudade Mata a Gente", os "Sonhos Azuis", navegou pelos "Mares da China", descobriu ser Copacabana a "princesinha do mar" e revelou ao estrangeiro "Onde o Céu Azul é Mais Azul".

Maracanã - 1950-Copa do Mundo. Jogo: Brasil x Espanha – vitória do Brasil! Todo o povo canta "eu fui às touradas em Madri,/ parara tim-bum...e quase não volto mais aquiii...". Braguinha, o nosso João de Barro, emocionado, começa a chorar. Nessa emoção, ouve alguém dizer: "o que este espanhol está fazendo aqui?" Era o autor chorando por sentir como sua música alegrou uma multidão feliz.

Carnaval de 1984 – desfile da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, sambódromo lotado e Braguinha desfilando, sendo homenageado com o enredo vitorioso "Yes, nós Temos Braguinha".

Isso é pouco diante do muito que ele nos deixou. Partiu quase centenário e era o último baluarte dos anos de ouro do rádio, vindo das décadas de 20 e 30.


Norma Hauer

Nenhum comentário: