“Seu” Raimundo Elesbão era figura respeitadíssima na família da minha mãe, que tem raízes em Araripe. Meu pai, por outro lado, sempre o citava como exemplo dos que vencem a custo do seu próprio esforço. Repetia sempre que aprendeu a ler já adulto, logo tornou-se professor, repassando aos outros o que aprendera praticamente sozinho. Inteligência rara, mas alma simples, raramente se ausentava de Araripe. Eu sabia que ele escrevia bem e era bom poeta, mas não conhecia nenhum texto da sua autoria. Na minha última viagem ao Crato, ganhei do meu primo Tadeu Alencar (Cevema), neto de “Seu” Raimundo, um exemplar do livro A vida e o Verso, lançado em comemoração ao centenário do nascimento do seu avô. Mesmo tendo informações de que a produção era de alto nível, a qualidade dos versos me surpreendeu. Transcrevo duas poesias para dar noção da profundidade da obra:
CHE GUEVARA
Idealista e herói autêntico
Plantaste no solo da Bolívia
A semente prolífera do teu sonho.
A mocidade sonhadora
Do mundo inteiro
Prosterna-se reverente
Ante o teu sacrifício.
De Sierra Maestra
A Villagrande
Fizeste a tua escada
Para ascensão da imortalidade.
Há de perdurar o teu nome,
Perdurar para sempre
Na memória imorredoura,
Nos infindos evos
Das idades infindas.
Como Cristo no calvário
Redimindo a humanidade,
Redimiste com teu sangue
Nossa crença no povir,
Nossa crença sempre ardente
Que freme e palpita
N’alma da juventude
De todo o mundo.
Regaste com a seiva rica
De teu sangue generoso
As selvas virgens, bravias,
Das serras bolivianas.
Delas breve surgirão,
Como de outras partes, também,
Idealistas teus irmãos,
Irmãos nos mesmos sonhos,
Filhos do mesmo ideal.
Quando, então, se cumprirá
O compromisso formal
Que nobremente firmaste
Com a juventude que sonha
No mundo contemporâneo.
Araripe – 1967
O HOMEM NA ROTA DA VIDA
Não se sabe quando
O homem surgiu
Na face da terra;
Sabe-se, porém,
Que há muitos milênios
Vem ele lutando,
As vezes sorrindo,
As vezes chorando
Ou fazendo guerra.
E assim, nesta faina
Vem ele também
Um dia sonhando,
Ou triste pensando
No incerto destino.
Contudo não se cansa;
Após tanta lida
É sempre sua guia,
Nas rotas da vida,
A doce esperança.
Araripe – 1975
Um comentário:
Visite o meu blog: www.valdecyalves.blogspot.com e leia poesia vencedora de concurso homenageando o Estado do Ceará, Brasil. intitulada: CANTO AO CEARÁ. Coletânea lançada em 21 de janeiro de 2010. A partir do meu blog pode acessar páginas de outras poesias de minha autoria e vários documentários postados em minha conta no youtube. Grato!
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