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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O FURTO DA ATA - Por Mundim do Vale



No ano de 1956, nós morávamos na Vazante e o meu pai trabalhava no cartório da cidade. Cada dia era escalado um dos filhos para levar seu almoço na rua. Um dia eu fui escalado e quando passava na casa de Raimundo Beca, onde tinhas uns pés de atas, eu avistei uma que de tão madura, já estava rachada. Os moradores todos estavam almoçando e eu naquela minha irresponsabilidade dos meus dez anos, resolvi furtar aquela fruta. Fiquei de ponta de pé, mas mesmo assim não consegui pegar a ata inteira. E como quem furta tem pressa eu me conformei apenas com a metade, deixando o resto no galho. Dali eu parti para a cidade, comendo a fruta e jogando os caroços de um lado e do outro da estrada.

Quando eu retornava. Da calçada da casa do Sr. José Raimundo eu já escutei a zoada do pessoal. Os palavrões proferidos, não cabem nessa postagem. Me aproximei do local do crime e lá estavam: Raimundo Beca, sua esposa Maria, Benedito, João, Chico, Mundinha e o cachorro Tubarão.
Eu com uma carinha de anjo perguntei:
- O que foi que houve aqui?
Raimundo o mais revoltado disse:
- Foi um ladrão fí duma égua,que mexeu nas nossas pinha e saiu metendo no rabo pru lado da rua. Tá ali os caroço qui o fí do cão deixou.
Maria com a banda da ata na mão falou:
- Eu tumara qui aquele condenado sintupa.
João também muito revoltado disse:
- O infiliz levou só uma banda, foi pra incharcar, se ele tivesse levada toda nóis num ia nem dá fé.
Só Tubarão foi que desconfiou de mim, porque ele me olhava e dava uma rosnada de vez em quando.
Depois que cada um deles disse seus palavrões, Raimundo Beca me perguntou:
- Ô Raimundo do qui vem das banda da rua, Num incontrou algum minino comendo pinha não?
- Seu Raimundo. Eu só encontrei aqueles dois moreninhos dos Lobos, lá no balde da lagoa, mas eles não iam comendo pinha não.
- Mais só podia era num tá cumendo mermo! Uma banda de pinha, na mão daqueles morta-fome dos Lobo, num açoita nem na casa de Zé Raimundo.
Depois daqueles desabafos, eu tentando colocar gelo na questão falei:
- Deixem pra lá meu povo, que Deus há de castigar o ladrão.
Maria ainda com a banda da ata na mão e sensibilizada com as minhas palavras, perguntou:
- Raimundo. Tu quer o resto da pinha pra tu?
- Eu aceito e agradeço, porque pela aparência esta ata tá muito boa.

Moral da história: O QUE É DO HOMEM, O BICHO NÃO COME.
O destino marcou para que aquela fruta me pertencesse na sua real totalidade.

Mundim do Vale

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