Que inigualável o pensamento!... De um momento a outro, formam-se nuvens de imagens e apontam no horizonte as palavras, quadro nítido a contar o que isso quer dizer, no trânsito filosófico de conceitos, à pulsação de significados. Existência quer falar, neste mar sem fim. Os endereços das mensagens abrem portas, pedindo clemência, num fervilhar de ancas, dançarinas fogosas de lábios convidativos, e descem pelas veias do instante a seiva de persistir, diferente de quando o barco afundou, largou tripulantes no alto mar, ou em meio aos rochedos afiados de continentes escuros, ou areias escaldantes de ilhas desertas, indiferentes projetos ilusórios que antes alimentavam sonhos fantasmagóricos, perdas largadas nas ondas por náufrago agarrado a vida incógnita qual derradeira esperança irresponsável.
Vem o Sol, vem a Lua, as Estrelas, dias e noites pontuais... Popas distantes de outros barcos passam ao largo inalcançáveis... Chuva... Vento... Uma lâmina impaciente de vagas brilhantes cobre de espumas cinzentas narinas ofegantes.
Boiar sobre escombros, agarrado aos laços de cordas rotas, língua seca e lábios tostados, marcas purulentas de esverdeadas escamas lhe cobrem a pele. Nisso, luz intensa perfura-lhe os olhos, enquanto a pulsação das águas fustiga o flanco do destino à deriva, ritmo de canção entranhada na memória sem qualquer sentido, que persiste no oceano de inconsciente sonâmbulo, vadio marulhar forte na caverna dos ouvidos.
Lento esperar por quem nunca avisou que chegaria aos comboios próximos das circunstâncias possíveis... Porém mandara subscrito inevitável demonstrando a obrigação de viver enquanto no peito sacudir o tambor do coração...
Ao apagar das luzes do verão absurdo, fogo-fátuo indiferente crepita o infinito da planura e saltam mechas derradeiras de poente, cenário próprio ao delírio da sede que lhe corrói as entranhas, aviso pegajoso do trilho comum a todos os seres vivos.
Retornam, através da sensação, espasmos frios de gotas saltitantes, desejo apreensivo de rever a família reunida em torno do pão, à mesa do jantar, quando filhos se divertem com menores assuntos. Ouvir o futuro, abandonar asas ao crepitar sereno das tardes simples, solenes, espaço das certezas que fogem, fagulhas amolecendo na brisa de ausências que apenas aguardam outras combinações de letras e argumentos, exemplos eternos da cena seguir em frente, maior do que meros organismos que se dissolvam.
Essa espera também domina o Universo; aves resvalam terras douradas, às vezes bem aqui, outras distantes, reforços do instinto de sobreviver, contenção da indesejável solidão do cérebro tostado no calor das tempestades da alma. Dormir bem que acalmaria por algum tempo o impulso de levar aos outros aquela aventura vivida, e ver outra vez nascer o dia.
Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS
FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS
Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................claude_bloc@hotmail.com
sábado, 20 de março de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Que texto lindo, Emerson !
Boa leitura...num inigualével pensamento.
Abraço,
Claude
Belo texto,caro Émerson!
Denso e profundo como as águas do oceano...
que bom que hajam escombros e praias desertas...as "tábuas de salvação".
Somos todos náufragos lançando garrafas ao mar...
os amigos habitam o mesmo arquipélago.
precisamos de pontes...
Postar um comentário