Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 27 de maio de 2010

(Des)Caminhos
- Claude Bloc -



Entre o céu e a terra, estava eu, em pleno setembro, suspensa, lá no alto, num fluir de roda gigante. A Praça da Sé estava cercada por um parquinho de diversões e a música estridente rodopiava por ali entrecortada pelas vozes animadas das pessoas.

A novena havia acabado fazia pouco tempo. O leilão desfiava seus lances um a um na voz do sacristão. Até o fim. Mamãe, nesse dia, estava surpreendentemente mais alegre. Sentada à mesa havia finalmente conseguido arrematar uma prenda. Papai era irrequieto e imprevisível. Passeava pelas mesas entre os amigos como uma borboleta. Brincava com as palavras fazendo alguma piada.

Percorri a calçada em frente ao patamar da Igreja. Estava lá em meio à algazarra, embebida numa nostalgia antecipada. Segui para o miolo da praça. As meninas rodopiavam em volta da fonte. Luzes coloridas brincavam nos esguichos da água. Que cores teriam os sonhos?

Os rapazes se reuniam em grupos e lugares estratégicos. Seguiam com os olhos as meninas. Arriscavam olhares, e, como num ritual, cortejavam a tímida resposta, um flerte, a flecha certeira de Eros. Muitos amores surgiriam depois daquele dia... frutos dessa troca de olhares, desse revoar de arcanjos.

Nesse dia em especial, a praça efervescia, mas como era de praxe, cedo da noite se ia para casa. A volta era silenciosa, deixava na gente um vazio infinito. O barulho da radiadora ainda vibrava nos meus tímpanos: “de alguém para alguém com amor e carinho”... Teria sido para mim? - O coração saltitava. - E se fosse? Qual seria a música? A nossa música?

Depois viria o silêncio. O tempo se interpondo entre a gente. Teria sido muito mais fácil escrever cartas de amor, para serem estendidas ao longo das estradas. Assim nos sobraria uma memória, numa solidão quase absoluta.

Ficaram os sonhos, porém, que nos acometeram juntos em busca da inviolável liberdade, dos (des)caminhos seguidos ao acaso, e da verdade contida nas páginas de nossa história.
Claude Bloc

5 comentários:

Stela disse...

UAU! adorei!

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Claude

Bonito texto. Voltei àqueles tempos e me senti no mesmo ambiente, a praça, os leilões e eu ali parado dirigindo meu olhar para Magali que passava em torno da fonte.

Edilma disse...

Claude,

Ei! Saudade da fonte luminosa do meu avô, dos rodopios da Praça da Sé, do parque Maia com a sua roda gigante nos festejos da Padroeira, dos corações enamorados que o passado levou para longe...
Mas temos o nosso tempo de agora para reencontrar os amigos nos barzinhos em torno da praça, nos restaurantes espalhados pelos bairos, no trem novinho para nos levar ao Juazeiro, o carro vermelho de Socorro Moreira, novinho para dar voltas e nos levar a casa de João Marni e Fátima, Roberto Jamacaru e Fança sempre hospitaleiros, revelando um pouco de suas vidas numa casa aconchegante com a vista maravilhosa da serra do Araripe verde azul sem igual...
Hoje temos esta maravilha que se chama internet para encontrar os amigos que a vida levou pro futuro. No lugar do velho livro dário fechado a cadeado que escondia nossos escritos, temos um moderno computador note book para revelar as pérolas dos bastidores em versos e prosas e que depois vão virar livro com direito a festa e tudo... Oba!
Vivemos o tempo de agora com as festas no Tenis Club, no lançamento dos livros de memórias, o rencontro dos artistas promovido por Salatiel numa noite sem igual valorizando a cultura. Temos os blogs recheados de noticias mantendo uma conecção intelectual e informativa com a gente do Crato.
Voltamos cheios de premios na figura dos filhos amados, médicos, arquitetos, economistas, advogados, publicitarios, aviadores,administradores de empresas, professores... que nos enchem de orgulho.
Somos senhores e senhoras respeitados e fizemos valer a educação e formação recebida dos nossos pais e educadores como: Dr. José Newton, Hermógenes,Alderico Damasceno, Dona Ruth, Divane Cabral, Monsenhor Montenegro, Alzir e tantos outros...
Ao pisar no nosso torrão o fazemos com a certeza de termos saido um dia para ser alguem na vida e retornamos vitoriosos , cheios de saúde e reconhecidos pelo nosso povo pela nossa gente.
Ei, Cratinho bom danado !

Anônimo disse...

Claude,


São boas recordacões para todos nós!


Abraços


Magali

Claude Bloc disse...

Ai, ai, ai, só agora pude lê-los. Estou em Fortal,pra trás ficou Sobral, mas a saudade que fica no peito é mesmo de Crato. De Crato e sua época áurea de prazeres simples, alegrias puras, risadas cristalinas, vida leve...
O Crato de NOSSA época.

Abraços a todos.

Claude