Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 31 de maio de 2010

A gente não furta...Puxa ! - por Socorro Moreira


Conversávamos no dia de ontem, eu e Zélia ( minha irmã) sobre as pequenas heranças artísticas e patológicas das famílias, incluindo a nossa.
O falar cedo e explicado x o não falar , e falar enrolado foi o primeiro ponto de análise, compreensão e riso.
Minha mãe , l0go ilustrou a conversa , confessando que aos nove anos , ainda possuía um dialeto próprio, intraduzível. Foi quando chorou um dia e uma noite , querendo da mãe sua " pôa, pôa". Anoiteceu, e de candieiro na mão , vovó Bibia , ainda procurava incansável, o tal objeto,pra agradar a filha.
Abriu por fim um velho baú, e saiu tirando peça por peça...Quase no final, quando puxou uma combinaçãozinha de cetim , a minha mãe gritou feliz : achei minha pôa, pôa !!! Vestiu, e foi dormir tranquila.
Melhor foi quando ganhou dois periquitos pra cantar um bendito. Cantava desafinado, e tão engraçado, que valia uma sessão de terapia do riso. Alguns dos nossos, repetiu na infância essa dificuldade, que modernamente , com ajuda dos fonaudiólogos, foi-se resolvendo.
Pior são as consequências patológicas : aneurismas, diabetes, pedras na vesícula e rins, alergias, depressão, etc,etc.
Meu pai mesclou o nosso conteúdo genético ( já herdado também) de todas as artes, e alguns vícios. Mas, acho que é desse jeito que a nossa cultura se reproduz , e se alicerça.
Zélia e Verônica tão por aí, como exímias artesãs !
E todos os dias , descubro algo diferente sobre a minha mãe : um namorado do passado, uma aptidão que começou a se desenvolver, e não seguiu adiante... Como o dom de tocar bandolim e violino. Disse-me que sabia ler com facilidade em pentagramas, mas cantava desafinado...E chegava a juntar gente pra ouvi-la, quando nas aulas de canto, solfejava. As pessoas riam, (magando) , e ela não perdia o rebolado, achando sempre que estava arrasando !
Olhando a fotografia dos meus pais, no dia do seu noivado,, acho em mim alguns dos seus traços. Numa crescente projeção me vejo agora, e por mais 10, 20 anos, se eu chegar até lá...!
Tenho o suor dos Lima, no bigode; o espírito teimoso e personal dos Moreira, e o caminhado miudinho de Chico Nunes, além de outros trejeitos.
Em síntese, "somos todos irmãos por parte de Adão e Eva..." Sendo assim não dá pra criticar , algum defeito, num cidadão comum.
Vamos trocando de espelhos !

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