Mais gostoso que as mangas roubadas era o prazer de roubá-las, de pular o muro, do perigo que se corria se flagrado fôssemos. As mangas cumpriam apenas um papel secundário ao serem chupadas. Sabíamos que, se descobertos, nossos pais tomariam conhecimento do ‘crime’ e as penalidades iam de estudar a tarde inteira a não poder jogar bola depois das quatro. Mas valia a pena correr o risco e enfrentar as ameaças. Era o prazer do perigo, da aventura. Hoje, não pulo muros nem chupo mangas. As pernas já não permitem o atrevimento frente a muros altos; O corre-corre da vida não me dá tempo de sentir o sabor da meninice, tão distante. Além do mais, não gosto das mangas amargas dos supermercados, sem qualquer gosto de saudade.
Por Xico Bizerra
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