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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 6 de junho de 2010

NOITE DE SÃO JOÃO - Por Edilma Rocha

Os festejos de São João faziam a alegria da meninada todos os anos. Tempo de coisas simples e comemorava-se ali na calçada da rua. Famílias e vizinhos se reuniam para organizar a noite tão esperada. Todos juntos, papai, mãezinha, Ricardo, Roberto, eu, Edilsinho, também meu avô, minha avó, sem esquecer Vilanir que morava conosco; mas Flash, o cachorro, estava enfiado debaixo da cama com medo das bombas.

As casas eram quase todas enfileiradas parede com parede mas aqui e ali um bangalô se destacava das demais. Eram das famílias abastadas, casas dos Coronéis. As calçadas cheias de cadeiras, de balanço, esparguete e até tamboretes para sentar e assistir a grande noite de São João. As vizinhas se encarregavam da decoração preparando uma mesa grande com toalha de xadrez recebendo os pratos típicos como, mucunzá, pé de moleque, canjica, bolo de macaxeira, pipoca, milho cozido , sucos, caldo de cana e aluá. Os cordões com bandeirinhas coloridas tremiam ao vento enquanto se ouvia o som do acordeon da galinha da rua. Não sabia porque era chamada assim, mas a sua figura, lembro bem, era diferente das nossas mães. Alta, magra, cabelos louros de farmácia, as unhas enormes e vermelhas, decote grande num vestido apertado e andava balançando muito as cadeiras. Ficava num grupinho afastado perto dos correios, mas tocava bonito.

Era costume cada morador ter a sua própria fogueira em frente a sua casa e montada próximo ao meio fio da calçada. As bombinhas brilhavam na noite iluminada pelas fogueiras de uma ponta a outra da rua. A luz elétrica já tinha ido embora e o clarão do fogo aquecia nossos rostos como uma carícia gostosa, no clima frio do mês de Junho fazendo as nossas bochechas ficarem vermelhas. Minha avó olhava de um lado para o outro tentando controlar nossos passos a certa distância.

_ Telma, olha esses meninos !

_ Quando der fé, o fogo engole um !

E fugíamos às gargalhadas...

Os mais velhos eram mais audaciosos e podiam estourar as famosas bombas rasga-latas e nós as crianças ficávamos com os traques, chuvinhas e pixites. O papai de vez em quando soltava um rojão para o céu num colorido brilhante que caía devagar em gotas de fogo de várias cores.

Mãezinha tinha me enfeitado toda. Cabelos bem presos por laço de fita, franja bem aparada, sapatos com meias brancas e um vestido rodado na cor azul de uma espécie de tule com bolinhas salientes que me penicava inteira. Era um horror !

_ Está linda neste vestido novo...

Falava a todos que chegavam. E eu com ódio, franzia a testa e fazia beicinho com um olhar de poucos amigos. Era um corre-corre danado da meninada em volta da fogueira e cada um exibia orgulhoso os seus fogos. Joguei todos os traques nos pés de Ricardo e Roberto fazendo-os pular adoidado enquanto me divertia. Só me restava na caixinha os pixites, mas as chuvinhas de Edilsinho giravam no ar hipnotizando nosso olhar. De repente, as faíscas caíram na minha caixinha e os pixites acenderam todos e tomaram conta do meu vestido de tule espinhento. Pareciam estar vivos... Foi faisca pra todo lado. Os pixites subiam e desciam na minha saia rodada e eu aos pulos de medo e alegria. Medo do fogo me queimar e alegria porque certamente iria me livrar para sempre daquele vestido azul de carrapicho.

Ouviam-se vozes...

_ Chega, acode ! A menina vai se queimar !

E correram todos para me acudir, mas não aconteceu nada comigo. Os pixites estavam fazendo a festa era no meu vestido novo. Quando o fogo cessou, eu estava com uma carinha pra lá de feliz e o vestido do orgulho da minha mãe, cheio de buracos queimados.

Eu estava a salvo !

Edilma Rocha

7 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Edilma! Gostei da sua maneira de relatar esse São João. Ri imaginando esses pichites estragando o seu lindo vestidinho.

Abraços

Magali

Edilma disse...

Magali,

Coisas de criança e do nosso Crato. Obrigada pela gentileza de comentar o meu modesto texto.

Beijo !

socorro moreira disse...

eSSE TECIDO QUE PINICAVA, CHAMAVA-SE : BROTINHO !
dEIXARAM DE FABRICAR... eU TBÉM TIVE UM , VERMELHO DE BOLINHAS BRANCAS . ( RISOS).
EDILMA VOCÊ É MARAVILHOSA CONTANDO CAUSOS !

aBRAÇOS DE ENTUSIASMO !

Claude Bloc disse...

Menina do céu,

Adorei o conto... E kd a foto da menina com o vestido "carrapichento"??? Telma deixou escapar esse evento? (risos)

Abração,

Claude

Edilma disse...

Claude,

Por enquanto foi a cara amarrada de raiva, mas vou procurar a foto com o vestido.

Beijo !

Zé NIlton disse...

Muito bonito. Histórico. Deslumbrante!

Edilma disse...

Zé Nilton,

Agradeço a sua atenção !
Estas histórias tem realmente algo que deslumbrava os olhinhos infantis. Os fogos de São João.

Abraço !