Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ostras ao vento

Ao Vasqs

Quando encontro
no meu silêncio
uma pérola
é escavado na minha vida
como um abismo.
(Ungaretti)


Conheço que uma ostra ao vento
É muito mais do que uma ostra.
Canta com um ouvido afinadíssimo:
Uma ostra ao vento é toda ouvidos.

Uma ostra ao vento é gozada
Como uma rã, um grilo colorido.
Um cara de cócoras atrás da moita
Tem as ostras ao vento batendo palmas.

Uma ostra ao vento é como um pássaro,
Mas sem asas e sem gaiola.
Uma ostra ao vento nem existe
De tão gozada.

A ostra no mar guarda a dor da pérola,
As ostras ao vento dão risada.
As ostras ao vento batem uma contra a outra,
Quebram os dentes de tanto chacoalhar.

As ostras ao vento são para quem quiser
Morrer de dar risada.
A vida não é uma piada, mas devia.
As ostras ao vento são uma gargalhada.


______________


O Vasqs é o criador da coluna de humor Ostras ao Vento. (Está escondido no Overmundo: clique no título acima para abrir seu perfil.)
Desde a 1ª vez que vi esse título, pensei em poesia.
O humorista é primo-irmão do poeta. Grandes poetas têm senso de humor. Drummond ou Manoel de Barros têm. Há exceções: não vejo humor em Ferreira Gullar (ele mesmo se diz resmungão), poeta imenso apesar disso. Um humorista imenso, Millôr, faz questão de ser também poeta, embora assim não se autodenomine.
Por essas e outras, acabei escrevendo o meu poema Ostras ao Vento.

__________

2 comentários:

Domingos Barroso disse...

É prazeroso
ler ostras ao vento
de madrugada.

José Carlos Brandão,
forte abraço.

Domingos Barroso disse...

Diria até que ostras ao vento
é para ler de madrugada.
(ou não)

Mas releio:
é o vento que entra
pelo basculante confirma.

Só faltam as ostras.
Mas ouço seus dentes quebrados.

Valeu, Poeta.