Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dilema das culturas tradicionais em face da globalização - José do Vale Pinheiro Feitosa

Este texto foi publicado originalmente no Cariricult. Mas serve muito bem para nosso ambiente aqui, especialmente agora quando as visitas ao blog diminuem, já que todos estão com os olhos e mãos ocupados com a televisão e o jogo do Brasil e Holanda na copa do mundo de futebol.

Estamos numa revista de cultura. Esta palavra na borda da linha. Que tanto fala em antropologia, como sociologia e política. Que diz arte, artesão e produção. Que pode ir da filosofia a uma mera tecnologia (ou técnica). Que fala, por contigüidade, em educação e comportamento. Mas então é que tomarei um núcleo para me fazer entendido: a alma de um povo. Vejam que alma é aquilo externo ao corpo e o externo, ou a anima, é a construção coletiva, em sociedade, de uma visão de mundo. De nós no mundo.

Então, agora, tomemos dois movimentos: em primeiro o movimento secular ou milenar que num dado território construiu uma cultura, ou a alma de um determinado povo. O segundo movimento tem natureza universal de aculturação (modificação cultural) que pareceu originar-se no ocidente europeu (com a modernidade) e soterra todas as culturas daquele primeiro movimento.

Qual seria a “mecânica” do segundo movimento, que passo a chamar universal ou global? Em primeiro lugar o antropocentrismo (no renascimento), logo a seguir, colado ao primeiro, o individualismo (independente da hierarquia); em terceiro os estados nacionais (independente de Deus e dos Monarcas); em quarto a razão como uma regra universal; em quinto a libertação individual e coletiva da produção agropecuária; em sexto a ciência e a tecnologia de base científica.

Quando dizemos educação para todos, estamos falando em superar os velhos arranjos culturais, aqueles remanescentes e “arcaicos” ou os rebeldes que pretendem uma alternativa àquela “mecânica” universal. Por exemplo, o índio, faz parte do primeiro movimento a ser superado pelo segundo movimento universal. Assim como todos aqueles símbolos tão caros a setores sensíveis das classes médias e populares: xamãs, avatares, cultura folclórica etc.

Se falarmos em saúde pública, praticamente dizemos medicina técnico-científica e esta provoca enormes efeitos sobre as culturas básicas ou originais ou as tradicionais ou qualquer nome que se queira para as culturas de base territorial e não universal (ou global). Um exemplo: na Índia até 1974 havia uma Deusa da Varíola, chamada Shitala Mata, milenar, com milhares de templos, profundamente enraizada nas vilas rurais. Naquele ano a OMS partiu para a erradicação final da varíola, toda a Índia foi mobilizada, as escolas especialmente e o resultado: a vacina superou um mito milenar.

Poderíamos desdobrar isso em tudo: na moda, nos hábitos, no trânsito, na alimentação, nas artes e assim por diante. Fiquemos com a idéia que a modificação cultural globalizada não é mais apenas mero efeito do colonialismo e do imperialismo (embora os tenha como forte veículo), é, agora, algo parecido com um grande espelho no centro da humanidade a dispersar reflexos em todas as direções. Parece que por vezes tem alguma origem mais definida, mas logo a seguir, receberemos reflexos secundários vindo de outras fontes.

Enfim, isso tudo no remete para uma grande necessidade de consciência deste enorme espelho. Uma consciência que procure compreender-lhe as dinâmicas, que perceba os perigos inerentes, pois a capacidade de continuar a construir cultura não cessou. Apenas estamos na fase em que todos os humanos se tornaram interdependentes e, por isso mesmo, não podendo se resumir à mera padronização burocrática de meios e recursos.

Um comentário:

socorro moreira disse...

A gente vai levando...!
E a cada texto teu , nossa bagagem cultural fica acrescida.
Hoje recebemos a visita do Emerson. A capa do livro vai ficar muito linda !
Deixei o jogo para lá...Outras alegrias nos esperam.