Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vida itinerante de uma bancária (XIV)- por Socorro Moreira

Friburgo- Berço da colonização alemã
Hotel de Dona Mariquinha
Teleférico- Friburgo-Rj
São Pedro da Serra
Maio de 1992

Olhei meu apartamento  pela última vez, e deixe-o vazio para ser alugado por uma imobiliária. O caminhão seguiu por terra com a minha mudança, e eu me adiantei pelos ares, em companhia de André, meu filho caçula, vestibulando.
Chegamos no Rio, e fomos direto pra rodoviária. Menos de 3 horas de viagem. A cidade estava gelada , naquele mês de maio. Pedimos ao taxista que nos levasse a um hotelzinho bom e barato.Estávamos no Centro da cidade, perto do Banco do Brasil, no hotel e restaurante de Dona Mariquinha. No dia seguinte fiquei sabendo que lá era servida , a melhor comida caseira da cidade. Inesquecível. Os garçons passavam a bandeja, a toda hora , com pratos diferentes , e a gente podia se servir do que quisesse, à vontade. Adorava principalmente, os pastéis de entrada.Depois vinham as saladas, o feijão preto, a carne assada, a farofinha com bacon, os ovos estrelados, o arroz soltinho . Tudo fumegando, tudo no ponto, tudo deliciosamente servido. A sobremesa era morango com uma cascata de chantily , feitta  com creme de leite fresco. Um sabor nada comparável ao creme de leite das latas.
A Agência era moderna e linda. A cidade , que eu já conhecia, quando morei em Macaé, me parecia  um recanto europeu. Floriculturas , cafés, docerias, lojas que vendiam queijos finos, licores e amanteigados.
Enquanto procurava  casa para alugar  ia descobrindo os segredos da cidade. Ela tinha qualquer coisa de mística, de búdica. O Pico da Caledônia, se mostrava, exuberante ! Disseram-me que lá existia um mosteiro budista, pouco frequentado, mas  interessante pra gente experienciar  a meditação em silêncio. 
E, na sequência, tudo que era alternativo foi se apresentando: centro de danças sagradas, acupuntura, I Ching, Curso de Astrologia e Taro, cozinha macrobiótica, grupo de ufologia, medicina natural, etc e tal.
Parece que Deus sabia que eu precisava de toda serenidade do mundo  para encarar o clima competitivo do Banco.Minha função de Gerex havia sido concorrida por milhares de pessoas.A interrogação era grande : "como conseguiu ser nomeada para cá?"
A resposta estava na boca da Direção Geral. Era a minha compensação por uma  possível injustiça , no passado recente, na Bahia.
Lotaram-me  no atendimento. Mesa redonda  e cadeiras para negociações com os clientes. Nos primeiros dias, senti que a minha bodega  estava vazia. Precisava fazer algo, produzir, mexer com as estruturas de base. O atendimento aos aposentados era um tanto marginalizado. As filas eram imensas, e o povo da terceira idade, sofrido. Propus comandar aquele setor, que não era ansiado pelos outros gerentes. Transformei o andar , noutro Banco. Humanizei-o com o maior dos meus carinhos. Servia , nos dias de pagamento, café, chá, chocolate quente; biscoitos, e distribuía chocolates, nas datas especiais. Acho que acabei incomodando, bastante. Foi a minha experiência funcional mais árdua, e ao mesmo tempo ,  a mais gratificante. Culminei-a, pedindo destituição da comissão, por livre e espontânea vontade, desejando reunir-me aos filhos, na cidade de Campina Grande-Pb. Claro ,que fui considerada uma louca.!A coragem de perder uma situação de prestígio  não é fácil para qualquer um. Eu já havia compreendido, claramente, que o bom da vida é SER ... ESTAR  é passageiro demais, para que a gente possa nele se fiar.

Mas até completar meus dois anos, vivi muita coisa boa !
A natureza em Friburgo é prodigiosa. Só comparável ao nosso pé de serra.
Muitos shows, muita gente de fora com figurinhas para trocar, e a gastronomia especialíssima !
Os bosques de orquídeas  eram nativos. Águas correntes , clima ameno, recantos paradisíacos !
Meu companheiro que tocava violão chegou pouco depois. Não sentindo clima de boemia , despediu-se em seguida. Eu aproveitei para um tempo de serenar o coração e a alma. Mas, vez por outra, dava uma passada no bar "Edoardo", onde as pessoas curtiam um Happy Hour. Aí era papo , que não acabava. Gente escolarizada,  sensível... Nada  a ver com o grupo bancário, onde também existiam pessoas afáveis.
Um dia, o Apto  em que morávamos  teve, literalmente, o teto desmoronado.André conseguiu alugar por amizade  uma casa belíssima, onde ficamos até o nosso último dia em Friburgo. Foi massa !

Afora  o diferente , ainda lembro com saudades das Escolas de Samba, na época do Carnaval. Sem os deslumbres do Rio, claro, mas com a essência  no pé, e na alma. Cheguei a participar de uma delas , com grande entusiasmo. Na realidade eu vivia meu lado profano e sagrado, em perfeita harmonia... Se isso é possível !

Fomos visitados por todos amigos e familiares. Friburgo, encantava !
Passei inúmeros finais de semana  no Rio, em Lumiar, e em São Pedro da Serra, sem contar com outros lugares, nas proximidades. 
Foi sem dúvidas uma experiência rica , e no fundo feliz, morar  em Friburgo. 
Mas, com notas da responsabilidade materna, Campina Grande me esperava... E fui ! 

Era Agosto de 1994


4 comentários:

Anônimo disse...

Socorro, leio suas histórias e fico esperando os próximos capítulos. Parabéns!

Abraços.

Magali

socorro moreira disse...

Lembrando do tempo em que ouvíamos novelas no rádio ...
Eu, você, Elisa, minha avó... Éramos viciadas .

Abraços pra você e Carlos.

O Crato está com saudades.

Liduina Belchior disse...

Socorro,

Cada jornada sua, considero um bela batalha, mulher de garra!
Parabéns, parabéns, parabéns!
Você ama o que faz e é amada pelo mesmo motivo.

Abração: Liduina.

socorro moreira disse...

Pois é, amiga Liduína, a vida nos coloca diante das situações, e a gente reaje ou foge!
Eu fiz as duas coisas.

Abraços.