Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

ENVIE SUA FOTO E COLABORE COM O CARIRICATURAS



... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


FOTO DA SEMANA - CARIRICATURAS

Para participar, envie suas fotos para o e-mail:. e.
.....................
claude_bloc@hotmail.com

terça-feira, 9 de novembro de 2010

De Lovely



Crítica Cineweb

29/11/2004

Embora seja um dos compositores mais importantes do século XX, o real legado de Cole Porter está mais além de suas letras repletas de malícia e genialidade. Ele viveu como um grande vencedor, que graças à sua cultura, inteligência - e também ao dinheiro - soube fazer de uma existência predestinada ao sofrimento, uma das mais belas biografias.

Reinventou a Broadway, conheceu Picasso, Stravinski, foi amigo de Coco Chanel. Teve incontáveis amantes e uma piscina sempre cheia de corpos viris para satisfazê-lo. Casou-se com uma das mulheres mais ricas e belas de sua época, com quem viveu uma peculiar história de amor, já que era homossexual. Seu conselho predileto, "não fale, cante", é o resumo de como conseguiu este sucesso. Acreditava que toda a história tem sempre um revés e que tudo pode ser cantado e contado de diferente forma. Assim, qualquer vida pode ser sedutora para as outras pessoas.

Essa também é uma das maiores virtudes de sua nova biografia musical,De-Lovely. O filme tenta trazer a essência do estilo de vida de Porter, como alguém que provavelmente estaria fadado ao fracasso, mas conseguiu ser umas das figuras mais influentes no cenário musical americano. O diretor e produtor Irwin Winkler, responsável pela produção de sucessos como Os Eleitos e Bons Companheiros, entende essa importância e nos mostra um homem cindido entre seus pesares e uma vida dândi e hedonista.

Como não sente a necessidade de ser documental, o cineasta aproveita a rica obra deixada pelo autor para recriar uma história de amor. E não se trata apenas da paixão pela bela Linda Lee Porter (Ashley Judd), mas o amor de Porter por seu trabalho, personagens e melodias. E é exatamente sobre isso que se trata De-Lovely, ao mostrar um velho Cole Porter, solitário, depressivo e alcoolizado que reconta o seu trágico final e torna tudo belo e emocionante - tal como suas peças.

Cada uma de suas músicas, interpretadas por uma seleção de famosos cantores, entre eles Alanis Morissette, Elvis Costello, Sheryl Crow, Natalie Cole, Mick Hucknall, revelam uma etapa ou estado de espírito de sua vida. As letras que compôs para sua mulher, as metáforas de uma vida homossexual secreta, tudo aparenta ser transparente aos olhos de Winkler, que nos prepara um espetáculo honesto e bem-acabado.

No entanto, não se pode deixar de mencionar que o filme, graças ao grande volume de músicas selecionadas, é longo demais, superando duas horas de sessão. Mesmo assim, para os fãs das letras de Porter, como "Love for Sale", "Ev'ry Time We Say Goodbye" (encantadoramente interpretada por Natalie Cole) ou "It's Delovely", não há razão para qualquer resistência. Mesmo porque Kevin Kline e Ashley Judd nos papéis de protagonistas são mais do que acertados, com uma performance impecável.

De certo, De Lovely, como filme biográfico, é superior ao realizado em 1946 por Michael Curtiz, com Cary Grant - a quem Porter considerava o homem mais atrativo do mundo - no papel principal. Também é superior a parte dos mais de 100 filmes que possuem músicas de Porter na trilha sonora. No entanto, é um filme mais para fãs, realmente. O diretor Woody Allen é um deles, tanto que o homenageou de forma bastante divertida em Hannah e Suas Irmãs, quando seu personagem reprova a mais histriônica das irmãs. "Você não merece escutar Porter. Os seus são aqueles músicos que parecem que acabaram de apunhalar a própria mãe".

Rodrigo Zavala

Nenhum comentário: