Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Nada Além - José do Vale Pinheiro Feitosa

Duas linhas de tempo.

A primeira: vivendo na zona rural, sem eletricidade, ouvia rádio a bateria e, portanto, a música da época. Além do mais dormia cedo, acordava cedo e passava o dia correndo as trilhas. Quando estava ali pelos meus quinze anos de idade, um primo com idade próxima, fôramos criados muito próximos, se afastou por uns sete anos, retornou para vivermos o início da adolescência pelos próximos quatro anos. Hoje vejo que é pouco, mas na memória foi uma longa vida. O primo era urbano, veio com leituras e uma mania peculiar: gostava de ouvir um programa da Rádio Educadora só com músicas das décadas de 30, 40 e início dos 50. Estamos ali por volta de 64/65. O Primo: Joaquim Pinheiro Bezerra de Meneses.

A segunda: na era das paixões, por necessidades incontroláveis, existe a medidas diferentes. Uma era a da abundância. Quando na Praça do Crato, nas festas, são tantas meninas belas que a paixão é como um exercício de fixação diante da multiplicidade. Aí, a escassez, quando ia para o Riacho do Meio, uma fazenda no município de Barro e lá duas primas e uma ou outra visita. Então estas visitas eram arrasadoras: quando o tempo ia destilando uma convivência dia e noite, a paixão se tornava uma tortura de irrealizado. Especialmente se haviam barreiras de idade, de compromissos ou ela sentindo-se desejada, balançava os olhares entre vários adolescentes.

Juntando tudo. Foi aí, uma moça muito bonita, diferente do nosso padrão nordestino, cabelos pretos, muito branca e de olhos profundamente verdes. Era irmã da esposa de um primo muito mais velho. Na vitrola, sabe no que me fixei? No “Nada Além” na voz de Orlando Silva.

Tinha tudo a ver. Nada além de uma ilusão, se o amor só nos causa sofrimento e dor, é melhor, bem melhor a ilusão....Bom na letra e péssimo na verdade. A canção ao invés de conformar-me se tornou o símbolo da paixão. Era como se minha alma fosse a avó da história de João e Maria: água meus netinhos! Azeite senhora vó! – levei tempo para entender que o azeite provocava a chama e não apenas era quente.

Pois bem, um dia encontrei o Mário Lago, que era do Partido Comunista do Brasil e fora à posse de Sérgio Arouca na Secretaria de Saúde do Rio. Levei um bom papo com ele e contei esta história. A outra é pra lembrar que o parceiro, da música, o Custódio Mesquita era considerado um dos homens bonitos da sua época.

Aliás, foi o próprio Mário que contou um episódio com Chiquinha Gonzaga. Estavam numa roda na Colombo, ela e outros quando entrou o Custódio e se dirigiu para mesa próxima. A Chiquinha parou a conversa para acompanhar com olhos de apetite o homem desfilando próximo a si.

Como vocês na voz de ORLANDO SILVA: NADA ALÉM

Um comentário:

socorro moreira disse...

Adoro esses textos , que falam das coisas que conheço : pessoas, músicas, lugares, sentimentos...
Dá pra ficar relendo e cantando : "Nada além..."
Acho que somos amigos de infância !

Abraços.