Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Reflexões adicionais (ao meu amigo secreto) - Emerson Monteiro

As chuvas resolveram chegar gostando de ter chegado e um tanto mais de cair e preencher as linhas pontilhadas na pauta do caderno velho de caligrafia das encostas da Serra, seus córregos e valas, apaziguando os pulmões emocionados do chão ressequido; impacientes, incrédulos pulmões do chão, que, pela face irônica que apresentava nesses dias mais recentes acalorados, tórridos até, pode se dizer, sem ferir os padrões das noites zoadas de ventiladores ligados, que pareciam duvidar dos trejeitos meteorológicos das mocinhas dengosas da televisão.
Bom, o que merece contar, depois das atitudes dadivosas das nuvens escuras que aqui transitaram nestes céus caririenses, deixando escorrer de suas abas água limpa, sem cloro, nem rótulos, esfriando a mata e botando cupins, borboletas, formigas de asa, mosquitos, besouros em movimento fora de rotina, resumem a imensa preguiça vespertina que invadiu meu dormitório e caiu letárgica nos ombros de um sono solto, aos acordes das cigarras e dos pássaros incidentais espalhados lá fora.
Nisso, outro ano já reunia mantimentos e arrumava desconfiado as malas gastas dos enquantos que aguardam o trem postal da rota rumo aos registros acásicos (na expectativa de que tudo o que já sumiu do mundo resta gravado nas trilhas do destino, e existe para sempre nalgum lugar do espaçoso Universo), depositado na eternidade, e pegará daqui a pouco a estrada macia dos outros calendários, cheios das mesmas louvaminhas dos anos eleitorais pela galáxia e seus espetáculos tardios de estrelas platinadas do antigamente da música pop internacional, turnês milionárias à cata dos fãs sobreviventes. Fichas limpas, sopapos, homens bombas, conferências ecológicas, eletroeletrônicos que se superam numa velocidade made in china através das paraguaias desta vida adulta de arcaicas civilizações metalóides estéreis, portas abertas ao sonho impossível dos tobogãs, nos parques temáticos industriais do paraíso, vistas panorâmicas, aeroportos cheios, palavras, dramas, profusão de cores, seca na Amazônia, invernos rigorosos na Europa, pouco humorismo no mundo, música, muita música tecnológica, computadores, olhos queimados e gestos solitários, farra de madrugadas e cores esplendorosas. Luas de cristal líquido invadiram a cena, os tetos e corredores, filmes e livros guardados nas gavetas abafadas de um passado que sacode as trilhas e sai sozinho, agora trazido ao meio das multidões vagando à procura das coisas largadas em praias desertas, abandonadas.
Via isso desse jeito, nesta tarde escura de um Cariri molhado, após os dias explosivos provocados pelo tráfico em algumas favelas cariocas. Tocaram fogo em carros, na Linha Vermelha, e as autoridades abriram a caixa de pandora das ações táticas, matéria prima do sensacionalismo grupal, nos trópicos de um País esperançoso pelo Ano Novo que marcou a data de chegar para poucos dias depois do Natal.
Refletir nessas fases torna-se, pois, necessário inevitável, aos que vivem nas vagas a espera das horas neutras, impasses e gestos enfastiados, crianças, adolescentes, jovens que ainda multiplicam os milhões do novo censo para conhecer a cara do futuro.
Foi isto o que disse ao meu amigo secreto no Cariricaturas, ao terminar o ano de 2010.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Gente, isso é literatura !


Abraços pra vc e o seu amigo secreto.