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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Quando o Rio Grangeiro ainda era o Rio das Piabas – por Napoleão Tavares Neves (*)

Mesmo local, duas épocas, dois cenários...










À esquerda o Rio Grangeiro (ou das Piabas) na década de 30. À direita o Rio Grangeiro em 29 de janeiro de 2011 (foto atual de Wilson Bernardo)

Por que este bonito nome: Rio das Piabas? Porque os poços do rio que ficavam – depois das valentes enxurradas – eram cheios de piabas que eram vistas em cardumes pela transparência das límpidas águas.
Era 1943 e eu ginasiano, residindo no Pensionato de dona Dourinha Couto Gouveia, situado à Rua José Carvalho, fui algumas vezes ver a cara do Rio das Piabas nas suas cheias invernais. Mas eram cheias bem comportadas, contidas pelas enormes pedras que protegiam da erosão as ribanceiras do rio.
O homem tanto maltratou o rio que ele ficou furioso, rebelou-se e pagou na mesma moeda o maltrato recebido!
Os canaviais do pé da Serra que retinham parte das águas das chuvas no solo dos sítios, sumiram! As estradas de terra que embebiam as águas das chuvas deram lugar às estradas calçamentadas, quando não asfaltadas. Surgiram os condomínios de luxo, clubes sociais, vilas e casarões e com isto as águas pluviais “perderam o cabresto”, na linguagem bem rural!
Tudo isto foi maltrato para o outrora manso Rio das Piabas. Não satisfeito, o progresso urbanizou o rio, fazendo o canal de concreto e, obviamente, o rio não gostou e as piabas muito menos. De tudo isto nasceu a catástrofe de 28 de janeiro próximo passado. Maltratado e enfurecido, como um bravio touro amordaçado pelo progresso, o pacato Rio das Piabas, atual canal do Rio Grangeiro, assim respondeu nos maviosos versos de José Peixoto Júnior, outrora, como eu, ginasiano do saudoso Ginásio do Crato:
“O céu abriu-se em buraco,
Por trás da nuvenzinha
Que vazou tudo o que tinha
Enchendo casa e barraco,
De pau grosso fez cavaco,
E o rio pelo maltrato,
Deixou um triste retrato
Nunca visto por aqui:
O miolo do Cariri
Desceu nas águas do Crato!”
(*) Napoleão Tavares Neves, médico, escritor, historiador, memorialista e cronista, residente em Barbalha (CE)

4 comentários:

wilson bernardo disse...

Armando Rafael,como sempre vc tem a sencibilidade de prever os momentos de reflexões.EU Fui muito agraciado no momento da foto,refiz o passado desfeito pela velocidade urbana dos homens,é como se um espirito de luz me agraciasse no momento da fotografia.Abraços carissimo amigo.

Claude Bloc disse...

Armando,

Sua postagem traz evidentes as marcas da hitória e o lamento sofrido de quem foi vitimado pela enchente.
Eu andei muitas vezes pelo leito do Rio das Piabas e me lembro dele, antes de ser domado pelo canal, ainda raso, mas largo, cheio de pedras redondas e de areia limpa.

Seu curso natural foi redirecionado e agora o rio deu sua resposta à teimosia do homem. A natureza é implacável.

Abraço,

... e obrigada pela presença.

Claude

CARIRI CANGAÇO disse...

Gostaria de abraçar o querido e estimado amigo Napoleão Tavares Neves, um ícone em todos os sentidos, de nosso Cariri.

Grande abraço ao amigo Armando por nos trazer esse maravilhoso artigo do nosso mestre.

Severo

Edilma Rocha disse...

Armando Rafael,

Obrigada pela postagem do texto de Napoleão Tavares Neves.
Estamos honradas com a sua atenção.

Abraço !