Era o pior palavrão que eu conhecia até os meus nove anos de idade. A qualquer aborrecimento, não media palavras e mandava todo o mundo ir conhecer esse terrível lugar: “a baixa da égua.” A minha mãe ralhava comigo sempre que eu pronunciava esse horrível nome. Pronto, era o suficiente para que eu entendesse que realmente era um palavrão tão feio, de modo que, a quem eu dirigisse tamanha ofensa era realmente digno dela.
Corria o ano de 1954, eleições municipais em Crato. Como sempre acontecia nessas oportunidades, a disputa era bi polarizada entre o Dr. Ossian Araripe, candidato a prefeito pela a UDN, partido ao qual meu pai militava e Sr. Pedro Felício Cavalcante pelo PSD. Não acompanhava os comícios, mas torcia pela vitória do Doutor Ossian para prefeito do Crato e do candidato e depois governador do Estado, Paulo Sarasate, a quem fiz questão de conhecer pessoalmente.
Naquela eleição, Tália Márcia, uma prima dos meus pais, que eu não conhecia ainda, era uma das mais aguerridas “cabo eleitoral” do Sr. Pedro Felício. E por causa de uma visita dela à nossa casa em pleno período eleitoral, correu um boato pela cidade de que o meu pai havia “virado”, isto é, mudado de partido em plena campanha política. Por isso, numa noite em que eu estava sozinho em casa, um carro buzinou insistentemente defronte do nosso portão. Fui atender e nele havia duas senhoras, que me perguntaram: “Tália Márcia está aí? Nós queremos falar com ela.” Respondi que não havia nenhuma Tália Márcia, somente eu estava em casa. Elas puseram o carro em movimento e desapareceram. Não menos de dez minutos depois voltaram com a mesma pergunta. Dava-lhe a mesma resposta. Teve uma terceira e quarta vez e eu já estava perdendo a paciência, quando nominei para ela os nomes de todas as minhas irmãs e das demais pessoas da casa e que, portanto, não havia nenhuma Tália Márcia. Na última vez, não medi esforços, enchi os pulmões e respondi bem alto: “Vão para a baixa da égua!” Naquela noite fui dormir tranqüilo e aliviado. No dia seguinte, ao despertar, meu pai veio ao meu encontro com um bonito cinturão. Pensei que fosse um presente que ele iria me dar, quando ouvi sua voz em tom muito grave dizer: “você chamou dona Nair, esposa do Dr. Décio Teles Cartaxo, o prefeito e dona Maria do Céu, a mulher do nosso futuro prefeito de “filhas de uma égua!” E o cinto bateu forte no meu corpinho ainda franzino. Algum vizinho um tanto quanto surdo, dizendo-se muito divertido, contou a história ao meu pai, trocando os nomes por outro que não era do meu unitário repertório de palavrões.
Depois me contaram que a “Baixa da Égua” é um lugar do município do Crato, existente por trás do Serra onde está a estátua do padre Cícero. Claro que jamais fiz questão de conhecer tal lugar, de modo que se existe ou não, ainda hoje me trás más recordações.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Corria o ano de 1954, eleições municipais em Crato. Como sempre acontecia nessas oportunidades, a disputa era bi polarizada entre o Dr. Ossian Araripe, candidato a prefeito pela a UDN, partido ao qual meu pai militava e Sr. Pedro Felício Cavalcante pelo PSD. Não acompanhava os comícios, mas torcia pela vitória do Doutor Ossian para prefeito do Crato e do candidato e depois governador do Estado, Paulo Sarasate, a quem fiz questão de conhecer pessoalmente.
Naquela eleição, Tália Márcia, uma prima dos meus pais, que eu não conhecia ainda, era uma das mais aguerridas “cabo eleitoral” do Sr. Pedro Felício. E por causa de uma visita dela à nossa casa em pleno período eleitoral, correu um boato pela cidade de que o meu pai havia “virado”, isto é, mudado de partido em plena campanha política. Por isso, numa noite em que eu estava sozinho em casa, um carro buzinou insistentemente defronte do nosso portão. Fui atender e nele havia duas senhoras, que me perguntaram: “Tália Márcia está aí? Nós queremos falar com ela.” Respondi que não havia nenhuma Tália Márcia, somente eu estava em casa. Elas puseram o carro em movimento e desapareceram. Não menos de dez minutos depois voltaram com a mesma pergunta. Dava-lhe a mesma resposta. Teve uma terceira e quarta vez e eu já estava perdendo a paciência, quando nominei para ela os nomes de todas as minhas irmãs e das demais pessoas da casa e que, portanto, não havia nenhuma Tália Márcia. Na última vez, não medi esforços, enchi os pulmões e respondi bem alto: “Vão para a baixa da égua!” Naquela noite fui dormir tranqüilo e aliviado. No dia seguinte, ao despertar, meu pai veio ao meu encontro com um bonito cinturão. Pensei que fosse um presente que ele iria me dar, quando ouvi sua voz em tom muito grave dizer: “você chamou dona Nair, esposa do Dr. Décio Teles Cartaxo, o prefeito e dona Maria do Céu, a mulher do nosso futuro prefeito de “filhas de uma égua!” E o cinto bateu forte no meu corpinho ainda franzino. Algum vizinho um tanto quanto surdo, dizendo-se muito divertido, contou a história ao meu pai, trocando os nomes por outro que não era do meu unitário repertório de palavrões.
Depois me contaram que a “Baixa da Égua” é um lugar do município do Crato, existente por trás do Serra onde está a estátua do padre Cícero. Claro que jamais fiz questão de conhecer tal lugar, de modo que se existe ou não, ainda hoje me trás más recordações.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
11 comentários:
Carlos,
Uma vez aperriei tanto minha vó Donana, que ela mandou-me pra baixa da égua.
Surpresa perguntei-lhe :
Baixa da égua ? A senhora falou nome feio ?
Ela suavisou o rosto , de raiva passada , respondeu-me :
Baixa da égua é um lugar que fica perto de Missão Velha.
E não importa a Geografia... Baixa da égua é nome corriqueiro no linguajar do cratense de agora e das antigas.
Interessante. Não conhecia a origem dessa expressão, que para mim sempre foi sinônimo de um local para onde se mandam as pessoas chatas ou inconvenientes. Tal como a Caixa Prego ou Conchinchina.
Muito bem o texto, bem à altura da obra espirituosa de Carlos Esmeraldo.
Carlos Eduardo,
É sempre bom ler textos bem humorados. Estava com saudade. Me mandaram muito pra China, mas não achei o caminho. Quem sabe a baixa da égua fosse melhor. (risos)
Enfim, seja sempre bem vindo.
Abraço,
Claude
À Socorro, Carlos Rafael e Claude
Obriado pelo incentivo. Isto nos anima a continuar riscando os papéis com alguma lorota.
Conforme Armando Rafael me assegurou, a Baixa da Égua mudou de nome. Agora se chama Monte Alverne. Não era onde me tinham informado. Lá parece ser um lugar chamado Baixa Danta.
Abraços
meu querido tio,fazia tempo que nao ria tanto,e como gosto tanto de voce ,fui trabalhar "na baixa da egua",hoje monte alverne.
abraços p vc e magali
Oi João Marni
Votos de que você vá à "Baixa da Égua" todos os dias.
Abraços e um beijo para Fátima.
Do tio amigo!
Li e me diverti com o seu conto. Obrigada!
Anita
Eu que agradeço. Partindo de uma poetisa como você, como claude e Socorro Moreira é um incentivo muito grande.
Estou me preparando para tirar a cidadania
Cratense, toda e qualquer "insight" vai ser importante e bem recebido.
Bom texto e bom humor.
Cesar Augusto
Carlos,
Vamos alfabetizar o César , na linguagem piquizeira ?
Prezado Cesar Augusto
Muito obrigado pelo seu comentário.
Venha conhecer o nosso Crato e o roer o nosso piqui.
Abs.
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