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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 26 de julho de 2009

RAZÃO E/OU SENSIBILIDADE? EDUCAÇÃO, MORAL E ÉTICA EM CRISE NO MUNDO MODERNO



“Procurando as causas, ou melhor, refletindo sobre a crise da educação brasileira, a professora de pós-graduação em Filosofia da Universidade Gama Filho e da pós-graduação em Educação da Universidade Católica de Petrópolis, professora Vera Rudge Werneck, cuja carreira foi consolidada na PUC-RJ e na própria Universidade Gama Filho, procura respostas relacionadas à falência dos valores do homem. Vera Werneck, que também é diretora do Colégio Padre Antonio Vieira, no Rio de Janeiro, já publicou outros dois livros em que procura considerar criticamente sobre a ideologia na educação e um estudo sobre a fenomelogia centrado na educação.

Segundo a autora, a crise da educação brasileira é pensada à luz dos conceitos filosóficos da educação, do valor, do papel do não valor e do contravalor, a educação da sensibilidade, a cultura como locus onde o valor é instaurado, os tempos e marcos, assim como a avaliação da educação. Em linhas gerais, Vera Werneck aponta como principal “causa” da crise da educação no Brasil outra crise: a dos valores, da ética e da moral. Segundo esse ponto de vista, as instituições sociais, como a escola, e a própria sociedade, são alvo de uma crise dos valores na sociedade brasileira.

Como filósofa, Vera Werneck utiliza categorias de pensamento típicas da filosofia, como ser, conhecimento, sensibilidade, razão, etc. Para os não-filósofos, algumas dessas categorias ganham um novo significado, tendo centralidade em processos explicativos concretos e racionalmente explicáveis. O que Vera faz é atribuir a crise da educação a uma falta ou uma carência de valores, ética e moral, que não pode ser verificada factualmente ou empiricamente. É verdade que a maior parte dos escritos dos sociólogos também carece da possibilidade de verificação e testagem empírica. Mas isso não importa tanto aqui.

Segundo a autora, as primeiras problematizações dos filósofos estariam centradas na razão e no próprio ser do homem, mas não no seu valor. Isto irá, segundo Vera, gerar toda a sorte de problemas que se verá manifestar na educação. Para a autora, o uso da razão permite ou permitiu ao homem pensar a libertação da natureza, entre outras coisas, como sua natureza, seu processo de humanização, sua autodeterminação, enfim, de tornar-se cada vez mais autônomo e livre para exercer sua vontade sem coações. Mas esse processo de conhecimento de si mesmo, ou da própria natureza,com a qual o homem mantém relações substanciais e espirituais, é prejudicado ou inviabilizado pela forma como o próprio homem trata das questões ligadas aos valores. Os obstáculos, a plena realização do homem, Vera Werneck denomina de contravalores.

A idéia de que o homem é diferente dos animais, pela sua capacidade racional, de abstração e de planejamento, não significa que seu processo de transformar-se e reconhecer-se como homem esteja concluído: não há uma etapa final, ou seja, um telos, que será alcançada pela humanidade algum dia, como pensaram muitos cientistas sociais no final e começo do século XX. O processo de pôr a sensibilidade de lado e eleger a razão como a soberana das explicações e das inter-relações humanas, como argumenta a autora, tornou os homens e suas relações em objetos e coisas.

Como argumenta a autora, acerca do predomínio da razão, este é apenas um dos níveis em que o homem pode se pensar como distinto dos outros seres vivos. Mas há outros que, tipicamente, ainda permitem uma diferenciação da natureza, sem comprometer o estatuto de homens e não animais: é a emoção e o sensível. Enfim, o que está em jogo é o sensível, a sensibilidade , a emoção, o sentimental, o componente não racional que também compõe este homem. Por exemplo, argumenta a autora, para Platão, alcançar o Bem, que traria a felicidade, seria uma questão transcendental em direção à essência que é a origem dos demais valores. O problema, para a autora, está que esse conhecimento transcendental do Bem somente seria alcançado pela razão, e não pelo sentimento ou a sensibilidade. Ainda segundo a autora, filósofos como Kant, por exemplo, admitindo os limites do conhecimento da essência dos objetos - que são múltiplos particulares quando conhecidos pelos sentidos -, fazem uso de categorias do entendimento como tempo, espaço, como a priori da sensibilidade, que é heterogênea e particular. Outros, como Bacon, propõem que os homens afastem os Ídolos, elementos capazes de interferir no processo de conhecimento da razão. O que esses filósofos têm em comum refere-se ao fato de privilegiarem a razão como forma de conhecimento que permita apreender o objeto em sua essência, ou em sua substância. A relação é entre o sujeito Segundo Vera, o mundo grego tinha como valor maior a própria noção de razão. Ainda segundo a autora, o Ocidente herdou essa idéia e a levou às últimas conseqüências.



O que Vera Werneck propõe, em poucas palavras, é dar centralidade à sensibilidade, sem descartar a razão, a fim de que os valores pelos quais os homens orientam suas ações possam reconsiderar seu próprio estatuto de homem. Ler “Razão (sic) e Sensibilidade” [“Educação e Sensibilidade] é visualizar uma outra dimensão do ser humano”(p.6).

SIQUEIRA, Euler de, “Educação, ética e moral: crise geral”, Jornal Tribuna da Imprensa, 25 de Junho de 1997, Rio de Janeiro, Caderno Livro, p.6.

3 comentários:

socorro moreira disse...

Com sensibilidade não se perde a razão.

Bernardo Melgaco disse...

Sim...é verdade

socorro moreira disse...

Bernardo,

Acabei de reler o teu texto. Parabéns pela escolha do tema. Rico conteúdo !