Criadores & Criaturas
"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata."
(Carlos Drummond de Andrade)
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terça-feira, 25 de agosto de 2009
A VIAGEM DE TREM – AUTOR DESCONHECIDO
Dia desses, li um livro
que comparava a vida a uma viagem de trem.
Uma comparação extremamente interessante, quando bem interpretada.
Interessante,
porque nossa vida é como uma viagem de trem,
cheia de embarques e desembarques,
de pequenos acidentes pelo caminho,
de surpresas agradáveis com alguns embarques
e de tristezas com os desembarques...
Quando nascemos, ao embarcarmos nesse trem, encontramos duas pessoas que,
acreditamos que farão conosco
a viagem até o fim:
nossos pais.
Não é verdade.
Infelizmente, em alguma estação,
eles desembarcam, deixando-nos
órfãos de seus carinhos, proteção, amor e afeto.
Mas isso não impede que, durante a viagem,
embarquem pessoas interessantes
que virão ser especiais para nós:
nossos irmãos, amigos e amores.
Muitas pessoas
tomam esse trem a passeio.
Outras fazem a viagem
experimentando somente tristezas.
E no trem há, também, outras que passam
de vagão em vagão, prontas para ajudar quem precisa.
Curioso é considerar que alguns passageiros que nos são tão caros acomodam-se em vagões diferentes do nosso.
Isso nos obriga a fazer essa viagem separados deles. Mas isso não nos impede de, com grande dificuldade, atravessarmos nosso vagão e chegarmos até eles.
O difícil é aceitarmos que não podemos sentar ao seu lado, pois outra pessoa estará ocupando esse lugar.
Essa viagem é assim: cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, embarques e desembarques.
Sabemos que esse trem jamais volta.
Façamos essa viagem da melhor maneira possível, tentando manter um bom relacionamento com todos, procurando em cada um o que tem de melhor, lembrando sempre que,
em algum momento do trajeto poderão fraquejar,
e, provavelmente, precisaremos entender isso.
Nós mesmos fraquejamos algumas vezes.
E, certamente, alguém nos entenderá.
O grande mistério
é que
não sabemos
em qual
parada
desceremos.
E fico pensando:
quando eu descer desse trem sentirei saudades? Sim.
Mas me agarro na esperança de que,
em algum momento, estarei na estação principal,
e terei a emoção de vê-los chegar com sua bagagem,
que não tinham quando embarcaram.
Deixar meus filhos viajando sozinhos será muito triste. Separar-me dos amigos que nele fiz, do amor da minha vida, será para mim dolorido.
E o que me deixará feliz é saber que,
de alguma forma, eu colaborei para que
essa bagagem tenha crescido e se tornado valiosa.
Agora, nesse momento, o trem diminui sua velocidade para que embarquem e desembarquem pessoas.
Minha expectativa aumenta,
à medida que o trem vai diminuindo sua velocidade...
Quem entrará? Quem sairá?
Eu gostaria que você pensasse no desembarque do trem, não só como a representação da morte, mas, também, como o término de uma história,
de algo que duas ou mais pessoas construíram
e que, por um motivo ínfimo, deixaram desmoronar.
Fico feliz em perceber que certas pessoas como nós,
têm a capacidade de reconstruir para recomeçar.
Isso é sinal de garra e de luta, é saber viver,
é tirar o melhor de "todos os passageiros".
Agradeço muito por você fazer parte da minha viagem, e por mais que
nossos assentos não estejam lado a lado,
com certeza, o vagão é o mesmo.
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3 comentários:
Esse texto é um primor. Poderia ter sido escrito por você.
Minha mãe usa a imagem de um barco, ao invés do trem. Ela reza a mesma oração. Vou dizer pra ela , que coloque Bernardo , no seu barco.
Bernardo, gostei imensamente so texto.
Como sempre os textos que traz são feitos para harmonizar nossos humores...
Devo-lhe isto.
Abraço,
Claude
Obrigado!
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