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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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sábado, 26 de setembro de 2009

Amores clandestinos ,sessão das quatro , no Cine cassino - Por Socorro moreira


O filme “Amores Clandestinos” foi sucesso nos anos 60. Vinha bem a calhar, dentro do contexto da época.
Depois de comprar o ingresso, passar pelo porteiro, delegado de menor, entrávamos na penumbra da sala, e esperávamos o apagar de todas as luzes.
O único que conhecia todos os segredos era o Lanterninha. Focava cadeiras vazias, e por “descuido”, aquelas ocupadas pelos casais que fugiam da luz, dos olhos da família, do preconceito social, e da própria timidez.
Tinham naturezas diversas: amores impossíveis, amores nascentes e crescentes, amores dos amassos (puro cheiro, puro sarro), amores ingênuos e trêmulos; amores despudorados, explícitos na “safadeza” do poder hormonal. Todos eram instigados pela cumplicidade de um escuro técnico, aconchegante.
Muitas “pernas gordinhas”, (como a canção do Tiago Araripe), molhadas, sedosas, balançavam pés nervosos. Beijos de língua, de pescoço, de outras partes, outros pedaços do corpo como mãos e bochechas do rosto!
Enlevada no enredo do filme, desligava-me da terra, mas perdia meu olhar, muitas vezes, na doce tensão da espera.
Um dia, ele chegou, e sentou-se numa fila adiante de mim. Encostou sua cabeça numa peruca canecalon, loura com a da Marilyn. Meus olhos desviados da tela ficaram lá, pregados e chorosos, naquele blandô total, que recebia afagos e abraços.
Quando a fita anunciou o “THE END”, sorrateiramente mudei de lugar, e aproximei-me mais um pouquinho, pra descobrir na saída, se era azul, os olhos daquela diva. O moço correu apressado, antes do acender das luzes. Enfim tudo claro! Eram dois olhos morenos. Olhos conhecidos, subservientes, corajosos e apaixonados.
Covarde, o meu gato!
Estava lá, a musa de tantos brotos!
Era assim o cotidiano do maior entretenimento da City. Divertia, aproximava, e escondia. Transportava os nossos sonhos para o glamour hollydiano. Se não existisse a censura do Bispo, colada no mural do Café Crato, acho que não teria perdido nenhum drama escandaloso, que o cinema ensinava. Mas eu estava lá, em todos de Marisol. Joselito, Shirley Temple, Walt Disney...
Nunca, em “Amores Clandestinos” – (clássico com Sandra Dee e Troy Donahue – trilha sonora - Summer Place... Linda!).
Namorei sem pegar na mão, só no roçar dos braços , mas não nego a presença do tesão, nas orelhas afogueadas. Namorei com cochichos no pé do ouvido, com mordidas no pescoço, e balas pepper ou , zorro. Namorei com os meus ídolos: puros, românticos, sofredores, heróicos, belos, e gentis.
No Cinema não faltava:
Assovios
Suspiros
Gemidos
Choros... Alguns até convulsivos. (Chorei assim, no filme Irmão Sol e Irmã Lua, e até na Paixão de Cristo).
A vida se harmonizava na sala de projeção.
Tempos sem analistas, psiquiatras...
Tempos de sessão de risos com Jerry Levis, Cantinflas, o Gordo e O Magro, Golias e Zé Trindade.
O Cassino de hoje é um campo de energia obscura. Ficou apenas o escurinho do cinema, na beleza deteriorada.
Perdemos a cortina grená. O lanterna iluminando a paixão dos casais.
Foram-se o misturado dos perfumes, o estouro das bolas de ping-pong, na falta do beijo amado.
Era bom até cochilar de viver, naquele ninho!
Nada mais excitante, aventureiro e libidinoso do que um encontro clandestino, na sessão das quatro, no Cine Cassino.

Socorro Moreira

Um comentário:

Cesar Augusto disse...

Vixxxe Socorro, esse film Summer Place (Amores Clandestinos), marcou uma fase da minha vida....por "causo " disso, vivia apaixonado....mas essa fase já se dissipa no tempo....

beijos,

Cesar Augusto.

ps: A trilha sonora é espetacular.