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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Doenças de Cearense - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Ofereço este texto ao Nilo Sérgio que tem nos ofertado sabedoria sobre a medicina e seus "dilemas".

Outro dia recebi e-mail com a nomenclatura de doenças no falar cearense. Na verdade no falar nordestino. Fora algumas escritas ao som da voz como “dordói” ao invés de “dor-d´olhos”, fiquei surpreso com a quantidade de palavras dicionarizadas pelo Houaiss. E o mais interessante como era de se esperar a grande maioria não se tratava de regionalismo. São palavras arcaicas, de séculos passados que ainda hoje perduram na linguagem oral.

Evidente que muitas palavras são de uso popular e não se adéquam ao linguajar médico, com, por exemplo: “espinhela caída. Mas mesmo assim dão conta da topografia da doença como “dor nos quartos” e “pé desmentido.” Mas vamos a alguns exemplos da lista que recebi.

FARNIZIM é o mesmo que farnesim - frenesi; PASSAMENTO (mesmo que morte); CAXINGAR é o Coxear; COBREIRO DE PÉ se trata de cobrelo, cobra pequena, o formato da erupção na pele; CURUBA dicionarizada e origina-se do tupi. A palavra TERSOL é uma grafia trocada de uma palavra que existe com este nome mas que significa “toalha pequena que o sacerdote usa na missa para enxugar as mãos”. Na verdade houve uma troca de grafia da palavra TERÇOL que é efetivamente um termo da oftalmologia. Para a palavra PILÔRA existe o termo pilora no dicionário como sinônimo de cachaça e talvez isso guarde sentido com o termo nordestino de tontura ou desmaio. A palavra ESTALICIDO é o mesmo que estalicídio “coriza nasal” que é uma variação de estilicídio de origem latina; o interessante é que existe a palavra “estalecido” que significa aquele que sofre de tuberculose ou asma. ALÔJO dicionarizada como alojo que é um regionalismo mineiro para vômito e vem de alojar; ÍNGUA originária do latim com o significado de virilha, Já DENTIQUÊRO é uma palavra não dicionarizada, significaria dente do siso – aliás o erro na internet sobre a grafia de siso é enorme (cizo, ciso) é que a palavra origina-se do latim com o significado de senso ou da maturidade do juízo.

A cultura ibérica está profundamente associada a estes vocábulos populares. Por exemplo REIMOSO é dicionarizado e não é regionalismo, origina-se de reima que já é a mesma coisa que reuma – catarro ou o líquido escuro que escorre das talhas da azeitona; ZOVIDO ESTOURADO (a graça é a escrita. Aliás a famosa brincadeira zói, zunha, zôvido, zapragata, deve se originar da ligação do plural necessário nestas palavras “os olhos”, “as unhas”. BERRUGA é um regionalismo da palavra verruga). DIFRUÇO é o mesmo que defluxo de origem latina “escoamento, escorrimento. GÔTO INFLAMADO (goto é dicionarizada como uso informal é o mesmo que glote. PÁ QUEBRADA ou apá que é são as carnes mais larga e carnuda da perna dianteira do gado, é carne de segunda).JUÍZO INCRIZIADO (poderia ser de encruzilhado, encruzado?). DESENCHAVIDO (dicionarizado como desenxavido que é o mesmo de desenxabido significando coisa sem sabor, sem interesse; monótono etc. origina-se do latim insípido. PIRA dicionarizado como O mesmo que escabiose, originada do tupi). INTANGUIDA (de entaguir, ficar hirto de frio.; SAPIRANGA NOS ÓI (sapiranga é dicionarizado como regionalismo, se origina do tupi esapi´ranga, em que esa é olho e piranga vermelho. INQUIZILA (mesmo que enquizilar ou quizília que pode ser entendido por amofinação). ESQUENTAMENTO (é um tabuísmo para gonorréia). DOR NO MUCUMBÚ (dicionarizado sem assento, é mesmo que cóccix, origem indígena. ENTOJO (dicionarizado de antojar, enjôo); TIRISSA (talvez de inteiriço que não sofre interrupção); LUNDU (no sentido de saúde, amuado, mau humor é dicionarizado); ALGUEIRO (dicionarizada como argueiro); ESTOPOR (dicionarizado como estupor); GÔGO (dicionarizado sem acento como significado de gosma da galinha ou singamose); CALOMBO (dicionarizado e de origem banto).

6 comentários:

socorro moreira disse...

Di Vale,
Minha avó teve 10 filhos, e só vinfgaram 4. pedeu quase todos , da noite pro dia, estoporados. Nunca entendi esse mal. Seu pai havia morrido de volvo... E ela explicava que era nó na tripa... Imagina !
Eu temo a doença, mas do que a morte.


Texto muito bom, viu ? Gostei !
Agora dispeço-me por hoje. Até amanhã , tenham uma noite de muita paz.


Abraços.

socorro moreira disse...

* Do
*Vingaram

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Pode voltar. Isso são horas de moça donzela sair dos nossos olhares vigilantes?

Nilo Sergio Monteiro disse...

José "do vale do Cariri". Vc se foi , mas nunca saiu. Vc continua nessa "baia de mata verde" não nos deixando esquece-lo nem a pau!
Olha meu amigo adorei o texto e dei sonoras "gaitadas". Aprendi muitas , dicionarizadas ou não.
Vc está intimado a APARECER no Cariri no Cinquentenário do Madrigal. E intimação de amigo é coisa séria!
Ah! Sabe quem encontrei hoje na Clínica? Nada menos que nossa querida Dra. CLÁUDIA GALAMBA FERNANDES....conversamos e rimos até umas horas. Lógico que falei sobre vc e os Blogs. Tá a fim de entrar nessa confraria aqui. Vou pedir a Socorro pra enviar o convite.
abraço fraterno

Claude Bloc disse...

Zé do Vele,

Faltou a tal de PEREBA chamada de FERIDA BRABA.E também
- TOSSE BRABA (coqueluche)
- PAPEIRA (cachumba)
- AGONIA NO JUÍZO - (ANSIEDADE?)
- IMPINJA - (dermatose, impigem)
- MANICUNIA - (manchas roxas que aparecem em certas pessoas quando têm raiva)
-BIXIGA ROXA, BIXIGA LIXA, BIXIGA BRABA (varíola)

Mas ó, faz mal comer abacaxi e tomar leite viu?

Tem até um ditadinho que diz: "sai daí abacaxi que eu tomei leite"

etc etc etc...

Ai, ai... Foi bom demais rever esses termos...

Desopilei.

Abraço,

Claude

Anônimo disse...

Tinha muito o que dizer sobre doenças, ais e gemidos dos moradores dos sítios da Chapada do Araripe. Eles sofrem de tipigoitana, vertruz, instropedência do bode, estopor galopão, mas não pude me conter de escandalosas risadas, quando o nosso Zé do Vale admoesta Socorro Moreira que, ao tentar se despedir de um dia causticante no controle do blog, diz à moda nossa do sertão: "pode voltar. Isso são horas de moça donzela sair dos nossos olhares vigilantes !
Concordo com o Nilo Sérgio: José do Vale Feitosa nunca se arredou das plagas caririseiras, como também Ronaldo Brito, Hermano e os Valdivinos de Brito,Rosemberg Cariri, Jeferson Júnior, Francisco Salatiel, Elmano Rodrigues, Hermano Penna e tantos outros...