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domingo, 27 de setembro de 2009

O poder das emoções sobre o coração - Por Cilene Pereira

Alegria, raiva, tristeza, ansiedade, paixão. A ciência começa a explicar como os sentimentos podem proteger ou piorar a saúde cardíaca

GANHO Segundo Bacal, bons sentimentos ajudam na fabricação das protetoras endorfinas
O coração é o símbolo das emoções. É como se todos os nossos sentimentos por ele passassem e nele deixassem suas marcas, as boas e as ruins. Milenar, essa concepção tem servido de matéria-prima para os poetas ao longo da história. Agora, a ciência está mostrando que a influência das emoções sobre o coração vai muito além da beleza da poesia. Novas pesquisas começam a revelar que amor, raiva, alegria, irritação, tristeza e toda a vasta gama de sentimentos experimentada pelo ser humano promovem modificações orgânicas de tal dimensão que podem contribuir de maneira decisiva para o vigor ou a falência do órgão. Pela primeira emovez, essas descobertas dão as pistas do real peso das emoções sobre a saúde cardíaca. E forma-se pelo mundo uma corrente de especialistas que defende a inclusão de sentimentos como ansiedade e depressão na lista dos fatores de risco para males cardiovasculares. Eles estariam ao lado do colesterol, da hipertensão, do sedentarismo e de outras ameaças conhecidas.


No ritmo certo
A secretária Sueli Balbino Ponte, 52 anos, enfrentou fortes sintomas de síndrome do pânico por mais de 20 anos. “Era assustador. Sentia um aperto no coração e ele batia de um jeito que parecia que ia sair pela boca. Cheguei a pensar que morreria”, relembra. Ela já não saía mais de casa quando foi se tratar na Universidade Federal de São Paulo. “Fiz terapia e sessões de biofeedback, um exame que ajuda a entender como o corpo e o coração reagem às emoções”, conta. “Também aprendi exercícios de respiração para controlar a ansiedade e os batimentos cardíacos. Recuperei minha qualidade de vida”, conta Sueli.

O risco da ansiedade
Empiricamente, médicos e cientistas intuíam, há décadas, que os sentimentos tinham um papel na manifestação das enfermidades cardíacas. Eles baseavam suas inferências nas observações que faziam da evolução dos pacientes, que podia ir melhor ou pior de acordo com o estado emocional. Há cerca de cinco anos, porém, começaram a surgir os primeiros estudos mais consistentes confirmando a associação entre a mente e o coração. Hoje, os trabalhos sobre o tema se multiplicaram e apresentam resultados tão coincidentes quanto preocupantes. Tome-se como exemplo os mais recentes. Na edição de janeiro do jornal do Colégio Americano de Cardiologia - uma das entidades mais importantes da área - está publicado um artigo revelando que a exposição crônica à ansiedade e aos outros sentimentos a ela conjugados, como o medo, eleva em 30% a 40% a chance de um indivíduo saudável sofrer um infarto. "O risco que constatamos diz respeito somente à ansiedade. Está além do que poderia ser explicado pela pressão arterial, obesidade, pelo fumo ou outros fatores", explicou à ISTOÉ Biing-Jiun Shen, coordenador do trabalho e professor de psicologia da University of Southern California, onde o estudo foi realizado. As conclusões foram baseadas em avaliações feitas em 735 homens saudáveis, acompanhados durante 12 anos.

Outros trabalhos intrigantes dizem respeito ao papel da depressão. Há três meses, médicos do departamento de psiquiatria da Universidade de Colúmbia (EUA) divulgaram estudo no qual mostram que a doença praticamente triplica o risco de morte após um infarto. E no início do mês, cientistas de instituições americanas reconhecidas mundialmente, como Universidade de Harvard, de Yale e da Clínica Mayo, publicaram um artigo no Journal of Affective Disorders revelando que os efeitos negativos da doença sobre o coração permanecem mesmo após cinco anos. "Achávamos que a influência era mais forte até os primeiros seis meses depois do infarto. Mas não foi isso o que descobrimos", explicou Robert Carney, professor da Universidade de Washington e líder do estudo.

As investigações sobre o impacto da presença concomitante de ansiedade e depressão são ainda mais assustadoras. É possível ter uma idéia de quanto essa combinação pode ser uma bomba para o coração a partir de trabalhos como o da Universidade de Montreal, no Canadá, publicado na edição de janeiro do Archives of General Psychiatry. Após entrevistar 804 portadores de doença coronariana sob controle, os cientistas verificaram que aqueles que se mostravam ansiosos e depressivos apresentavam o dobro de possibilidade de sofrer um novo infarto em comparação aos que não manifestavam as mesmas emoções. Mas há outros dados preocupantes na pesquisa. "Descobrimos também que os pacientes cardíacos são mais depressivos e ansiosos do que a população em geral", contou à ISTOÉ Nancy Frasure Smith, coordenadora do trabalho.

Do cérebro ao músculo cardíaco
Ao mesmo tempo que crescem as evidências da atuação dos sentimentos sobre o coração, aumentam as investigações para elucidar de que maneira eles interferem no mecanismo cardíaco. Trata- se de uma pesquisa refinada, que se vale das ainda não muito numerosas informações sobre como se dão as ligações entre o cérebro, onde os sentimentos são processados, e o coração. Por enquanto, o que se sabe é que as emoções, tanto as boas quanto as ruins, disparam no cérebro dois processos. "O primeiro é o envio de sinais elétricos ao músculo cardíaco, via sistema nervoso. Isso vai repercutir no ritmo dos batimentos", explica Ricardo Monezi, professor de fisiologia do comportamento da PUC/SP e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo. "O segundo é a produção de uma cascata de substâncias químicas que terão impacto em várias estruturas do coração", afirma.

Embora os caminhos sejam os mesmos, as repercussões irão variar de acordo com a natureza da emoção. Até este momento, conhece-se mais o que ocorre quando elas são negativas. Irritação, mágoa e tristeza, por exemplo, causam a redução do calibre dos vasos sangüíneos, provocando a elevação da pressão arterial. Também há aumento da freqüência cardíaca. Só estes dois fatores já obrigam o músculo cardíaco a trabalhar mais. E se essa situação se torna crônica, o desgaste fica maior.


Fonte : revista ISTOÉ

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