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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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sábado, 5 de setembro de 2009

Os Padres da Sagrada Família - Por : Socorro Moreira

Pe .Francisco Xavier Nierhoff foi o primeiro vigário da Paróquia de S.Vicente Férrer, desmembrada da Penha, em fevereiro de 1943.
Justo nessa época , minha mãe , aos 14 anos ,acabava de chegar no Crato , vinda das brenhas do Piauí , para estudar na casa dos avós.
Depois da família , o primeiro grupo social do seu convívio foi a Igreja. Tornou-se filha de Maria , e escolheu o Pe. Xavier como o seu orientador espiritual.
Pe. Xavier fez o seu casamento, e o meu batizado. Teria sido o meu padrinho de batismo se, na época , fosse permitida ao clero tal responsa.
Quando nasci , em agosto de 1951, O Pe. Xavier já era o "Prefeito" do Seminário da Sagrada Família. Conta a minha mãe ( e eu tenho uma vaga lembrança) , que no dia em que dei os primeiros passos , ela levou-me ao seminário , e soltou-me para que eu fosse ao encontro do Pe.Xavier.
Cresci , enxergando no Pe. Xavier , uma pessoa da minha família. Visitávamos o seu refúgio nas festas de aniversário , e em todas as datas significativas.
Em 1964 ele foi transferido para o Seminário da Sagrada Família em Carpina-Pe. Até lá , visitei-o algumas vezes. De Carpina, foi nomeado Bisbo de Floresta (PE) .
Faleceu em 1988.
Até hoje faz parte da nossa memória afetiva.
Na época em que morou no Crato , trouxe da Alemanha uma irmã , que assumiu a cozinha do Seminário.
-Minha saudosa Dona Hilda.
Ela e a minha mãe se tornaram como irmãs.Todas às segundas-feiras , almoçava com a gente, porque era o dia em que fazia a feira de frutas e legumes do Colégio.
Com essa estreita convivência , conheci todos os padres, e seminaristas do Sagrada Família.
Incrível como a memória do José do Vale foi fiel às discrições.
Nas paralelas , enquanto paroquianos de S.Vicente , convivíamos com o Pe. Frederico , vigário sucessor do Pe.Xavier.Estudei meus primeiros anos ,no educandário , cuja direção dividia com Dona Anilda Arraes e Dona Alda. Muitos da minha geração viveram a mesma história .
Aquele Padre gorducho e bonachão tinha uma vitalidade e energia sem tamanho.Jogava balas pra meninada no recreio, puxava as nossas orelhas, cantava nas missas aos domingos... Famosa, a missa de 9 h , na Igreja de S.Vicente com o Pe. Frederico. Cantorias e sermões, em bons tons !De qualidade empreendedora ,incendiava a festa do padroeiro com quermesses, bingos , procissóes.Ninguém se colocava à margem. Íamos todas as noites prestigiar o evento. Geladeira à querosene . Pó de serra para manter o gelo... Era assim !
A renda da festa era aplicada na melhoria das intalações da igreja , e em obras sociais. O povo achava o dinheiro de volta, porisso ajudava com o maior prazer, sem fanatismo religioso.
Foi autoridade política e religiosa da maior competência .
- O Crato nem pode deixar de reconhecer.
Os dois já se foram.
Os dois permanecem..
Nomes gravados , independente do nosso credo.
A força espiritual fez seu alicerce !


"Uma curiosidade sobre a passagem de Dom Xavier , como Bispo de Floresta :

A História não se faz num dia. Os fatos, com o passar do tempo, muitas vezes podem ser melhor esclarecidos.Pensava eu — como muitos florestanos — que o ex-deputado Antônio Cavalcanti Novaes havia sido o primeiro proprietário do Ginásio “Padre Cláudio Novaes”.
verdade, aquele inteligente político não era proprietário do conceituado ginásio, fundado e posto a funcionar na segunda metade da década de 1950.
Deve-se esclarecer que o Ginásio “Padre Cláudio” (este era o seu primitivo nome) não pertencia a uma pessoa física e sim a uma sociedade beneficente, da qual faziam parte diversos personagens, entre os quais o Sr. Antônio Cavalcanti Novaes.
Este foi, não há dúvida, o responsável, o criador, o impulsionador, o fundador do educandário que tanto benefício trouxe aos jovens e à sociedade florestana.
Mas não era seu proprietário.Na condição de político influente, e tendo o irmão Manoel Cavalcanti Novaes como deputado federal pela Bahia, Toinho conseguia do governo as verbas necessárias ao funcionamento do Ginásio, num trabalho que não pode deixar de ser reconhecido pelos florestanos.
Já em pleno funcionamento, e quando os professores dedicavam-se a levar o melhor ensino à juventude florestana, foi acrescentada a palavra NOVAES ao nome do Ginásio.
O primitivo nome sugeria a imparcialidade política.
Assumindo a Diocese de Floresta, o bispo D. Francisco Xavier logo comprou o Ginásio “Padre Cláudio Novaes”.
Iniciava-se, naquele momento, uma nova administração. O número de alunos aumentou, registrando-se a presença de membros da família Ferraz que, até então, mantinham-se distanciados daquele Ginásio.
Era o meu caso.A Diocese de Floresta — segundo proprietário do Ginásio — recebeu um educandário cheio de dívidas trabalhistas e fiscais.
D. Francisco preocupou-se. Buscou soluções. A sua pobre diocese não poderia arcar com todas aquelas desepsas. Precisava de uma saída.Foi mantido contato com autoridades, no Recife. Foi-se à Secretaria da Educação. Parecia não haver solução. Para que aquela escola pudesse continuar funcionando, as dívidas tinham que ser pagas.Um alto funcionário da Secretaria deu então a sugestão: por que não trocam o nome do ginásio?
Fecha-se um e abre-se outro, com um novo nome e livre de todas as dívidas. Era a solução, hoje adotada, abertamente, por diversas empresas, quando atoladas em dívidas.
O bispo, ao ouvir aquela idéia, ficou pensativo. Mas não viu outra saída. Sugestão dada, sugestão acatada. E o “novo” ginásio passou a chamar-se Colégio Diocesano.
Justiça se faça. Esse foi o real motivo que levou D. Francisco Xavier a mudar o nome do Ginásio. Não foi, como quis demonstrar um autor florestano, “quase por inveja, enganando a boa fé do proprietário” que o bispo de Floresta mudou a denominação do Ginásio “Padre Cláudio Novaes”.
Como disse, a História não se faz num dia. "

Zé Liberato

P.S. Dona Hilda , irmã de Pe. Xavier , faleceu em Floresta nesse ano de 2009. Em tempo algum perdeu o contato com a minha mãe.
Guardamos essas saudades !

Socorro Moreira

3 comentários:

Armando Rafael disse...

Socorro:

Se me exigissem definir seu artigo com uma única palavra eu diria: EXCELENTE. Um resgate perfeito. Dentro da justeza e da gratidão que Dom Xavier Nierhoff está a merecer.

Felizmente, Crato soube ser grato a este bom servo de Deus.
Existe uma rua no Parque Grangeiro denominada "Dom Xavier'.
(Uma dúvida: no livro "Roteiro biográfico das ruas de Crato", de Lindemberg de Aquino, consta que Dom Xavier faleceu em 1994. Confere?)
Dom Francisco Xavier Nierhoff se enquadra no que a escritora Taylor Caldwell(livro "Servos de Deus")escreveu:

"À heróica memória de todos os outros servos de Deus cuja devoção não merecemos, de cujas orações não somos dignos, de cujo amor não somos merecedores e cujos trabalhos incessantes são conhecidos apenas por Deus".
Parabéns. Parabéns, mesmo!
Armando
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Fiquei curioso em conhecer o escudo e lema episcopal de Dom Xavier. Dá para ler na foto que você publicou? Ou a Sra. sua mãe teria alguma lembrancinha que pudéssemos xerocar?

socorro moreira disse...

Minha mãe tem algumas fotos de D.Xavier. Ele e Dona Hilda era como se fosses meus tios. Passávamos , inclusive, férias em Floresta. Tínhamos uma convivência muito perto com eles. Vou reunir o que eu puder , e te repasso.


Um abraço.

Francisco Ari disse...

Se me lembro, foi nos idos de 1962/1963 que convivi com o Pe. Francisco Xavier Nierhoof no 'Seminario Sagrada Familia', CRATO (alto da batateira). Concheci-o de perto pq ele era o "prefeito" do Seminário, responsável pela disciplina que moldava nossos passos de adolescentes. Todos seminaristas tínhamos um número. O meu: 142. A irmã do Pe. Xavier (Hilda, salvo engano) me presenteou com uma plaquinha banhada a ouro, de numero 142 - que coincidia com número dela, como religiosa. Pe. Xavier trabalhava na elaboração de um dicionário da Lingua Portuguesa. Saí do Seminário. Anos depois o padre foi consagrado Bispo (pelo que li nos comentários, assumiu com merecimento a cadeira episcopal em Floresta PE). Nunca mais nossos caminhos se cruzaram. Uma pena que na historiografia do Crato pouco encontrei sobre o Seminário Sagrada Familia e os padres alemães que o construíram.