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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sua Majestade, a Baronesa



Texto publicado na Revista Refesa, década de 70

A “Baroneza”, única locomotiva a vapor tombada pelo Instituto do Patrimônio Historio e Artístico Nacional, do Ministério da Educação e Cultura, e a primeira a circular oficialmente no Brasil, em 30 de Abril de 1854, quando foi inaugurada a Estrada de Ferro Petrópolis, fundada por Irineu Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá, patrono do Ministério dos Transportes. É até hoje, conservada no atual Museu Ferroviário de Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, local onde se localizavam as antigas Oficinas da Central do Brasil. Máquina de personalidade que manteve através do tempo a nobreza a ela atribuída pelo próprio nome, dado em homenagem ao pioneirismo de Irineu Evangelista de Souza.

Depois de servir, por muitos anos, ao Imperador D. Pedro II, a “Baroneza” foi retirada do serviço em 1884, por Decreto do Gabinete Imperial. Mais tarde voltou a trafegar, puxando um carro construído especialmente para receber o Rei Alberto, da Bélgica, em visita ao Brasil. Foi no ato de inauguração da nossa primeira ferrovia que o Imperador Dom Pedro II batizou de "Baroneza" a locomotiva, em homenagem à esposa do Barão de Mauá, Dona Maria Joaquina Machado de Souza, a Baroneza de Mauá.

A "Baroneza", por seu importante papel como pioneira no campo ferroviário, transformou-se em pedaço da história do ferroviarismo mundial. Foi construída em 1852 por William FairBairn & Sons, em Manchester, Inglaterra. No ano seguinte, Irineu Evangelista de Souza (1813 - 1889) comprou-a, colocando-a em tráfego oficial no dia 30 de Abril de 1854, na E.F. Petrópolis, que Dom Pedro chamou de E.F. Mauá. Ela chegou a ser chamada pelos cronistas da época de "Vulcano que vimos arfar sob o jugo do homem".

Ironia do Destino

A “Baroneza” foi por muito tempo inteiramente conservada nas Oficinas de Engenho de Dentro da outrora E.F. D. Pedro II, depois E.F. Central do Brasil, pela 6.ª Divisão Operacional da Rede Ferroviária Federal, por fim sendo preservada no Centro de Preservação da História Ferroviária do Rio de Janeiro, o "Museu do Trem" do Rio de Janeiro, inaugurado em 25 de Fevereiro de 1984, sendo construído em terreno das Oficinas do Engenho de Dentro.

Originalmente pertenceu à Cia. de Navegação a Vapor e E.F. Petrópolis, que pretendia chegar até as margens do rio das Velhas, organizada e custeada por Mauá. Passou, em seguida, à Cia. Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, de vida efêmera e mera tentativa para salvar a primeira ferrovia brasileira, sufocada pela E.F. D. Pedro II, dada em concessão a Augusto da Rocha Fragoso, pelo próprio Imperador, em momento dos mais contra-indicados. Testemunha silenciosa de toda uma estóica, muito bem descrita por Mauá na sua autobiografia (“...os resultados que colhi da realização da primeira estrada de ferro do Brasil não foram lá muito para cobiçar”... - perdera mais de 600 contos naquela época - a “Baroneza”, afinal passou à propriedade da The Leopoldina Railway, que absorveu o Grão-Pará e, posteriormente, à E.F. Leopoldina, em que aquela se transformou, com o surgimento da Rede Ferroviária Federal, em 1957. Desativada, por circunstâncias diversas e por ironia do destino, acabou passando à guarda e posse da Central do Brasil, recolhida que foi, quando do seu tombamento, à área das Oficinas do Engenho de Dentro.

Baroneza recolhida nas dependências das Oficinas de Engenho de Dentro, antes da criação do Museu. Podemos ver alguns outros materiais históricos ao lado dela. Foto publicada no Livro Lembranças do Trem de Ferro, de Pietro Maria Bardi.

Considerada como relíquia nacional, em 18 de Fevereiro de 1884 o então Ministro das Obras públicas, Conselheiro Afonso Pena, que mais tarde chegou a Presidente da República, dirigiu a Diretoria da Estrada de Ferro D. Pedro II o seguinte Aviso:

“Haja V. M. de providenciar para que nessa Estrada de Ferro, seja recebida e depositada nas Oficinas de Engenho de Dentro, a fim de ali conservada, a 1.ª locomotiva que serviu na E. F. de Mauá, que foi também a primeira inaugurada no Império, a qual locomotiva acaba de ser oferecida ao Governo Imperial pela Cia. Estrada de Ferro Príncipe do Grão Pará. Deus guarde a V. M. (a) Afonso A. M. Pena”.

É um dos modelos mais antigos de locomotiva que se conhece, tendo sido incorporada ao Patrimônio Nacional, por Decreto, a 30 de Abril de 1954, quando se completou o centenário de existência da E.F. Mauá.


Teria sido a primeira locomotiva a operar em solo nacional?

Segundo a pesquisa do Sr. Luiz Octavio, publicada no Informativo AFPF (Associação Fluminense de Preservação Ferroviária), é citada uma outra locomotiva da EF Mauá: a "Manchester". Teria esta sido a primeira locomotiva a operar em solo nacional? Muito provavelmente.

Com os dados lá apresentados, tudo leva a crer, que a primeira locomotiva a operar em solo nacional, teria sido a "Manchester", sendo utilizada durante o período da construção da ferrovia. Muito provavelmente teria sido ela, a locomotiva que fez o teste inicial em 1853, quando a ferrovia ainda estava em construção.

Um comentário:

Edilma disse...

Querida amiga,

Adorei o texto.
Este assunto sôbre o transporte ferroviário sempre me despertou curiosidade, afinal a minha história andou por um longo tempo sôbre os trilhos.

Beijos