Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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terça-feira, 13 de outubro de 2009

PÁSSARO VERMELHO - Por Edilma Rocha


Final de semana é subida certa para a serra, principalmente se houver um feriado prolongado. A vida na cidade corre com o tempo em meio aos afazeres que absorvem a nossa luta pela sobrevivência. Aos poucos ficam para trás casas, prédios, pessoas, rotina e o transito vai ficando calmo na saída da cidade. A inquietação dá lugar a acomodação, a paisagem corre rapidamente no sentido contrário deixando para trás imagens perdidas. No som do carro, Tom Jobim preenche o coração de contentamento em meio as saudades de tempos vividos.

Baturité é pequena, aconchegante e limpa, mas lotada de motoqueiros apressados sem segurança no uso dos capacetes. São nove igrejas ao longo de um só caminho até a Matriz na última curva de onde se avista o antigo Seminário. Os monumentos confirmam a formação religiosa da pequena cidade que se fez ao longo dos anos.

A subida é cheia de curvas que me fazem embalar como uma criança destinada a um repouso merecido. Suíssa Cearense, é assim chamado o lugar com as duas principais ruas em meio ao Teatro numa homenagem a Raquel de Queiroz, Prefeitura, Correios, lojinhas e bares repletos de mesinhas arrumadas à espera dos visitantes. Para quem conhece a história, constata o desparecimento das antigas construções que abrigavam as famílias de outros tempos que chegavam à cavalo ocupando os casarões nas férias das famílias. O comércio e pousadas tomam conta do patrimônio histórico, e restam apenas seis construções preservadas para o registro de um passado de tradições. O clima continua suave e a brisa é fria, mas a temperatura também já perdeu um pouco na escala do termômetro com os constantes desmatamentos. Alí se estabelecia com abundância um complexo de fenômenos físicos, quimicos e biológicos que se completavam e se integravam, antes que o homem se fizesse tão presente. Este dotado de inteligência, prevalece no ambiente na busca insana por crescentes previlegios se impondo a natureza, modificando-a em seus valores, destruindo-a. É um direito buscar o bem estar e a melhoria da qualidade de vida, desde que feita de forma ordenada, ecologicamente correta e sustentável. Mas as agreções grosseiras e impiedosas são irreparáveis.

Na serra de Guaramiranga, vê-se a impressionante frequência dos crimes ambientais. O homem rude na ânsia de produzir mais, apela pelo desmatamento e queimadas para a produção agrícola bem visíveis na fumaça e devastações vistas no decorrer do caminho. Os horticultores e floricultores apelam para a represa das águas das fontes e invadem os plantios de agrotóxicos que dizimam a flora e fauna nativas, envenenando aos poucos a água dos cursos e promovem a desertificação. São visíveis os deslizamentos dos barrancos impedindo a passagem dos carros com a chegada das chuvas.

O turista ocasional ao se embelezar com a exuberância da paisagem serrana, quer logo partilhar mais de perto e com frequência, fazendo a compra de um imóvel para isso. Daí sobrevivem os especuladôres na desinfreada construção imobiliária, sendo o mais nôvo vilão da destruição da natureza, pois para abrigar um número cada vez maior de condomínios, são devastados enormes espaços de floresta nativa. Abrindo clareiras cada vez maiores no verde, destruindo a fisionomia florística da preservação ambiental.

Procuro sobreviver a tudo isso me recolhendo em um pequeno chalé construido no povoado da Linha da Serra , depois de um reflorestamento numa área de pastagem com mais de oitenta árvores, denominado Engemberg, título em homenagem aos Alpes Suissos na memória de uma viágem. Ficando no meio da mata, quase passa despercebido, destacando-se apenas o telhado e suas mansardas.

No seu interior, ao calor do fogo e do vinho aquece os corpos da família e amigos, procurando uma compensação pelos fatos constatados no decorrer da pequena viágem. Nestes últimos sete anos, abrigamos orquídeas e bromélias nativas procurando preservar o habitat natural do Pássaro Vermelho, quase extinto, que o lugar carrega o seu nome.


Por Edilma Rocha

7 comentários:

socorro moreira disse...

Esse lugar torna-se real , na tua descritiva. Faço de contas que estive lá , e aspirei os ares da paz.
Mas o Crato também tem uns pedaços de paraíso. As Evas e os Adãos daqui são ligados na natureza. Quando encontram seus Oásis particulares ,celebram o convívio.
Abraços, querida !

Claude Bloc disse...

Edilma,

Sua narrativa sempre nos envolve e nos leva para perto de você.
Passamos a sentir cheiros, frescores da mata e o clima privilegiado de sua Suíssa Cearense.

Eu tenho me contentado com a vosão do mar, mas meu grande amor é a terra e a serra.

Abraços.

Claude

Claude Bloc disse...

Errata: vosão = visão

Edilma disse...

Espero ter um dia as duas na minha companhia à procura desse pássaro tão cobiçado.
E lá dentro do chalé encontrarão preciosidades garimpadas pelo meio do mundo.
Vamos fazer planos ?

Corujinha Baiana disse...

Edilma,

Você com essa blusa vermelha e esses braços abertos, está um verdadeiro "Guaramiranga" querendo alçar voo.
Um abraço

Edilma disse...

Corujinha,

Esta linda mocinha representa o pássaro vermelho pronto para voar.
A sua colocação a minha pessoa me invaideceu, mas é a minha continuação na vida. Fafá é o seu nome, minha filhota.

Beijos !

Corujinha Baiana disse...

Gostei de saber e está provado :
Filha de guaramiranga,
guaramiranguinha é.
Beijo