Seus best-sellers de sexo e
violência lhe renderam milhões
A cama é a matriz de muitos "best-sellers" americanos: foi deitada que a autora de "E o vento levou...", Margareth Mitchell, escreveu seu "best-seller" internacional, convalescendo, durante dois anos, de um acidente de automóvel. Prêso à cama também, por um ferimento na coluna vertebral, Harold Robbins, 52 anos, o autor mais vendido do mundo, com 40 milhões de exemplares de suas novelas divulgados em dezoito países, partiu para a literatura e para a fama em 1948. Tendo faturado até agora cêrca de 8 milhões de dólares (24 bilhões de cruzeiros antigos) com "Os Libertinos", "Os Insaciáveis" e "Os Implacáveis", além de outros, é o único escritor que consegue pagamento antecipado de 1 milhão de dólares de seus editôres de Nova York e produtores de Hollywood por um livro que não existe ainda, a não ser no título: "The Survivors"("Os Sobreviventes"). A cama é também a matéria-prima de que são feitos os livros de sucesso, principalmente os de Harold Robbins. Suas personagens da alta roda internacional — milionários de origem humilde, "playboys" diplomatas latino-americanos, produtores de cinema inescrupulosos — passam obrigatòriamente pela cama como uma estação de águas que revigora, traz saúde, juventude e poder.
Moralista com obsessão sexual — O sexo é uma obsessão até em suas imagens literárias: "O avião descia sôbre o aeroporto no deserto como um macho sequioso sôbre uma mulher morena estendida entre lençóis brancos de areia". Em "Os Insaciáveis", uma loura e um diretor de grande emprêsa tomam banho juntos numa banheira cheia de campanha e como aperitivo ela começa fazendo a barba no tronco peludo dêle. Em "Os Implacáveis", a cerimônia de defloramento ritual das índias da tribo navajo do Arizona é descrita com minúcia quase cirúrgica. O romancista judeu nova-yorkino defendeu-se, numa entrevista concedida a uma revista católica, de ter obsessão pelo sexo: "Minhas histórias meramente refletem a vida com suas circustâncias impiedosas, que forçam os sêres humanos a cederem a seus impulsos sexuais em busca de calor e afeição". Ajustando suas abotoaduras de ouro, êle se autodefine "um moralista, pois todos os meus protagonistas fazem uma escolha de ordem moral e arcam com as conseqüências".
Feito por si mesmo — Hàbilmente, o coquetel do sucesso de vendagem de Robbins manda misturar uma dose de otimismo para não desiludir seus leitores da superioridade do "american way of living" (o modo de vida americano), outra de puritanismo — na terra fundada pelos puritanos, as messalinas acabam sempre tràgicamente — e um tanto de crença no trabalho e na honestidade. Afinal, sua própria carreira não é típica do "self mad man"? Abandonado criança ainda num orfanato por seus pais que fugiam de credores e de contas de aluguel, Robbins foi trabalhar num restaurante de Brooklyn chamado A Cozinha do Inferno, varreu neve a 1 dólar por hora e vendeu sorvetes na praia de Coney Island. Aos vinte anos de idade, especulou em colheitas de milho e açúcar e ganhou 1 milhão e meio de dólares, para perdê-los logo depois que o Presidente Roosevelt congelou o preço dos alimentos, no decorrer da década de 30. A bancarrota o arrastou de um apartamento elegante num hotel sofisticado de Nova York às auto-estradas, com o polegar para cima pedindo carona até Hollywood. Os estúdios da companhia cinematográfica Universal o admitiram como supervisor do almoxarifado.
Mercadores de sonhos enlatados — Com os anos, Robbins melhorou de vida e passou a diretor de orçamento, manejando 40 milhões de dólares na fabricação de sonhos enlatados para o mundo inteiro. "Os Mercadores de Sonhos" chama-se, em inglês, sua primeira novela da trilogia inspirada em Hollywood: os astros milionários, a luta entre os grandes produtores, as festas que degeneravam em orgias. Foram os romances que seus chefes compravam (para transformá-los em filmes) que o convenceram a capitalizar como literatura êsse material que conhecia de primeira mão. Qualitativamente, Harold Robbins não existe para a crítica americana, que invariàvelmente despreza os seus romances. Como seu tradutor brasileiro, Nelson Rodrigues, que diz: "Harold Robbins é um momento da estupidez humana". O autor de "Ninguém é de Ninguém" confessa ter "tropeçado por acaso" na literatura quando começou a descrever a elite endinheirada da Europa e América. Mas desde então, como excelente homem de negócios, Robbins percebeu depressa que tinha na máquina de escrever uma galinha que punha ovos de dólares.
O público é que conta — Os americanos dizem que Robbins tem o toque de Midas, o rei lendário que transformava em ouro tudo o que tocava. As revistas de literatura dos Estados Unidos — desde a intelectualizada "The Kenyon Review" até o suplemento literário do "New York Times" —, quando se dignam a mencionar seu nome, é para incluí-lo entre os autores que só contam "quantitativamente como quem conta a produção de batatas de Kansas". "Os críticos não produzem literatura, o público é que consagra os escritores", replica irônicamente o romancista. E, para provar sua capacidade de trabalho, anuncia que já tem quatro romances planejados para os próximos dez anos, "se a saúde permitir". Um dêles incluirá "um dos temas mais atuais do mundo — a batalha entre homens e mulheres", e outro estudará outra batalha pelo mercado, entre fábricas de automóveis.
De janelas fechadas sôbre o Mediterrâneo — De sua "villa" em Cannes, na Riviera francesa, ou em suas casas de Beverly Hills e Connecticut, Robbins alterna suas horas de trabalho (das 4 às 10 da manhã) com visitas a iates de milionários e a seu alfaiate — para encomendar até vinte ternos iguais para êle e sua terceira espôsa, a lindíssima loura Grace (calças roxas com casacos verde-limão). Na mansão de Cannes, mandou tapar a vista sôbre o Mediterrâneo ("que me distrai do trabalho quando fico em casa") para concentrar-se nos livros, que dita para uma secretária inglêsa. Ela chora sôbre o teclado da IBM elétrica sempre que uma das personagens atravessa momentos difíceis. Numa noite, Robbins é capaz de perder sem emoção 150.000 dólares no cassino de Monte Carlo. "Afinal", observa êle, "só com a porcentagem de venda dos meus livros e filmes baseados nêles já ganhei 8 milhões de dólares, mais do que custou a Biblioteca Pública de Nova York. Isso me dá, até 1981, mesmo que eu não escreva mais uma palavra, uma renda de 500.000 dólares por ano. Por que me preocupar com migalhas?"
fonte : Revista VEJA
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