Numa manhã de domingo, Chicão entrou apressado na agência da Viação Pernambucana. Ele estava atrasado para sua viagem à cidade de Petrolina, onde iria vistoriar uma loja que o seu pai mantinha naquela cidade pernambucana. Ao pedir uma passagem, um sujeito desses tão asquerosos, que causa arrepio na gente, com amplo bigode, longas costeletas e chapéu quebrado de lado, à moda dos cowboys americanos, postou-se de pé ao seu lado e pediu a poltrona vizinha. Chicão sentiu um friozinho esquisito a lhe percorrer o corpo inteiro. Provavelmente repugnava aquele estranho vizinho de poltrona. Talvez fosse apenas um mau pressentimento, pensou. No decorrer da viagem, os companheiros de assento não trocaram uma só palavra, até que o ônibus fez uma parada no Posto do Exu. Ali, o motorista do ônibus disse para os passageiros a tradicional mentirinha que todos os motoristas de ônibus costumam dizer: “Pessoal, vamos parar uns vinte minutinhos aqui para o café.” Chicão olhou o companheiro carrancudo, reuniu toda a coragem de que era possuidor e o enfrentou: “Amigo, vamos descer e tomar uma cervejinha. É melhor do que ficar aqui sem fazer nada.” O sujeito esquisito aceitou o convite e desceu juntamente com Chicão. Sentaram-se numa mesinha do canto da sala do bar e pediram uma cerveja, depois outra, sempre num silêncio mortal, sem trocarem uma única palavra. Lá pela terceira cerveja o sujeito esquisito rompeu o silêncio entre os dois e arriscou uma pergunta: “De onde você é e o que faz?” Chicão disse que era do Crato, estudava no Recife e estava de férias. Viajava à Petrolina para verificar como andavam os negócios do pai. Então o sujeito asqueroso retirou do bolso uma foto e mostrou ao seu companheiro de bebida. Ao verificar a foto, Chicão tremeu. Parecia estar vendo uma de suas fotos recente, que não se lembrava de onde a havia tirado. Então o sujeitão esquisito lhe disse: “Essa cervejinha lhe salvou a vida! Fui contratado para mandar esse cara de Caruaru para os quintos dos infernos. Recebi informações que ele iria a Petrolina nesse ônibus e confundi você com ele. Agora vou voltar e ficar esperando outro ônibus.”
Diante deste exemplo, em que além da sorte, uma cervejinha gelada salvou a vida do amigo Chicão, só me resta enviar um recadinho ao meu sósia de Sobral. Pelo amor de Deus, doutor Eduardo, não conquiste inimigos, pois eu não sei convidar desconhecidos para partilhar comigo uma cervejinha. E quem sabe se terei a mesma a sorte do amigo Chicão?
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
2 comentários:
Carlos Eduardo,
Isso já me aconteceu... onde vou me acham parecida com alguém... Felizmente no caso feminino os inimigos não são assim tão perigosos...(espero!!!)
Prezada Claude
Se por acaso você encontrar uma pessoa parecida comigo aí em Sobral, deverá ser o tal do Dr. Eduardo, que algumas vezes já fui confundido pelos sobralenses, sendo tratado como se fosse ele.
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