Nenhuma religião, partido político, banda de música, associação, clube ou qualquer outra atividade coletiva humana junta tanta gente como o futebol. Por conta disso, da coletivização do espetáculo, o futebol não prescinde da paixão, por mais que racionalistas (como sou tantas vezes chamado pelos leitores) queiram o contrário.
Ainda que a gente não consiga descartá-la a qualquer momento, ou deixá-la de lado, a paixão emburrece qualquer coisa. Ela não deixa ver, na maioria das vezes, o óbvio. A paixão mata e faz matar, ela é cega, e, no futebol, ela mais obscurece do que abrilhanta uma partida.
Por causa da paixão é que ainda existe a regra do impedimento. Num espetáculo cujo objetivo é marcar gols, impedir que um atacante se coloque inteligentemente (sim, com razão) longe do defensor é uma desrazão. Não parar o relógio, como em outros esportes como o basquete, por exemplo, que não acaba nos pontos, como o vôlei, também é fruto de uma paixão doentia (sei que é redundância, já que toda paixão é doença, pois vem do grego pathos, que nos deu patologia).
Se a cada vez que a bola parasse, o tempo fosse interrompido, acabaria de vez essa desrazão de jogadores fazendo cera. Mas não, os brucutus da paixão adoram essa palhaçada de jogador caindo por qualquer encostão, ou de juiz dar desconto sem nenhuma razão e a seu critério, como fez com o Fluminense, na última quarta-feira.
Ainda bem que a razão prevaleceu no campeonato brasileiro, desde que instituíram os pontos corridos. Cada partida é decisiva, e a prova é a grande final de amanhã, que será dividida (ainda que já saibamos que o Grêmio perderá) em quatro grandes finais. Só mesmo movido pela paixão que torcedores do Inter, Palmeiras e São Paulo irão aos estádios pensando o oposto. Paixão é isso mesmo, é pensar que se pode, é ter um pingo de esperança, ainda que a razão nos diga o contrário.
E por falar em falta de razão, os cartolas da Fifa não deram bola para a ideia razoável de incluir juízes atrás dos goleiros. Penso, às vezes, que esse medo de mudar no futebol, movido pela paixão, é que estimula a violência nos estádios. Mais razão nas regras levaria naturalmente mais razão ao torcedor.
por Fábio Brüggemann
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