Por esses dias de muitas chuvas no sul e sudeste do país e quase nenhuma na nossa terra, tenho me lembrado muito do seu Pedrinho dos Carás. Eis ai um homem que foi extraordinário! Falava pelos cotovelos! Baixinho, magro, pele branca, que tostada pela constante exposição ao sol lhe dava uma tonalidade levemente morena. Voz fina, parecida com voz de mulher, mas sem nenhum trejeito que lhe negasse sua masculinidade. Todo ano nascia um menino em sua casa. E ainda mais com a cara do pai para desfazer as dúvidas dos faladores de plantão e dos mais incrédulos.
Seu Pedrinho cuidava sozinho de uma grande plantação de arroz do Sítio Cabeça da Vaca no Vale do Rio Carás, município de Juazeiro do Norte. Era possuidor de um raciocínio bastante lógico. Num ano de ameaça de seca aqui no Ceará e de grandes temporais no Rio de Janeiro com desabamento de encostas e algumas mortes noticiadas com insistência pelo radinho de pilhas do seu Pedrinho, seus vizinhos se reuniam para rezar pedindo por chuvas. Era a celebração das novenas ao glorioso São José, realizadas de casa em casa. Porém seu Pedrinho a nada disso participava. E quando lhe perguntavam por que não ia às novenas, lhes dizia com muita convicção: “Meu povo não adianta nada disso, pois nem reza faz chover e nem pecado empata chuva!” E esclarecia aos que não entendiam: “Onde é que o povo mais peca? No Rio de Janeiro. Tá se acabando debaixo de chuva! Onde é que o povo mais reza? No Juazeiro. Seco pra danar!”
Em 1965, nosso vizinho do São José, se submeteu a uma delicada cirurgia em Recife. Poucos meses depois, meu pai foi também ao Recife para um tratamento, tendo retornado em poucos dias, para tentar se recuperar no clima saudável que a vida no campo proporciona.
Quando soube que meu pai estava doente, seu Pedrinho foi até ao São José para visitá-lo. Ao vê-lo passar defronte da sua casa, nosso vizinho o chamou. Ele foi entrando e logo se justificando: “Compadre, eu lhe devo uma visita, mas hoje estou aqui só de passagem, pois vou visitar o compadre Zé Esmeraldo. Depois eu voltarei outro dia para lhe visitar”. Ao dizer isso, sentou-se no alpendre ao lado do dono da casa, com ele conversou toda a manhã. Na hora do almoço, ameaçou se despedir, mas convidado, aceitou. Após o almoço, continuou a conversa e lá pelas cinco horas da tarde se despediu do nosso vizinho dizendo: “Compadre, hoje estive aqui só de passagem. Outro dia eu volto para lhe pagar a visita que lhe devo. Pois hoje eu vim visitar o meu compadre Zé Esmeraldo.”
Quando seu Pedrinho saiu, nosso vizinho comentou com a mulher: “Estou com pena do Zé Esmeraldo. Se esse homem disse que estava aqui só de passagem demorou o dia inteiro, imagina lá na casa de Zé Esmeraldo! Ele vai passar mais de uma semana!”
Realmente, seu Pedrinho demorou quase uma semana nessa visita ao meu pai e não esgotou seu estoque de conversas. Ou de uma boa prosa, como ele costumava dizer.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Seu Pedrinho cuidava sozinho de uma grande plantação de arroz do Sítio Cabeça da Vaca no Vale do Rio Carás, município de Juazeiro do Norte. Era possuidor de um raciocínio bastante lógico. Num ano de ameaça de seca aqui no Ceará e de grandes temporais no Rio de Janeiro com desabamento de encostas e algumas mortes noticiadas com insistência pelo radinho de pilhas do seu Pedrinho, seus vizinhos se reuniam para rezar pedindo por chuvas. Era a celebração das novenas ao glorioso São José, realizadas de casa em casa. Porém seu Pedrinho a nada disso participava. E quando lhe perguntavam por que não ia às novenas, lhes dizia com muita convicção: “Meu povo não adianta nada disso, pois nem reza faz chover e nem pecado empata chuva!” E esclarecia aos que não entendiam: “Onde é que o povo mais peca? No Rio de Janeiro. Tá se acabando debaixo de chuva! Onde é que o povo mais reza? No Juazeiro. Seco pra danar!”
Em 1965, nosso vizinho do São José, se submeteu a uma delicada cirurgia em Recife. Poucos meses depois, meu pai foi também ao Recife para um tratamento, tendo retornado em poucos dias, para tentar se recuperar no clima saudável que a vida no campo proporciona.
Quando soube que meu pai estava doente, seu Pedrinho foi até ao São José para visitá-lo. Ao vê-lo passar defronte da sua casa, nosso vizinho o chamou. Ele foi entrando e logo se justificando: “Compadre, eu lhe devo uma visita, mas hoje estou aqui só de passagem, pois vou visitar o compadre Zé Esmeraldo. Depois eu voltarei outro dia para lhe visitar”. Ao dizer isso, sentou-se no alpendre ao lado do dono da casa, com ele conversou toda a manhã. Na hora do almoço, ameaçou se despedir, mas convidado, aceitou. Após o almoço, continuou a conversa e lá pelas cinco horas da tarde se despediu do nosso vizinho dizendo: “Compadre, hoje estive aqui só de passagem. Outro dia eu volto para lhe pagar a visita que lhe devo. Pois hoje eu vim visitar o meu compadre Zé Esmeraldo.”
Quando seu Pedrinho saiu, nosso vizinho comentou com a mulher: “Estou com pena do Zé Esmeraldo. Se esse homem disse que estava aqui só de passagem demorou o dia inteiro, imagina lá na casa de Zé Esmeraldo! Ele vai passar mais de uma semana!”
Realmente, seu Pedrinho demorou quase uma semana nessa visita ao meu pai e não esgotou seu estoque de conversas. Ou de uma boa prosa, como ele costumava dizer.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
2 comentários:
Olá Carlos,
Você agora foi longe, ao relembrar de Seu Pedrinho da Cabeça da Vaca. Lembro-me muito bem dele. Acho que sei quem foi o seu vizinho que fez este comentário.
Abraço,
Marcos B. de Melo
Pois é Marcos, não desejei dizer o nome, pois não tinha autorização para tal. Mas é aquele mesmo que você está pensando que morava numa casa rodeada de alpendres.
Abraço para você, primo amigo.
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