No Brasil não percebemos a mudança das estações, mas podemos conhecê-la por diversas formas. Um jeito muito especial é através da poesia, que nos faz passear por outras paisagens, por estações da natureza e por estações da alma dos poetas. Vejam que beleza se estampa nos sonetos da poeta portuguesa, Florbela Espanca.
OUTONAL
Caem as folhas mortas sobre o lago !
Na penumbra outonal, não sei quem tece
as rendas do silêncio... Olha, anoitece !
- Brumas longínquas do País Vago...
Veludos a ondear...Mistério mago...
Encantamento... A hora que não esquece,
a luz que a pouco e pouco desfalece,
que lança em mim a benção dum afago...
Outono dos crepúsculos doirados,
de púrpuras, damascos e brocados !
- Vestes a Terra inteira de esplendor !
Outono das tardinhas silenciosas,
das magníficas noites voluptuosas
em que soluço a delirar de amor...
PRIMAVERA
É Primavera agora, meu Amor !
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor !
Ah ! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida ...não há bem que não nos venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha !
Não há bem que não possa ser melhor !
Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera ...
Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal ! Vem desprendê-los !
Meu Amor, meu Amor, é Primavera ! ...
Sonetos -Florbela Espanca -Ed. Bertrand Brasil,1998
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