Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 10 de abril de 2010

História de Renato - por Eurípedes Reis

Em 1978 com o falecimento da mãe, o pai, devido ser alcoólatra, perdeu a guarda dos filhos: Jonas; Josué; Cibele; Rogério; Vagner; Marcelo e Renato. Somente o filho mais velho, Gervásio, permaneceu com o pai.

Os demais foram encaminhados para o Instituto de Amparo ao Menor de Indaiatuba onde foram internados. Devido ser diferente, Renato, em seguida, foi encaminhado para a FEBEM (existia – na época – uma unidade da FEBEM perto do Pacaembu, própria para receber menores não infratores). Somente após algum tempo descobriu-se que o Renato era deficiente mental. O governo do estado, devido a falta de estrutura para tratar deficientes mentais, buscou uma instituição especializada. Inicialmente ele foi encaminhado para a Casa de David e, logo depois, foi transferido para as Casas André Luiz. O pai, alguns poucos anos mais tarde, faleceu. Ninguém da família sabia o paradeiro do Renato, que, na época da internação, era um bebê.

Jonas ao completar 14 anos saiu do abrigo e começou a trabalhar. Foi morar com Gervásio (irmão mais velho). Fizeram um esforço e desinternaram todos os irmãos e assumiram a responsabilidade pela criação deles.

Após alguns anos, Jonas foi trabalhar nos Estados Unidos (Chicago). Anos mais tarde, levou alguns dos outros irmãos para trabalhar nos Estados Unidos, onde conseguiram alcançar sucesso profissional e, consequentemente, financeiro. Somente o irmão mais novo (Marcelo) permaneceu no Brasil. Se casou, constituiu família, conseguiu um bom trabalho. Mas sempre manteve contato com os outros irmãos que foram para o exterior.

Eles, embora muito crianças quando o fato aconteceu, lembravam-se que tinham um irmão que havia sido encaminhado para São Paulo. Mas não tinham a menor idéia do paradeiro do Renato, nem que ele era deficiente mental.

A esposa de Marcelo estava providenciando o passaporte, porém teve problemas com a sua documentação (erro no sobrenome do marido) e entrou com um processo judicial, para resolver o problema. Marcelo que se envolveu no processo, para ajudar a esposa, ficou curioso e além de ajudar a esposa resolver o problema do passaporte, foi em busca de obter maiores informações da história de sua família, e, entre outras coisas, para conseguir localizar o Renato, o irmão caçula que havia sido encaminhado para São Paulo. Foi uma luta e uma busca que, de inicio, se mostrou frustrante. Tentativas de localização, através de pesquisa de informações de RG, CPF, Título de Eleitor, não deram em nada.

Marcelo foi até o abrigo de Indaiatuba, na tentativa de resgatar informações, porém o abrigo não funcionava mais. Foi encaminhado para o Fórum da cidade para localizar a documentação. Os prontuários estavam lá, e ele, além do seu prontuário, localizou também o prontuário do Renato, mas, não liberaram o prontuário de Renato para Marcelo tirar cópia. Mesmo assim ele visualizou as palavras “espírita” e “Guarulhos” no prontuário e foi pesquisar. Após intensa busca, pela Internet, localizou as Casas André Luiz e entrou em contato telefônico conosco para obter informações. Perguntou se tinha um interno de nome “Renato”. Perguntado o nome da mãe ele então teve a certeza de que havia localizado o irmão.

No dia 04/03/2009, Marcelo esteve na instituição para visitar Renato. Foi um reencontro emocionante. As funcionárias do Serviço Social, quando viram o Marcelo, não tiveram dúvidas que ele era irmão do Renato (devido a semelhança física). Começou a se estabelecer um vínculo amoroso e fraterno. Começou, então, pelo Serviço Social e Psicologia, a ser desenvolvido um programa para fortalecer estes vínculos. É um trabalho lento já que existe alguma insegurança por parte da família, pois não sabem como cuidar de um deficiente. Eles, aos poucos, estão sendo capacitados para entender o Renato. Está nascendo neles um sincero desejo em desinternar o Renato. Isso tem que ser feito com muito cuidado, não só estando atentos para com a família, mas também com o Renato, para o qual a situação é muito nova. Afinal ele passou 31 anos nas Casas André Luiz, sem saber da existência de sua família. Tem apenas um ano que ele está vivenciando uma situação diferente.

Atualmente Renato vai, praticamente, todo final de semana para a residência do irmão em Indaiatuba e os parentes participam do desenvolvimento biopsicossocial. A família vem apanhá-lo na nossa Instituição, recebe as instruções e medicação a ser ministrada a ele. Demonstram ter o maior carinho para com ele. Após o reencontro com a família o Renato esbanja felicidade e está se comunicando melhor com todos os colaboradores e seus colegas na instituição.

Renato possui cadeira de rodas motorizada (importada), doada pelos irmãos a qual utiliza no dia-a-dia para locomoção, realização de suas atividades de vida diária e ir aos atendimentos setoriais. Desloca-se, independentemente em todas as áreas da Instituição, participa de eventos, passeios e atividades externas no seu equipamento. Ela é o seu orgulho.

Eles, desde que localizaram o Renato no ano passado têm o maior desejo de que ele viaje para os Estados Unidos, para visitar os parentes (ou outros irmãos e sobrinhos)

Esta viagem, eventualmente, poderá fortalecer os laços e facilitar o processo de desinternação, que é o nosso objetivo, mas tudo está sendo feito com muito cuidado.

Euripedes

*Eurípedes é colaborador do Cariricaturas desde o nosso início . Foi atraído pela profunda e antiga amizade, que nos liga.

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