Ao afastar com o braço
o ópio e o vinho
sobre a mesa
ao ouvir o som surdo
da loucura e do espanto
sem estardalhaços
sem cacos de vidro
sem máculas
cruzei a ponte
mudei de margem.
Agora os dias uma só morte.
Uma só rocha à porta do sepulcro.
Não dou ouvidos às vozes
debaixo do chuveiro.
Meus fantasmas sabem
que a clareza queima.
Ao derrubar do púlpito minha sombra
somente minha voz profere os sermões.
Sei que sou eu mesmo o vulto.
A verdadeira pele do sinal.
Meu lábio cortado.
Meu escárnio e meu lírico soluço.
Ao renunciar o ópio e o vinho
penetrei pela rachadura da parede.
Ainda não encontrei a moeda encantada.
Mas permanecem minhas asas
lisas, pardas, leves.
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