Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Quem é Luiz Alberto Machado - por Ele !


EXÓRDIO


Meus diletos amigos & amigas, abri a porteira do mundo em sessenta, numa provinciazinha da mata sul pernambucana, sob o signo de mercúrio, uma fome desgraçada e com o berro pelos ares acordando todo mundo.

Os meus parentes e presentes já sentenciaram: esse menino quer aparecer!

Pelo choro demasiado, minha mãe desconfiou logo que eu seria, então, um daqueles cantores de brega e, por cima, desafinado.

Meu pai, mais reticente, estava lá na biblioteca entretido com seus livros, fez de desentendido: - vai ser mais um prá azucrinar o mundo.

E foi, na batata!

Mais tarde mudaram o verbo: - esse menino gosta mesmo de aparecer!

Verdade: logo cedo publiquei umas baboseiras infantis no suplemento "Júnior", do Diário de Pernambuco.

Mas foi ali naquela vida besta de interior que aprendi a chupar cana, dar o dedo e plantar bananeira. Isso sem contar com os aperreios tantos que provocados pelas travessuras muitas. E se não fosse a maravilhosa professora do primário, eu nunca me meteria a querer ser poeta. A culpa é dela.

Nesse tempo vivia Lobato, Batman, gibis, Defoe, figurinhas e arteirices. Meus pais, parentes, aderentes e achegados sempre tiveram paciência comigo.

Mais taludo, precoce homem-feito, já me perguntava prá que droga que servia guerra, religião, pobreza, usura, preconceito e enrolação. Prá quê mesmo, hem?

Aí, com certeza, parece que já havia sinais que auto-enlouquecia, como diz um amigo meu.

Leituras? Foi por causa de Hermilo e de Ascenso que viajei Graciliano, Érico, Osman e Machado de Assis. Estava adolescente dando murro em ponta de faca, remando contra a maré, aos trancos e barrancos, doido de pedra e sem um pingo de juízo, como de resto fora toda a minha insignificante existência.

Futebol? Claro: flamenguista de Fio, Rodinelli, Zico e dos de hoje. Ao mesmo tempo a cabeça no som de Gonzaga, Capiba, Vivaldi, Gismonti, Yes, Chico e Hermeto. Sem contar com os olhos pregados em Rosa, Pessoa, Drummond, Joyce, Borges e Clarice. Doidice pura.

Terminado o colegial, escolhi o curso de Letras na faculdadezinha da minha cidade.

Daí, arribei prá Recife onde me deram uma corda da gota para publicar meus garranchos e rabiscos produzidos na adolescência.

Publiquei e como a turma atiça o cara prá brigar ou escrever, optei escrever e, depois, ver se vale a pena brigar.

Foi aí que inventei de conhecer as leis para aprender a brigar pelos meus direitos. Torceram tanto para que fosse douto jurisconsulto que afundei na leitura e descobri que os homens fazem da justiça uma instituição bastante injusta. Saí mais torto do que quando entrei. Pudera, avalie.

Nesse meio termo, num sei por que cargas d'água, me puseram numa emissora para redigir notícias e escrever uma crônica diária. Eu sei que foi para tapar buraco, o redator havia se desligado e não dispunham de gente que escrevesse. Pronto, fiquei todo ancho e peguei o vício que até hoje não consigo largar: falar que só o homem da cobra e escrever que só escrivão de polícia.

Repare só, trupicando nos meus solecismos eu vou inventando uma sintaxe para enganar os bestas mais bestas que eu. Mas escrever, mesmo para um charlatão, num é fácil não. E como não sou mestre, a coisa nasce meio atrapalhada. É cada troca de tapa com o vernáculo, tabefe vai e vem com as palavras, puxavanques nas orações, arenga com despropósitos gramaticais, até que elas ganham (ou eu tapio que venci) e sai o texto. Atabalhoado ou não, sai. Isso quando não ocorre uma briga de foice das brabas com o papel em branco, nossa! O papel, Mike Tison; eu, um pelanco de gente metido às pregas. Uso das minhas artimanhas, tá. É como Davi e Golias, sabe? Só que enquanto ele fica imóvel, dou minhas cutucadas.

Pois é, enquanto não me coibirem de dizer leseiras ao léu, vou assim. Fiquem aí que volto já. Abraços.


LUIZ ALBERTO MACHADO é editor do Guia de Poesia e do Varejo Sortido, co-edita com Vânia Moreira Diniz o VMD/Nascente e escreve regularmente para jornais e revistas impresos, além de sites e portais da Internet. É autor dos livros:

Para viver o personagem do homem, poesia. Recife: Nordestal, 1982

A Intromissão do verbo, poesia. Recife: Pirata, 1983

Raízes & Frutos, poesia. Recife: Bagaço, 1985

Canção de Terra, poesia. Recife: Bagaço, 1987

Paixão Legendária, poesia. Rceife: Bagaço, 1991

Primeira Reunião, antologia poética. Recife: Bagaço, 1992

O Reino Encantado de Todas as Coisas, infantil. Recife: Bagaço, 1992

Falange, Falanginha, Falangeta, infantil. Maceió: Nascente, 1995

O Lobisomem Zonzo, infantil. Maceió: Nascente, 1998

O Cravo & A Rosa, infantil. Maceió: Nascente, 1999

Alvoradinha, Calango Verde do Mato Bom, infantil. Maceió: Nascente, 2001

Rascunhos Eventuais, croniquetas. Florianópolis: On Line Book, 2003

As Trelas do Doro, o bacharel das presepadas, noveleta. Florianópolis: On Line Book, 2004

Ela Nua é Linda, prosapoética. Inédito.

A Fúria dos Inocentes, noveletas. Inédito.

Proesas do Biritoaldo, noveleta. Inédito.

Kid Malvadeza & outras estórias, noveletas. Inédito.

O Evangelho Segundo Padre Bidião, noveleta. Inédito.

Rol da Paixão, proserótica. Inédito.

Outras páginas do autor na Internet:

Guia de Poesia

Varejo Sortido

Coluna Literária

Sítio pessoal

Música, Teatro & Cia

Ela nua é linda – um bloguerótico

Opinião (coluna)

Alvoradinha

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