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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 12 de junho de 2010

A poesia de Luiz Alberto Machado

AS GARRAS DA FELINA


Luiz Alberto Machado


Sigo à procura do teu cheiro felina de todos os aromas, sabores e versos.

E quero a tua íris dilatada de brilho no olhar de breu na noite de caça.

Sei que vens amestrada quando quer nas savanas do meu desejo, inupta e nua, pronta para cravar tuas garras retráveis na pele da minha febre ambiciosa.

Sei que vens com o teu incenso que povoa meus sentidos.

E vens de longe e já estás tão perto espreitando minhas vulnerabilidades de amante.

Se não te vejo, logo percebo o teu perfume no ronronar vigoroso.

Vens tão arredia e adulta e arisca no bulício macio do teu passo silencioso, do teu flexível expressar na índole carniceira que já sei prontinha para estraçalhar o meu poema esganiçado.

Acuada no átimo, vens com aguda audição e olfato aguçado: um jeito Márcia Tiburi no parque exclusivo da minha alucinação.

Indefeso, eu adivinho tua presença como quem flagra o iminente em riste e almejo o teu sexo como a salvação dos mortais.

Não há como adiar e reajo, persigo teus passos suspensos no ar com meu faro.

E adivinho a tua toca: o reduto da tigresa, onde alcanço toda amplitude da imensidão.

Encorajado pela silhueta de teu dorso, circundo teu corpo, arranco as vestes, desnudo com afinco como se conquistasse o meu Brasil ideal: assimétrico e sedutor.

E com o achado certeiro vou revolvendo tua intimidade completa de folhas e chilreios submersos, sinuosidades, saliências e reentrâncias: a nudez deificada.

Acossada por mim vai rendendo o dorso para a minha travessia caleidoscópica no belo sexo, onde a maiêutica e a vida nascem e renascem nos encontros, desencontros e reencontros: o gozo repetido de satisfação.

Sou teu.

És minha.

E teu desabrochar é a concha dos segredos que te fazem espectro acessível acolhido na minha loucura dionisíaca.

E embriagados como imigrantes do chão estalamos nossos beijos com marca de tormento e graça e nos dizemos estranhos do mesmo anátema que se dissipa em nossas descobertas abrasadas: o amor, a paixão e o sexo.

A fera e a presa: a corrente do rio na certeza de mar.

Quando a febre apazigua no gozo, me deito em seu corpo – meu ideal travesseiro – para nele saber de mim, de ti e de tudo.


por Luiz Alberto Machado

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