Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 12 de junho de 2010

Por este dia - Eu não existo sem você - por José do Vale Pinheiro Feitosa

Como gostaria de, pelo menos por um momento, ser ele. Ter aquela voz para a canção que tinha, as feições bonitas que facilitavam o encanto para as meninas sem que esforço houvesse. Mas gostaria apenas por momentos, nada como a essência que nos é própria.

Aliás, pensando bem, nem por momentos, o melhor mesmo é ter tido na minha geração aquele artista se desenvolvendo, criando mensagens com as quais toquei meus lábios na borda quente da orelhas delas. Pude sentir um perfume de mulher muito além dos pingos de "muguet" que elas espalhavam com uma espátula quase nada, apenas a alma do frasco especial.

O frasco especial de um encantamento febril, que tonteia e abre o vão da vida para uma perspectiva tão longuínqua que dizemos eternidade.

E nisso escuto, como um Dia de Namorados, Agostinho dos Santos, suave, tanto que se diz sobretudo canto. Ele canta "Eu não existo sem você". E diz, num dia como este, sem pesos, aridez, fraturas da continuidade. Pois quem pensa que ao meio século de vida tudo aquilo cessa, imagine como está vivendo não o meio século inteiro, mas sobretudo o dia exato em que comemorou a vida após os cinquenta anos de idade. Pois aquela alma de perfume não cessa, jamais cessa, foi verdade naquela idade igual hoje. Com uma diferença.

Qual?

As decepções por vezes querem tomar conta da narrativa inteira quando não passam de meros fragmentos. Bons e maus fragmentos, mas não mais do que fragmentos no inteiro de cada um. O calor das orelhas delas, extraindo uma verdade completa que supera toda uma mera vida finita. Mesmo que, por vezes, se dissipe nos fragmentos apartados, continua em nós mesmo enquanto corpo for e, exuberante, extrato de perfume, em todo o universo de corpos humanos sejam vivos no espaço do mundo ou nas dimensões imensas da memória.

Por isso quando capturei a poema de Vinícius de Moraes na música de Tom Jobim, no princípio pensei: disse tudo isso e no entanto viveu com tantas que lhes parecera que não existiria sem elas. E existiu para passar ao próximo amor. A mais básica das explicações: fora uma licença poética. Os poetas podem dizer isso pois a poesia permite.

Mas um grito subiu do mais profundo da verdade do mundo. A poesia não tem licença, não pode dar um jeitinho para simplesmente agradar. Ela é o extrato do mundo. Como o perfume delas. E se o poeta disse que não exisitia sem você, de fato não vivia, nem para apenas prestar letras às notas musicais do amigo. E nunca viveu. Vinícius nunca existiu sem você.


Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor, não tenha medo de sofrer
Pois todos os caminhos me encaminham prá você

Assim como o oceano só é belo com o luar
Assim como a canção só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem só acontece se chover
Assim como o poeta só é grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor não é viver
Não há você sem mim, eu não existo sem você

Um comentário:

Edilma disse...

Do Vale,

Ninguem falou do meu perfume...
Ninguem fez versos pra mim...

Lindo texto!