Não. Não quero ser amigo do rei e, apenas por sê-lo, me empanturrar de suas benesses, receber seus lauréus. Prefiro não tê-lo no rol de amigos e poder dormir tranqüilo, sabendo que os frutos do meu pomar são reconhecidamente saborosos na opinião de gente honesta e boa e não uma farsa mal montada. A mulher que quero já tenho e ela dorme comigo na cama que escolhemos, eu e ela, sem qualquer palpite do rei. Seus asseclas, submissos e subservientes, talvez deitem na mesma cama em que o rei eventualmente também se deita.
Não nomeio impostores, eu mesmo cuido do plantar, do regar e do colher. Não uso da influência real para corromper os provadores, degustadores, alguns pobres inocentes úteis ao rei e inúteis a si próprios. E o ‘soberano’, imponente, acima do bem e do mal, se deixa afagar, ego imenso, em banquetes fenomenais. Não me importa o julgamento se quem julga é imoral. Não pelo simples fato de ser amigo do rei, mas por ter os amigos do rei também como amigos seus. Dizer que não gosta do fruto e recomendá-lo por gostar de quem o plantou, apenas por isso, é tão imoral quanto posar de isento, justo e correto, sem sê-lo. Acho que o Rei sequer come os seus frutos, apenas recomenda-os.
Estaria estragada a erva provada por esse juiz? E quem o colocou ali para julgar os sabores que lhe são mostrados? Não, não quero ser amigo do rei e acho que ele não merece ter-me como amigo. Que Deus me dê saúde e boca para falar, gritar, denunciar a orgia do rei e de seus amigos. Adeus, Pasárgada, adeus, Bandeira, não quero e não vou ser amigo do rei. Meu sangue plebeu não me permitirá uma vaga na Corte que não seja a de Bobo. E para isso não tenho qualquer vocação. Vou-me embora pra outro lugar que não Pasárgada.
Xico Bizerra
Não nomeio impostores, eu mesmo cuido do plantar, do regar e do colher. Não uso da influência real para corromper os provadores, degustadores, alguns pobres inocentes úteis ao rei e inúteis a si próprios. E o ‘soberano’, imponente, acima do bem e do mal, se deixa afagar, ego imenso, em banquetes fenomenais. Não me importa o julgamento se quem julga é imoral. Não pelo simples fato de ser amigo do rei, mas por ter os amigos do rei também como amigos seus. Dizer que não gosta do fruto e recomendá-lo por gostar de quem o plantou, apenas por isso, é tão imoral quanto posar de isento, justo e correto, sem sê-lo. Acho que o Rei sequer come os seus frutos, apenas recomenda-os.
Estaria estragada a erva provada por esse juiz? E quem o colocou ali para julgar os sabores que lhe são mostrados? Não, não quero ser amigo do rei e acho que ele não merece ter-me como amigo. Que Deus me dê saúde e boca para falar, gritar, denunciar a orgia do rei e de seus amigos. Adeus, Pasárgada, adeus, Bandeira, não quero e não vou ser amigo do rei. Meu sangue plebeu não me permitirá uma vaga na Corte que não seja a de Bobo. E para isso não tenho qualquer vocação. Vou-me embora pra outro lugar que não Pasárgada.
Xico Bizerra
2 comentários:
Rebeldia do poeta porque é natural no coração do poeta rebelar-se.
É preciso.
Uma plena rebeldia de lucidez.
Forte abraço.
é urgente e lúcido rebelar-se, quando necessário for. grande abraço, domingos.
XICO BIZERRA
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