Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Castro Alves


No período em que viveu (1847-1871), ainda existia a escravidão no Brasil. O jovem baiano, simpático e gentil, apesar de possuir gosto sofisticado para roupas e de levar uma vida relativamente confortável, foi capaz de compreender as dificuldades dos negros escravizados.


Manifestou toda sua sensibilidade escrevendo versos de protesto contra a situação a qual os negros eram submetidos. Este seu estilo contestador o tornou conhecido como o “Poeta dos Escravos”.

Aos 21 anos de idade, mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração cívica, o “Navio Negreiro”. A contra gosto, os fazendeiros ouviram-no clamar versos que denunciavam os maus tratos aos quais os negros eram submetidos.

Além de poesia de caráter social, este grande escritor também escreveu versos líricos-amorosos, de acordo com o estilo de Vítor Hugo. Pode-se dizer que Castro Alves foi um poeta de transição entre o Romantismo e o Parnasianismo.

Este notável escritor morreu ainda jovem, antes mesmo de terminar o curso de Direito que iniciara, pois, vinha sofrendo de tuberculose desde os seus 16 anos.



Apesar de ter vivido tão pouco, este artista notável deixou livros e poemas significativos.


Canção do Boêmio

(RECITATIVO DA MEIA HORA DE CINISMO

COMÉDIA DE COSTUMES ACADÊMICOS)

Música de EMILIO DO LAGO



Que noite fria! Na deserta rua

Tremem de medo os lampiões sombrios.

Densa garoa faz fumar a lua,

Ladram de tédio vinte cães vadios.



Nini formosa! por que assim fugiste?

Embalde o tempo à tua espera conto.

Não vês, não vós?... Meu coração é triste

Como um calouro quando leva ponto.



A passos largos eu percorro a sala

Fumo um cigarro, que filei na escola...

Tudo no quarto de Nini me fala

Embalde fumo... tudo aqui me amola.



Diz-me o relógio cinicando a um canto

"Onde está ela que não veio ainda?"

Diz-me a poltrona "por que tardas tanto?

Quero aquecer-te rapariga linda."



Em vão a luz da crepitante vela

De Hugo clareia uma canção ardente;

Tens um idílio -- em tua fronte bela...

Um ditirambo -- no teu seio quente...



Pego o compêndio... inspiração sublime

P'ra adormecer... inquietações tamanhas...

Violei à noite o domicílio, ó crime!

Onde dormia uma nação... de aranhas...



Morrer de frio quando o peito é brasa...

Quando a paixão no coração se aninha!?...

Vós todos, todos, que dormis em casa,

Dizei se há dor, que se compare à minha!.. .



Nini! o horror deste sofrer pungente

Só teu sorriso neste mundo acalma...

Vem aquecer-me em teu olhar ardente...

Nini! tu és o cache-nez dest'alma.



Deus do Boêmio!... São da mesma raça

As andorinhas e o meu anjo louro...

Fogem de mim se a primavera passa

Se já nos campos não há flores de ouro...



E tu fugiste, pressentindo o inverno.

Mensal inverno do viver boêmio...

Sem te lembrar que por um riso terno

Mesmo eu tomara a primavera a prêmio..



No entanto ainda do Xerez fogoso

Duas garrafas guardo ali... Que minas!

Além de um lado o violão saudoso

Guarda no seio inspirações divinas...



Se tu viesses... de meus lábios tristes

Rompera o canto... Que esperança inglória...

Ela esqueceu o que jurar lhe vistes

Ó Paulicéia, ó Ponte-grande, ó Glória!...



Batem!... que vejo! Ei-la afinal comigo...

Foram-se as trevas... fabricou-se a luz...

Nini! pequei... dá-me exemplar castigo!

Sejam teus braços... do martírio a cruz!...

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