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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

COMPOSITORES DO BRASIL


“E eu, pra não morrer de tristeza
me sento na mesma mesa
mesmo sabendo quem és...”
(Pra não morrer de tristeza)

JOÃO SILVA


Por Zé Nilton

“João Silva nasceu em Arcoverde. Aos sete anos já tocava pandeiro e cantava em rádios no Recife. Aos quinze, por dores do mal d’amor, foi para o Rio de Janeiro tentar a fama. para um dia voltar e dizer à Iracema; “Tá vendo o que perdeu ?”. E voltou. Foi á sua casa. Ela veio, ficou na porta, ele falou-lhe: “Tá vendo o que você perdeu?” Calada estava, calada ela ficou. Mestre João me falou que lhe veio um nó angustial nos “grugumilhos”. Passado um tempo, Iracema balbuciou: “Vou ali beber água.” Não mais voltou. Naquele fatal momento nasceu: “ ... “Bebeu água foi simbora / nem se despediu de mim.”

Este é o Mestre João Leocádio da Silva. O mais profícuo, fiel e leal parceiro de Luiz Gonzaga. Nos idos de 1988, Gonzaga ia fazer um show no Canecão. Um crítico “alma sebosa”, do Rio de Janeiro, escreveu no jornal que aquela música de paraibas ia conspurcar o templo sagrado do samba. Gonzagão se “arretou”: “João, vamos dar uma pisa nesse “fela”. João retrucou: “Não, Gonzaga, vamos fazer isso com música”!. Seu Luiz não titubeou. Chamou o grande Geraldo Azevedo e, no LP “Ai Tem”, ambos cantaram “Taqui Pá Tu”, onde os dois craques “dixeram de um tudo” contra aquele beócio. No final da canção Gonzaga fala: “...Sabe, Geraldinho, o que esse cabra é, ele é um fela...”

Eis um tantinho de João Silva, que mostro aos caros leitores. Aos setenta anos, vivendo em Aracaju, ainda produzindo bem, um pouco magoado com Pernambuco, João Silva compôs, para Seu Luiz , desde 1964 (LP Sanfona do Povo, Não Foi Surpresa, de João Silva e João do Vale) até 1989 (onde canta com Gonzaga, no LP Alvorada Nordestina, da autoria dos dois, Vamos Chegando), sem esquecer de “Vou Te Matar de Cheiro”, no LP do mesmo nome, composta pelos parceiros e em homenagem à Edelzuita, último amor do Rei. No show final e inesquecível de Gonzagão, no Teatro Guararapes, sempre a segunda parte de cada música era cantada por João, a pedido de Lua, cujas forças estavam se exaurindo.

Não existe na Música Popular Nordestina e talvez na MPB, quem tenha maior quantidade de músicas gravadas por diversos artistas (mais de duas mil), do que Mestre João. Vejamos alguns: Gérson Filho, Severino Januário, Zé Gonzaga, Chiquinha Gonzaga, Joquinha Gonzaga, Ary Lobo, Marinês e Abdias, Dominguinhos, Joãozinho do Exú, Quininho de Valente, Novinho da Paraíba, Pinto do Acordeon, Cremilda, Elba Ramalho, Cirano, Trio Nordestino, Alcione, Beth Carvalho, Flávio Leandro, Flávio José, Genival Lacerda, Núbia Lafayette, Ney Matogrosso.

Aliás, para compor, João é multifacetado. O hino da boemia nordestina, sem dúvida, é Pra Não Morrer de Tristeza, supra sumo do samba de latada, que Mestre João chama “samba apracatado”. Mas ele compõe, além de todo tipo de forró, merengue, bolero, guarânia, lamento, toada, carimbó, como se pode ver no Lp “Mixto Quente”, que ele gravou em 1979.

Um grupo de pessoas, que amam a música nordestina, em parceria, chamaram Mestre João Silva, para resgatar-lhe vida e obra. Quando aceitou, João citou versos de Nélson Cavaquinho, sambista como ele: “... Quem quiser fazer por mim / que faça agora...” O projeto chama-se MESTRE JOÃO SILVA - PRA NÃO MORRER DE TRISTEZA - O MAIOR PARCEIRO DE LUIZ GONZAGA. Na tarefa estão engajados este escriba que vos fala, Roberta Jansen, Rinaldo Ferraz, Herbert Lucena, a gravadora A FÁBRICA, Mávio Holanda, Jr. do Bode e esperamos a necessária ajuda das autoridades culturais. Certamente contaremos com o apoio desta Folha de Pernambuco, para lançar luz sobre o mais popular compositor pernambucano vivo.

Pra finalizar, só mesmo trazendo, aqui, a letra de “Flor de Croatá’, de Mestre João, que o grande Flávio José considera como a música que ele mais gosta de cantar: “ Vou bater porta /Pra quem abusou de mim /Esse meu rosto triste /Não nasceu assim /Era bonito que nem flor / De Croatá/ E então zangado/ Era danado pra cheirar/ Tinha alegria /Que jorrava noite e dia / Mas se excedeu / Pra um tal malvado/ De um amor/ Que não deu gosto/ Só deu desgosto/ E tudo em fim/ Foi até bom/ Que me ensinou a ser ruim.”

Texto de José Maria Almeida Marques, poeta pernambucano. Transcrito de http://www.enciclopedianordeste.com.br/nova339.phpda

Nesta quinta um pouquinho da obra desse mestre da Música Popular Brasileira no Programa Radiofônico Compositores do Brasil.
Quem ouvir verá!

Na sequência:

DANÇADOR RUIM, de João Silva e Zé Mocó com Dominguinhos e Luiz Gonzaga
ESTOU ROENDO SIM, de João Silva e Anatalicio com Trio Nordestino
DEIXA A TANGA VOAR, de João Silva e Luiz Gonzaga com Luiz Gonzaga
DE FI A PAVI, de (João Silva e Oseinha com Virgilio
AMIGO VELHO TOCADOR, de João Silva Zé Mocó com Marinês
DANADO DE BOM, de João Silva e Luiz Gonzaga com Luiz Caldas
TOQUE SANFONEIRO, de João Silva com João Silva
CORAÇÃO MALUVIDO, de João Silva e Pedro Maranguape, com Ary Lobo
PRA NÃO MORRER DE TRISTEZA, de João Silva, com Ney Matogrosso
VIVA MEU PADIM, de João Silva e Luiz Gonzaga com Luiz Gonzaga e & Benito di Paula
PAGODE RUSSO, de João Silva e Luiz Gonzaga com Zeca Baleiro

COMPOSITORES DO BRASIL
Rádio Educadora do Cariri -1020
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Quintas-feiras, de 14 às 15 horas
Pesquisa, Produção e Apresentação de Zé Nilton

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