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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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domingo, 21 de novembro de 2010

Astúcia de Camponês - Marcos Barreto de Melo

Entre os muitos trabalhadores que habitavam o Sítio São José, nas terras do meu pai, havia um que se destaca por suas habilidades na execução de atividades especiais, tais como levante de alvenaria, reboco, pintura, pequenas construções rurais, alem de fazer cadeiras, mesas, cancelas, etc. Por isso recebera o título de Mestre. Era o nosso mestre Zé Nabuco.
Ele foi protagonista de muitos fatos engraçados e tinha a característica de procurar sempre não discordar do meu pai em suas declarações, mantendo-se sempre firme e alinhado com as declarações do meu pai.
Numa certa ocasião o meu pai mandou chamá-lo para uma conversa na varanda da casa grande, já no final do dia, à boquinha da noite. No decorrer da conversa o meu pai disse para que se preparasse para uma viagem ao sertão de Pernambuco, onde tinha a sua fazenda, no município de Bodocó. Falou assim o meu pai:

Compadre se prepare para viajar comigo nessa madrugada. Vamos ao sertão levar alimento para os moradores e remédio para o gado. A seca esse ano é das grandes e deve estar acabando com tudo por lá.

Prontamente, ele emendou:

É isso mesmo, compadre. O major está indo na hora certa. E se não for logo amanhã, é capaz até de morrer gente de fome para aquelas bandas. Parece até que eu estou vendo o gado a berrar de fome e de sede, na parede do açude grande. Por lá só tem verde agora os pés de juazeiro.
Poucos minutos depois, meu pai ponderou e disse assim para ele:

Mas compadre, pensando bem, até agora não veio aqui ninguém trazendo notícia de que já tem gado morrendo de sede ou gente passando precisão. Além disso, o tempo está mudando e estou vendo a chuva se formando para as bandas do nascente. Ontem mesmo, na madrugada, viu muito relâmpago cortando em procura da serra, para o lado do Exu. E se chove, você já sabe como são as estradas. Só passa mesmo se for no Jipe de Antônio Cajazeiras. Camionete fica no primeiro atoleiro que encontrar. É uma carro muito bom, mas fraco para atoleiro. Além disso, quem diabo é que acha Antônio Cajazeiras sem beber? A essa altura, já bebeu toda a cachaça do Brigadeiro.

Nisso, responde o mestre Zé Nabuco:

Compadre está certo no seu plano. Esse sim, é que o plano bom. Vamos ficar por aqui esperando notícia de lá. Pelo que estou vendo, vai ter muita chuva nesta noite e esse carro do patrão não vai subir nem a ladeira das guaribas, com tanta chuva no lombo.

Marcos Barreto de Melo

3 comentários:

Aloísio disse...

Marcos,

Zé Nabuco! vá ser cordato assim lá no Sítio São José. (rsrsrsrs!!!)
Me diverti muito lendo teu texto.

Abraços
Aloísio

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Caro Marcos

O que o Zé Nabuco era mesmo uma vítima das gozações do velho Geraldo

Abraços!

Marcos Barreto de Melo disse...

Carlos,

Você sabe bem de quem falo. Zé Nabuco é um nome fictício.
Abraço,

Marcos