A poesia de Mário Quintana registra um profundo humanismo; seu lirismo é carregado de ternura, intimismo, melancolia e humor irônico. Quintana faz, de pequenas coisas, belos e singelos poemas. Registramos aqui um poema em que a memória do poeta o transportou para um tempo passado, de infância certamente, cheio de acontecimentos na rua, na vizinhança, na família, “pequenas vidas / pequenos sonhos”.
São os cantares de Quintana, que na visão poética de Manuel Bandeira não são cantares, são quintanares: (...) “Quinta-essência de cantares... / Insólitos, singulares... / Cantares? Não! Quintanares”.
Eis o poema/crônica:
CRÔNICA
Sia Rosaura tirava a dentadura para comer
Por isso ela tinha o sorriso postiço mais sincero da minha rua
Dona Maruca fazia uns biscoitinhos minúsculos, estalantes e secos, chamados mentirinhas
Eduviges era pálida e lia romances lacrimosos de Perez Escrich
Tanto suspirou em cima deles que acabou fugindo com um caixeiro viajante
O tempo se desenrolava como um rio por entre as casas de porta e janela
Pequenas vidas
Pequenos sonhos
Na noite imensa as estrelas eram como girândolas brancas que houvessem parado
Sentados à porta
- dois santos, dois mágicos, dois sábios –
meu velho Tio Libório e o velho farmacêutico
propunham-se e compunham charadas
que depois orgulhosamente remetiam sob nomes supostos
para o grande anuário estatístico recreativo e literário da capital do Estado
Um comentário:
Ah, minha amiga Stela ... Querida de tantos anos !
Cada dia mais sensível!
Se ela traz Mário Quintana, sabe que nós gostamos !
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