A morte do compositor José Clementino consternou o Cariri.
Ao lado de Luiz Gonzaga, Padre Antônio Vieira e Patativa do Assaré, Zé Clementino fez parte da “Trilogia do Ciclo do Jumento”, um movimento idealizado em Crato, em defesa do jegue.
A iniciativa tomou dimensão nacional através da música e da poesia dos quatro defensores do jumento. A campanha ganhou mais intensidade na década de 80, quando os quatro se encontraram na Exposição Agropecuária do Crato (Expocrato), sob a presidência de Henrique Costa.
Padre Vieira chegou ao palanque, onde se encontravam Luiz Gonzaga, Patativa e Zé Clementino, montado num jumento. Ao lembrar este fato, destacacamos que Zé Clementino foi um dos mais vigorosos músicos do Ceará. É o autor de autênticos clássicos da música nordestina, tendo sido interpretado por alguns dos grandes nomes da MPB, dentre os quais o “Rei do Baião” — Luiz Gonzaga.
Funcionário público aposentado, Zé Clementino, que já morou em Crato, quando trabalhava no INSS, integrou-se à vida boêmia da Princesa do Cariri, fazendo parcerias com outros artistas. Com o “velho Lua”, o talento de Zé Clementino ganharia destaque nacional, ao passo que, por outro lado, a inventiva produção artística do compositor varzealegrense proporcionaria vitalidade e renovação à obra musical de Luiz Gonzaga.
O “batismo” fonográfico da parceria Luiz Gonzaga-Zé Clementino procedeu-se, de certa forma, quando o “Rei do Baião” atravessava um longo período de ostracismo e mesmo de indefinição quanto à continuidade da carreira artística.
No seu trabalho anterior, o ilustre “sanfoneiro de Exu” mostrava-se desestimulado e cético quanto aos possíveis rumos de sua até então vitoriosa trajetória musical. Numa de suas canções mais emblemáticas da época, Luiz Gonzaga lamentava:
“Pra onde tu vai, Baião? / Eu vou sair por aí / Mas por que, Baião? / Ninguém me quer mais aqui...”.
De fato, o Baião, assim como outros ritmos nordestinos, havia perdido o forte apelo comercial que gozara no passado, particularmente em virtude do surgimento de novos movimentos musicais — a Bossa Nova e a Jovem Guarda.
Nesse panorama, foi lançado o álbum “Luiz Gonzaga – Óia Eu Aqui de Novo”, o qual continha três canções compostas por Zé Clementino. Uma delas, o “Xote dos Cabeludos”, uma bem humorada crítica à estética ‘hippie’ que conquistava a juventude de todo o mundo, tornou-se uma das músicas mais executadas do país no verão de 68, trazendo o ‘Rei do Baião’ de volta à mídia e despertando o interesse das novas gerações pelo riquíssimo acervo musical do artista. Naquele mesmo ano, Zé Clementino confere uma legítima e emotiva dádiva à sua cidade natal, quando compõe a letra do Hino Oficial de Várzea Alegre.
No seu álbum seguinte, Luiz Gonzaga grava “O jumento é nosso irmão”, uma homenagem à luta, encampada pelo Padre Vieira, em prol da preservação da espécie asinina. Em 1976, fazendo proveito do mesmo tema, o Rei do Baião gravaria “Apologia ao jumento”, uma espécie de discurso inflamado em que, com muito bom humor, exalta as benesses do “pobre e castigado” animal. Registra ainda o xote “Capim Novo”, outra canção do compositor varzealegrense, cuja letra sugere uma “discutível” alternativa terapêutica e afrodisíaca para os homens que enfrentam os “percalços” da terceira idade. Em 1978, o Trio Nordestino, na época o campeão em vendagem de discos no segmento de música regional, grava “Chinelo de Rosinha”, uma parceria de Zé Clementino e Paulo César Clementino.
Em 1983, o Brasil vê-se tocado pela sensibilidade musical do prodigioso varzealegrense Serginho Piau, que executa a comovente canção “Simplesmente Zé”, de autoria de Zé Clementino, em alguns programas televisivos. Por fim, os anos 90 marcaram o processo de revitalização estética e musical do forró, e o cearense Sirano, um dos mais bem sucedidos artistas do Ceará.
Entre as suas músicas estão: “Aí não deixo não”, “Xote dos cabeludos” , “O jumento é nosso irmão”, “Apologia ao jumento”, “Contrastes de Várzea Alegre”, “Capim novo”, “Sou do banco", "Xeêm”, “Chinelo de Rosinha”, “Jeito bom”, “Hino Oficial de Várzea Alegre”, e “Simplesmente Zé”.
Ele faleceu vítima de enfarte no Hospital de Várzea Alegre, aos 69 anos de idade.
Gravada pelo Trio Nordestino e campeã de vendagem veja a letra de :
Aí não deixo não!
Não, não, aí não deixo não!
Se você beijar aí vai ser grande a confusão.
Eu gosto muito de você e tenho admiração,
Entreguei só pra você meu coração.
Meu benzinho pelo bem do nosso amor,
Eu lhe peço, por favor.
Aí não deixo não!
Leve seus troços, vá deixar noutro lugar
Se você não quer casar
Porque vem com enrolação,
Você bem sabe, estas coisas não aceito,
Isso é falta de respeito
Aí não deixo não.
Não, não, aí não deixo não.
Se você beijar aí vai ser grande a confusão.
A. Morais
Aí não deixo não!
Não, não, aí não deixo não!
Se você beijar aí vai ser grande a confusão.
Eu gosto muito de você e tenho admiração,
Entreguei só pra você meu coração.
Meu benzinho pelo bem do nosso amor,
Eu lhe peço, por favor.
Aí não deixo não!
Leve seus troços, vá deixar noutro lugar
Se você não quer casar
Porque vem com enrolação,
Você bem sabe, estas coisas não aceito,
Isso é falta de respeito
Aí não deixo não.
Não, não, aí não deixo não.
Se você beijar aí vai ser grande a confusão.
A. Morais
5 comentários:
Na minha adolescência em V.Alegre tinha José Clementino. Compositor de raízes, inteligente e amigo.
Só mesmo A.Morais pra relembrar esse tempo !
Morais,
Você tocou na veia. O Zé Marcolino era um dos esquecidos dos tempos de hoje. Parabéns pelo bom texto. Para acescentar lembro de "Sala de Reboco", "A Dança do Nicodemos" e uma que deixava meu pai absolutamente entregue à vida fazendeira do Inhamuns - "Fazenda Cacimba Nova".
Prezado Morais
Não sei se já lhe disse que sou um grande admirador de Zé Clementino. Tenho um amigo aqui em Fortaleza, Jocilé Clementino, ai de Várzea Alegre, que foi meu aluno em Juazeiro e cujo pai se chama também Zé Clementino, creio que primo do grande compositor, Já estive umas três ou quatro vezes na Fazenda dele, no municipio de Várzea Alegre, porém bem próxima do Grangeiro. Jocilé me disse certa vez que na música "Eu sou do Banco" Zé Clementino, o compositor, brincou com o pai dele naquele trecho que diz que o cabloco comprou quatro vaquinhas, etc..." e "Se alguém pergunta de quem é essa boiada
Ele responde: é de seu Zé Clementino." Este não o compositor, mas o seu primo, pai do Jocilé.
Parabéns pelo belo texto.
Ai,ai,ai,
Finalmente aparece o Morais (depois de uns puxões de orelha lá no Sanharol).
Chegou e arrasou! Ótima escolha, Morais, continue conosco. A casa é sua !
Abraço,
Claude
Caro Morais,
Excelente resgate.
Parabéns
Armando Rafael
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