Amanhã fará 10 anos da morte de D. Hélder Câmara. Personagem pequena, franzina, mas de energia gigantesca. Afastado da Chefia da arquidiocese 15 anos antes do falecimento, apresentava, nos últimos anos, sinais de perda de memória e dificuldades de raciocínio. No entanto, a senilidade não o afastou dos princípios consagrados em vida. Seu sepultamento foi apoteótico, uma multidão conduziu o caixão da igrejinha das fronteiras, onde vivia, até a Sé de Olinda, a pé.
Um dos grandes amigos de D. Hélder foi o Sr. Lauro Oliveira, Delegado do Banco Central em Recife e seu assessor informal para assuntos financeiros e econômicos. Era a ele que o Arcebispo confiava a conferência da declaração do IR, pedia que revisasse a contabilidade da arquidiocese, solicitava orientação sobre aplicações financeiras (tempos de inflação alta) e, por fim, nomeou-o Testamenteiro. Por Dr. Lauro, soube muitas histórias desconhecidas da maioria envolvendo o Dom da paz. Conto algumas:
D. Hélder estava na Rua Rui Barbosa aguardando um táxi (não tinha carro) quando foi abordado por uma Senhora com uma criança nos braços, olhos cheios de lágrimas, cara de sofrimento, dizendo que tinha vindo trazer o filho para o médico, gastou o dinheiro com os remédios e estava faminta e sem dinheiro para a passagem para Surubim. Prontamente, o Bispo deu-lhe quantia equivalente a R$ 50,00. A mulher saiu pulando de alegria. D. Zeza, sua secretária particular, repreendeu o gesto do seu Chefe. Essa mulher é uma vigarista, o Sr. Não se lembrou que ela já aplicou este mesmo golpe dois anos atrás? A resposta de D. Hélder: “Lembro sim, Zeza, foi na Praça Maciel Pinheiro e naquela vez ela disse que morar em Caruaru. Mas, Zeza, isto é uma pobre coitada, não tem nada. Deixa ela sentir a alegria de pensar que me enganou...
O jornalista Adirson de Barros (vendeu a alma ao diabo) iniciou uma caluniosa campanha contra D. Hélder e outros Bispos tidos como progressistas. Os amigos se revoltaram, prepararam documento para processar os jornais e o autor das falsas denúncias. Foram mostrar os documentos e pedir autorização para a reação na justiça. D. Hélder acalmou a todos argumentando que tinha era pena do “pobre rapaz”, que pregava mentiras. “Ele não tem futuro, está se autodestruindo, perdendo credibilidade. Daqui a dez anos vocês nem ouvirão falar dele”.
Poema inédito, escrito 6 dias após assumir a arquidiocese de Recife, cedido por outro amigo de D. Hélder, Dr. José Andrade Nunes:
UM POEMA,
Estou Felicissimo
Teus pobres descobriram
nosso Palacio.
Entram sem medo.
Pisam firme
como quem entra
na própria casa.
Espalham-se
pelas salas numerosas,
sentem-se a vontade.
Ri,a mais não poder,
encontrando um velhinho
sentado, tranquilo,
no trono
que eu não quis ocupar.
Nunca entendi tanto
O Cristo Rei.
Recife, 18/19-03-1964
ALGUNS PENSAMENTOS
-" Eu não quero nenhuma gota de amargura no coração."
-" Eu não acredito em desenvolvimento que não seja conduzido pelo povo. "
-"Não me venham falar que minha arquidiocese tem dois milhões de almas. Eu não tenho almas; eu tenho homens."
-" A educação estará falhando enquanto houver ditaduras, de esquerda ou de direita."
-" Quando a gente trabalha com o povo, e não para o povo, a gente vê que o povo, mesmo quando não sabe ler e escrever, sabe pensar."
-“ Quando dou comida aos pobres, me chamam de Santo. Quando pergunto-lhes porque são pobres, me chamam de comunista.”
- Quanto mais escura a madrugada, mais brilhante é o amanhecer”.
Joaquim Pinheiro
Um comentário:
Caríssimo Joaquim ,
Que maravilha de texto, menino !
Hoje o Cariricaturas recebeu de você um grande presente.
Omiti a observação final ( risos) por considerá-la uma "heresia" . (Lembra de Dona Lurdinha Esmeraldo ?);fiquei vermelha igual à Vera Palitó, quando se mociona.
Obrigada pela lembrança . Você é muito especial pra mim.
Abraços.
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