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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sábado, 8 de agosto de 2009

Ninguém pode dizer: CORONEL DE MERDA por José do Vale Pinheiro Feitosa

Fiz esta mesma postagem em dois outros blogs da região. Aqui me explico. A troca de insultos entre Renan Calheiros e Tasso Jereissati igualam os dois ao mais comum das brigas de bairro. Quando a sociedade observa que tudo afinal é mentira, que os educados também no desespero dizem coisas impróprias, recai sobre todos a mesma sensação. O ser humano no desespero é capaz de tudo para se defender. E o povo dos bairros, o povo pobre, humilhado, chamado pela classe média cearense de "mundiça" vive no desespero, igual estavam os dois senadores. Esta introdução quebra um pouco o ritmo do texto, portanto a partir de agora leia como se fosse um outro texto.



Esta é velha que só a Serra do Araripe. Ninguém na rua Dr. João Pessoa teria coragem de soltar um palavrão com todos os decibéis possíveis em cordas vocais humanas. Ninguém mesmo. Nem o mais valente dos valentes. Mas driblavam. A sociedade é cínica e corajosa ao mesmo tempo. Leva-se a sério a ponto de matar, mas nem vira a página e já está na esculhambação.

Quem se lembra de Antônio Corninho (Cornin)? Era escalado pela sociedade séria do Crato para soltar palavrões na João Pessoa. Então qual era o motivo de quem o enfurecia. Ouvir os palavrões de todos os tamanhos e qualidade. As mulheres de família, as meninas virgens, os irmão de São Vicente ouviam tudo num silêncio de aceitação da loucura. Afinal todos eram simultaneamente e não eram. O quê? Loucos e Machado de Assis tinha dito. O Alienista.

Agora veja vocês aquela porcariada toda no plenário do Senado e alguém chamou o outro de CORONEL DE MERDA e pronto a república vai cair. Os jornais tiveram a desculpa para repetir a expressão por todos os lugares da notícia. Já chamaram o caminhão de secar fossa para levar o material fecal até a mesa da Comissão de Ética.

Mas chamar o homem de CORONEL pode, não pode é adjetivar: excremento, fezes. Quem iria rebaixar o coronel com tantos serviços na folha corrida em favor da humanidade? Especialmente em prol daquele povinho para o qual costumam usar a derivação de sentido do vocábulo em julgamento ético: acúmulo de lixo; sujeira, imundícia, porcaria, sujidade?

Mas a defesa do agressor pode recorrer ao dicionário. Vá lá que no calor da discussão ele apenas quis dizer que aquela postura e argumento eram do coronel dizendo: coisa desprezível, sem valor, porcaria. E então a defesa do Coronel pode na mesma tábua dos significados repetir que o agressor usou o termo no sentido de caracterizar o coronel como “coisa insignificantes, que não presta para coisa alguma”. E isso o coronel não aceitará, pois ela já nasceu melhor que os outros, tem até jatinho para ficar mais perto do céu.

Mas como o cinismo é a substância desta melopéia fétida, o que diz a defesa: aquilo foi apenas uma “expressão de raiva, desprezo, impaciência, irritação, decepção, indignação, desespero”. Agora os agressores e agredidos permanecem no melhor compartimento da nave brasileira. Afinal, lembra a defesa, tudo aqui é teatral. Tudo recorda o palco, no momento em que os atores vão para a difícil cena da vida e para exprimirem desejo de boa sorte a todos gritam: MERDA. MERDA.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Acho ótimo ,quando vocês nos trazem as verdades para cá, e ainda mais com consciência crítica.
Não faço parte dos silenciosos. Escuto !