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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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sexta-feira, 14 de agosto de 2009



O DIA DO FREVO!


Dia de frevo é um dia especial para todos os Pernambucanos especialmente os Recifenses e Olindenses pois foi aqui o berço deste gênero musical/dança que aos poucos foi conquistando o Brasil carnavalesco. Em qualquer lugar do nosso País, durante os festejos de momo certamente você ouvirá seus acordes esfuziantes embora nem sempre as pessoas de outros estados saibam os “passos”.
Nós Caririenses nesse “exílio” voluntário em terras pernambucanas aprendemos a gostar e a ensaiar os diversos passos do frevo uma coreografia plasticamente bela e que exige muita energia.
Desde que aqui chegamos aos idos de janeiro de 1970 demos de cara logo no mês seguinte com o carnaval recifense! Uma loucura! Entramos na folia subindo e descendo as ladeiras de Olinda turbinados pelo famoso “pau do índio”, bebida preparada num bar dos “4 cantos” que ninguém nunca soube os ingredientes mas isso pouco importava, valia o efeito! E o frevo rasgado motivando e aumentando a alegria. Apaixonamo-nos por este ritmo, e eu particularmente, por todas as manifestações do folclore pernambucano rico e belo.

Para aqueles que não conhecem sua história transcrevo as informações necessárias e convido-os a passarem um carnaval em recife e Olinda para constatarem os fatos aqui relatados. Esta dança teve origem nos movimentos da Capoeira. A estilização dos passos foi resultado da perseguição infligida pela Polícia aos capoeiras, que aos poucos sumiram das ruas, dando lugar aos passistas.1
Em meados do século XIX, em Pernambuco, surgiram as primeiras bandas de músicas marciais, executando dobrados, marchas e polcas. Estes agrupamentos musicais militares eram acompanhados por grupos de capoeiristas. Por esta mesma época, surgiram os primeiros clubes de carnaval de Pernambuco, entre eles o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas (1889) e o C.C.M. Lenhadores (1897), formados por trabalhadores, cada um possuindo a sua banda de música. Os capoeiristas necessitavam de um disfarce para acompanhar as bandas, agora dos clubes, já que eram perseguidos pela polícia. Assim, modificaram seus golpes acompanhando a música, originando tempos depois o "Passo" (a dança do Frevo) e trocando suas antigas armas pelos símbolos dos clubes que, no caso dos Vassourinhas e Lenhadores, eram constituídos por pedaços de madeira encimados por uma pequena vassoura ou um pequeno machado, usados como enfeites. A sombrinha teria sido utilizada como arma pelos capoeiristas, à semelhança dos símbolos dos clubes e de outros objetos como a bengala. De início, era o guarda-chuvas comum, geralmente velho e esfarrapado, hoje estilizado, pequeno para facilitar a dança, e colorido para embelezar a coreografia. Atualmente a sombrinha é o ornamento que mais caracteriza o passista e é um dos principais símbolos do carnaval de Pernambuco.2

O frevo é uma dança inspirada em um misto de Marcha e Polca, em compasso binário ou quaternário, dependendo da composição, de ritmo sincopado. É uma das danças mais vivas e mais brejeiras do folclore brasileiro. A comunicabilidade da música é tão contagiante que, quando executada, atrai os que passam e, empolgados, tomam parte nos folguedos. E é por isso mesmo, uma dança de multidão, onde se confundem todas as classes sociais em promiscuidade democrática. O frevo tanto é dançado na rua, como no salão. O berço do frevo é o Estado de Pernambuco, onde é mais dançado do que em outra qualquer parte. Há inúmeros clubes que se comprazem em disputar a palmo nesta dança tipicamente popular, oferecendo exibições de rico efeito coreográfico. Alguém disse que o frevo vem da expressão errônea do negro querendo dizer: "Eu fervo todo", diz: "Quando eu ouço essa música, eu frevo todo". O frevo é rico em espontaneidade e em improvisação, permitindo ao dançarino criar, com seu espírito inventivo, a par com a maestria, os passos mais variados, desde os simples aos mais malabarísticos, possíveis e imagináveis. E, assim, executam, às vezes, verdadeiras acrobacias que chegam a desafiar as leis do equilíbrio.


Coreografia: a coreografia, descrita por Dalmo Berfort de Mattos, dos passos que se seguem do frevo, dão uma idéia de quão interessante é essa dança:
Dobradiça: O passista se curva para frente, cabeça erguida, flexionando as pernas, apoiado apenas sobre um dos pés, arrasta-o subitamente para trás, substituindo o pé pelo outro. E assim por diante. Este jogo imprime ao corpo uma trepidação curiosa, sem deslocá-lo sensivelmente.
Parafuso ou saca-rolhas: O passista se abaixa rápido, com as pernas em tesoura aberta e logo se levanta, dando uma volta completa sobre a ponta dos pés. Se cruzou a perna direita sobre a esquerda, vira-se para a esquerda, descreve uma volta completa e finda esta, temo-lo com a esquerda sobre a direita sempre em tesoura, que ele desfaz com ligeireza para compor outros passos.

Da bandinha: O passista cruza as pernas, e mantendo-as cruzadas, desloca-se em passinhos miúdos para a direita, para a esquerda, descaindo o ombro para o lado onde se encaminha. Alinhava o movimento como quem vai por uma ladeira abaixo. O passista com os braços para o alto e as nádegas empinadas aproxima e afasta os pés, ou caminha com as pernas arqueadas e bamboleantes.

Corrupio: O passista se curva profundamente e ao mesmo tempo em que se abaixa, rodopia num pé só, em cuja perna se aplica flexionada outra perna, ajustando o peito do pé à panturrilha. Toma uma atitude de quem risca uma faca no chão. O passista manobra com uma das pernas jogando para frente o ombro correspondente à perna que avança, o que faz ora para a direita, ora para a esquerda, alternadamente, na posição de quem força com o peso do ombro uma porta. Este passo se se encontra parceiro é feito vis-à-vis. O passista descreve, todo empinado, o passo miúdo, num circulo, como um galo que corteja a fêmea. O passista anda como um aleijado, arrastando, ora com a perna direita, ora com a esquerda alternadamente, enquanto o restante do corpo se conserva em ângulo reto. O passista põe-se de cócoras, e manobra com as pernas, ora para frente, cada uma por sua vez, ora para os lados.

Chão de barriguinha: O passista com os braços levantados, aproxima-se vis-à-vis e com ele troca uma umbigada, que nunca chega a ser violenta. Se são as nádegas que se tocam, temos o Chão de Bundinha. O passista se verticaliza afoitamente, espiga o busto, levanta os braços e caminha em passo miúdo, arrastando os pés em movimento "saccadé". O passista dá uma volta no ar, de braços arqueados, caindo com os tornozelos cruzados apoiando-se sob os bordos externos dos pés. O passista dá grandes saltos para um lado e para o outro, mantendo estirada a perna do lado para onde se dirige, e tocando o chão com o calcanhar. Geralmente o passista utiliza-se de um chapéu de sol, afim de melhor garantir o equilíbrio."
Ainda há inúmeros passos como o do Urubu Malandro, etc.3

Nilo Sérgio

14/09/2009

1. Ver informações mais detalhadas no Museu do Frevo Levino Ferreira. 2. Extraído do texto "A Sombrinha no Frevo" de Luiz Gonzaga C. Souza Filho do Museu do Frevo Levino Ferreira. 3. Danças do Brasil / Felícitas. - Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint Lttda., sem/data Foto Conjunto de Frevo: Atlas Universal Interativo - Coleção Recreio - Ed. AAbril

2 comentários:

socorro moreira disse...

Que maravilha, Nilo Sérgio !

O frevo é uma dança feliz !

Vamos descer a ladeira ?

( "Ninguém requebra , nem dança melhor do que tu"
Será Dora , a rainha do frevo?)

Amei !
Vou até colocar um frevo pra tocar...

Abraços.

socorro moreira disse...

Relendo encantada. Eita história bem contada !
Frevi de emoção !