O Ex-Governador de Pernambuco, Miguel Arraes, sempre fez parte do meu universo afetivo. No entanto até chegar à vida adulta não me lembrava de ter conversado com ele. Fruto do Golpe Militar e do exílio do político. Em 1981 ou 82, estive pela primeira vez, numa conversa reservada com ele e mais um primo.
Lembro de duas impressões da conversa. Numa eu comentava a militarização do governo contra a população favelada aqui no Rio de Janeiro. Eu era médico numa favela e pelo menos duas vezes por mês a Polícia Militar invadia a favela, tomava o lar das pessoas sem mandato judicial, prendia pais de família diante dos filhos e depois soltava, pois não havia motivo para a prisão. Aquilo me parecia uma ação de “terror de Estado” com fins de humilhar e arrasar qualquer desejo de progresso daquela população.
Isso é um horror. Mas existe, já vi, por exemplo, Ali Kamel, expoente do jornalismo da Rede Globo, defendendo um decreto que proibia políticas de melhoria nas favelas. Este decreto caiu em desuso através do Brizola quando Governador. Era a célebre ganância de empreiteiras por terrenos. Por isso a questão da favela é territorial e não de um segmento da sociedade que precisa de progresso material e qualidade urbana. Eles querem os terrenos. Vejam as encostas do Jardim Botânico e do Morro dos Cabritos como se enchem de empreendimentos e de mansões. E são áreas urbanas privatizadas, com cancelas e milícias armadas para reprimir o direito de ir e vir.
Sobre este assunto, uma vez conversando com um Coronel da PM do Rio, meu colega num curso de especialização, ele me dizia: se os ricos têm milícias as comunidades pobres também querem. Aliás, é bem típico de toda sociedade hierarquizada, uma parte tenta imita os “vencedores” através de uma farsa maior ainda (os vencedores são igualmente farsantes). Os pobres querem escolas privadas, planos de saúde, vans piratas e milícias privadas. Se tiver um carrinho fuçado também deseja. Um shopping para usar as “grifes”.
Outro assunto com o governador eu até mesmo me achei um tanto ufanista. Comentava com ele a enorme capacidade deste povo que veio da zona rural, analfabeto, sem qualquer referência urbana e estiveram no cimento da industrialização brasileira. Todos operários do chão de fábrica, que atuam com máquinas sofisticadas, em processos de trabalho sistemático, nem bem uma década passada eram pobres camponeses. Ele ponderou sobre os acidentes e as doenças profissionais. Mas ponderei que o processo era mais importante para tais acidentes do que a inabilidade das pessoas.
Agora ao cerne da questão. O que mudou mesmo no Brasil? Tudo! Mudou e muito. Mudou de tal forma que muita gente não percebeu e pelo número de FDP chamando Lula de FDP até acho que os velhos conservadores já deram conta. Acontece que Lula é um presidente do cerne das duas questões com Miguel Arraes. Até por que o político nordestino é a matriz de toda esta nova geração. Sem as bandeiras dos anos sessenta o Brasil não teria chegado ao que chegou.
Por isso Lula fala do Brasil como um país que tem dignidade, se dar ao respeito e que “ninguém respeita ninguém que não respeita a si mesmo.” É o que esta gente que vivia presa a uma estrutura arcaica no campo, veio para cidade construir. Construir uma base de respeito e se fazer respeitada.
Quando escuto o discurso de certos conservadores tenho a sensação de que eles também irão progredir. Deixarão o complexo de vira lata e terão orgulho do seu povo e do seu país. Continuarão querendo o melhor só para eles, mas aí ninguém é perfeito. Nem poderíamos pensar que individualistas queiram o bem o comum.
Lembro de duas impressões da conversa. Numa eu comentava a militarização do governo contra a população favelada aqui no Rio de Janeiro. Eu era médico numa favela e pelo menos duas vezes por mês a Polícia Militar invadia a favela, tomava o lar das pessoas sem mandato judicial, prendia pais de família diante dos filhos e depois soltava, pois não havia motivo para a prisão. Aquilo me parecia uma ação de “terror de Estado” com fins de humilhar e arrasar qualquer desejo de progresso daquela população.
Isso é um horror. Mas existe, já vi, por exemplo, Ali Kamel, expoente do jornalismo da Rede Globo, defendendo um decreto que proibia políticas de melhoria nas favelas. Este decreto caiu em desuso através do Brizola quando Governador. Era a célebre ganância de empreiteiras por terrenos. Por isso a questão da favela é territorial e não de um segmento da sociedade que precisa de progresso material e qualidade urbana. Eles querem os terrenos. Vejam as encostas do Jardim Botânico e do Morro dos Cabritos como se enchem de empreendimentos e de mansões. E são áreas urbanas privatizadas, com cancelas e milícias armadas para reprimir o direito de ir e vir.
Sobre este assunto, uma vez conversando com um Coronel da PM do Rio, meu colega num curso de especialização, ele me dizia: se os ricos têm milícias as comunidades pobres também querem. Aliás, é bem típico de toda sociedade hierarquizada, uma parte tenta imita os “vencedores” através de uma farsa maior ainda (os vencedores são igualmente farsantes). Os pobres querem escolas privadas, planos de saúde, vans piratas e milícias privadas. Se tiver um carrinho fuçado também deseja. Um shopping para usar as “grifes”.
Outro assunto com o governador eu até mesmo me achei um tanto ufanista. Comentava com ele a enorme capacidade deste povo que veio da zona rural, analfabeto, sem qualquer referência urbana e estiveram no cimento da industrialização brasileira. Todos operários do chão de fábrica, que atuam com máquinas sofisticadas, em processos de trabalho sistemático, nem bem uma década passada eram pobres camponeses. Ele ponderou sobre os acidentes e as doenças profissionais. Mas ponderei que o processo era mais importante para tais acidentes do que a inabilidade das pessoas.
Agora ao cerne da questão. O que mudou mesmo no Brasil? Tudo! Mudou e muito. Mudou de tal forma que muita gente não percebeu e pelo número de FDP chamando Lula de FDP até acho que os velhos conservadores já deram conta. Acontece que Lula é um presidente do cerne das duas questões com Miguel Arraes. Até por que o político nordestino é a matriz de toda esta nova geração. Sem as bandeiras dos anos sessenta o Brasil não teria chegado ao que chegou.
Por isso Lula fala do Brasil como um país que tem dignidade, se dar ao respeito e que “ninguém respeita ninguém que não respeita a si mesmo.” É o que esta gente que vivia presa a uma estrutura arcaica no campo, veio para cidade construir. Construir uma base de respeito e se fazer respeitada.
Quando escuto o discurso de certos conservadores tenho a sensação de que eles também irão progredir. Deixarão o complexo de vira lata e terão orgulho do seu povo e do seu país. Continuarão querendo o melhor só para eles, mas aí ninguém é perfeito. Nem poderíamos pensar que individualistas queiram o bem o comum.
2 comentários:
Por princípio sou contra o “Culto da Personalidade”, que considero coisa de ditadura, de totalitarismo. Como acontece em Cuba e, em menor escala, na Venezuela. A depender de alguns lulistas, o atual presidente do Brasil, já está alçado ao status do ditador da Coréia do Norte, Kim Jong Il: não se pode falar nada sobre Lula a não ser elogios e mais elogios. Donde se conclui que o lulismo existe, e é mais forte do que o petismo.
1)Segundo Aurélio: pre.con.cei.to
Substantivo masculino.
1.Idéia preconcebida.
2.Suspeita, intolerância, aversão a outras raças, credos, religiões, etc.
2) Ora, o fato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não possuir graduação universitária é fato real, verdadeiro, de domínio público – não cabe, portanto, o “preconceito”, pois esta realidade não é idéia preconcebida. Nem suspeita. Nem intolerância, nem aversão a outras raças credos ou religiões. O preconceito é juízo de valor que se faz sem conhecer os fatos. Em geral é fruto de uma generalização ou de um senso comum rebaixado. Não é isso que ocorre quando qualquer brasileiro – no exercício de sua cidadania, garantida pela Constituição – faz alusão a alguma das costumeiras “declarações” do presidente Lula. Elogiar (até gratuitamente, pode), já qualquer crítica (por mais pertinente que seja) é rotulado de “preconceito”;
3) Ninguém de sã consciência desconhece que o presidente Luiz Inácio é um homem inteligentíssimo. Pois mesmo sem deter uma completa educação formal, Lula só chegou aonde chegou por captar rapidamente novos conhecimentos, além de ter memória prodigiosa e excelente intuição;
4) Bom lembrar que no dia 1º de julho próximo passado, durante a reunião da Cúpula da União Africana, o presidente Lula chamou o ditador libio Muamar Gaddafi de “meu amigo” e afirmou que não se pode ter “preconceito” contra líderes não democráticos. Assim, conforme o pensamento de Lula, quem disser que há constante e persistente violação dos direitos humanos em Cuba – mesmo sendo este um fato real, verdadeiro – pode ser tachado de “preconceituoso”. E haja abuso (e desconhecimento) – por parte dos lulistas ardorosos – do real significado da palavra PRECONCEITO...
Armando me desculpe ter de lhe dizer isso: mas o teu texto continua de puro preconceito.
Além do mais o meu texto não é de culto a nenhuma personalidade e por isso mesmo o contextualizei como uma evolução das lutas básicas de uma nação de milhões de habitantes ávida por progresso material. Se você perceber e se utilizar da tua disciplina de historiador para fazer uma avalição de como a diplomacia brasileira é atualmente analisada, como o presidente brasileiro é considera internacionalmente e como estão o níveis da aprovação a ele certamente não sairá da leitura com redução de imagens.
Outra coisa. Você trás a questão de Cuba e da Venezuela como se fosse um discurso da guerra fria. Mas ambos são países latino-americanos, ambos têm muita importância para o Brasil e, portanto, legítimos aos olhos do Estado brasileiro. Sobre o líder Líbio é bom também que uses das tuas faculdades intelectuais, pois o mesmo é um fato real na diplomacia mundial, é a referência na União Africana, é fundamental para o mundo Árabe e acaba de falar, pela primeira vez na Assembléia da ONU. Portanto, reduzir a questão ao que você disse é mero preconceito.
Por outro lado é bom termos em consideração que não existe uma referência maior para ninguém no mundo. Todos estamos igualmente envolvidos numa crise econômica, numa questão de globalização e de clima no planeta. Portanto as referências éticas e ideológicas são bem mais dinâmicas do que os velhos chavões, à esquerda e à direita, da guerra fria.
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