Quero falar sobre emoções. Das minhas, particularmente, mas também das que nos são comuns, já que cada um de nós é mais um ser humano no meio de tanta gente. Evidentemente, em algum post, o leitor se identificará com fatos e sensações e poderá comentar, inclusive, as entrelinhas.
Falar de sentimentos, hoje, torna inevitável falar do airbus que ia do Rio de Janeiro para Paris e desapareceu no domingo. As autoridades apuram os fatos, a fim de tentar explicar as causas e localizar os destroços e, principalmente, as vítimas ou sobreviventes. É uma tarefa difícil, e a espera tem sido angustiante para todos. Perto do sentimento e da dor que acometem familiares e amigos das vítimas do vôo AF 447, qualquer fato pode parecer irrelevante. Contudo, a violência cotidiana é um problema que me deixa atônita. Minhas condolências às famílias das 228 pessoas que estavam no avião e meu pedido de licença para falar sobre esse assunto.
Todos os dias, ao abrirmos os jornais ou ligarmos a televisão, o rádio ou o computador, nos deparamos com notícias sobre assaltos, sequestros relâmpagos, assassinatos, tiroteios e balas perdidas. E, por mais que nos choquemos, agimos com certa indiferença, já que o problema não é nosso. Será que não? Ainda que indiretamente, somos responsáveis pelo processo que desencadeia essa bola de neve. As causas são de naturezas diversas (educacional, cultural, socioeconômica, política etc.) e podem explicar, mas não justificam tanta barbárie. E parece que a gente só tem consciência do perigo quando ele bate à nossa porta...
Não pretendo encontrar soluções imediatistas nem culpados, apenas deixar a dúvida para que cada um reflita sobre até que ponto contribuimos para o que temos vivenciado e o que podemos fazer de concreto para ajudar a combater a violência, um caso sério de Segurança Pública e cidadania. As guerras nos morros, os assaltos nos faróis, os arrastões e tantos outros fatos nos deixam acuados. Vamos nos trancando nos condomínioos e nos protegendo com seguranças particulares e carros blindados, como se fóssemos inatingíveis.
Lavar as mãos não resolve nada, mas o medo nos paralisa. Diariamente, presenciamos atitudes agressivas, seja no ponto de ônibus, na fila do supermercado, no banco, no trânsito ou na escola. É guerra de torcidas de futebol, são os crimes passionais, os trotes violentos nas universidades; é quebra-quebra, vandalismo, irracionalidade e ausência de bom senso.
A falta de gentileza está por todos os lados, mais um reflexo do quanto o ser humano está individualista e agressivo. Por isso, cada vez mais, é importante estar em par com Deus. Embora esse texto não seja de cunho religioso, sabemos que a vida é rara e, quando menos se espera, um de nós pode ser o alvo numa situação dessas e, então, perceber como tudo é breve e quanto estamos vulneráveis todos os dias.
De tudo, fica a certeza de que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã", orar e vigiar, pois somos apenas uma gota d´água no meio do oceano e, apesar disso, especialmente únicos e insubstituíveis. Nada repõe a perda de um ente querido nem apaga a dor ou diminui a saudade de quem fica. E mesmo a justiça, quando feita, não alivia nosso sofrimento.
O fato é que o mundo precisa de gentileza e, se cada um fizer a sua parte, viveremos melhor. Delicadeza é pouco diante de tudo o que precisa ser feito, mas é um primeiro passo para se restabelecer a paz. E acabo voltando ao tema do segundo artigo, sobre ser e ter: sejamos menos fúteis e mais amáveis. Em vez de malhar e turbinar, compulsivamente, cuidemos melhor de nossas pobres almas e façamos mais pelo nosso próximo. Em vez de pedras, atiremos rosas e rimas. Sem pieguice nem lição de moral, apenas um pedido de socorro pela vida.
Vera Barbosa
Foto de Teresa Abath
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