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"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
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"

(Carlos Drummond de Andrade)

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domingo, 4 de outubro de 2009

Orlando Silva - Por : Norma Hauer

Era o dia 3 de outubro de 1915, quando, em uma modesta casa do Cachambi, nasce aquele que seria um fenômeno em nossa música popular:ORLANDO GARCIA DA SILVA.

Quem viveu sua época sabe o que foi sua GLÓRIA; quem acompanhou sua carreira e lamentou alguns fatos negativos que ocorreram prejudicando-o como cantor, nunca deixou de adorá-lo. Ele deu "a volta por cima", mas teve sua carreira prejudicada. Isso porém não interessa, o que importa é lembrar as belezas que sua voz espalhou por todo este Brasil.

Fez uma primeira gravação na Colúmbia, com "Olha a Baiana" e "Chope da Brahma", quando do lançamento da Brahma Chope, em garrafa. Novidade na época.Mais de 70 anos antes de Zeca Pagodinho.
Sua primeira gravação na Victor veio cheia de belas poesias, com letras de Cândido das Neves:"Lágrimas" e "Última Estrofe".

Interessante foi sua apresentação de estréia na antiga Rádio Cajuti, ali levado por Francisco Alves. Como na ocasião(1934) havia um artista americano fazendo sucessos em filmes, de nome Ramon Novarro, o locutor de Rádio Cajuti (Cristóvão de Alencar) anunciou-o como Orlando Novarro. Ele, de dentro do estúdio, com o microfone ligado, corrigiu "é Orlando Garcia da Silva". E nunca mais se falou em um fictício Orlando Navarro.

Foi com "Lábios que eu Beijei", da dupla J.Cascata e Leonel Azevedo que sua voz se expraiu por todos os cantos de nossa terra e fez "nascer" milhares de fãs alucinadas.

Quase tudo que Orlando gravou foi sucesso. Tanto como romântico, quanto como carnavalesco. Em 1939 correu o Brasil com uma "Jardineira"

"Oh, jardineira porque estás tão triste,
Mas o que foi que te aconteceu ?..."
ou com um Mal-me-Quer...

"Eu perguntei ao mal me quer
Se meu bem ainda me quer..."

ou mesmo com um Jardim de Infância"

"Nós somos todos do jardim de infância,
Crianças lindas da cabeça aos pés..."

Ou mesmo "bancando" um tirolês

"No Tirol só se canta assim:
Lero lero,lero, lero, lero lero...
O nosso lero lero é diferente
O clima aqui é muito quente..."

E muito mais foi o carnaval de Orlando Silva

Saindo do carnaval, quero deixar aqui registrada uma das mais bonitas poesias musicadas gravadas por Orlando Silva e que também tem uma história. Trata-se de "ROSA".

Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada e formada com ardor
Da alma da mais linda flor de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu lanceado pregado e crucificado
Sobre a rósea cruz do arfante peito teu.
Tu és a forma ideal, estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé e a dor em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela, és mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus quanto é triste a incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar em conduzir-te um dia aos pés do altar
Jurar, aos pés do onipotente em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos
Hei de te envolver até meu padecer de todo fenecer.

Esses belos versos colocados por Pixinguinha na música de "Rosa" são da autoria de Octavio de Souza, um rapaz modesto, que trabalhava nas oficinas da Central do Brasil, no Engenho de Dentro (onde hoje se encontra o Engenhão) que não consta da etiqueta do disco original e nem das primeiras cópias gravadas em LP.
Foi Paulo Tapajós, que, entrevistando Pixinguinha para seu depoimento no Museu da Imagem e do Som, perguntou-lhe:"Pixinga, você não faz versos; quem escreveu os de "Rosa"?.
Sem poder fugir do assunto, Pixinguinha citou o nome de Octavio de Souza, que já era falecido. Dessa forma, Octavio de Souza não viu o sucesso de sua "Rosa" nem viu seu nome divulgado.

Precisa ser um CANTOR de verdade para cantar "Rosa". É uma melodia cheia de altos e baixos difícil de colocar a voz. Somente um Orlando Silva para dar vida a essa música. E ela foi sucesso devido a sua letra; quando Pixinguinha a executava em seu instrumento todos a admiravam, mas foi quando recebeu letra e a voz de Orlando que ela "estourou". E era a música que a mãe de Orlando mais gostava que ele cantasse. Quando ela faleceu ele nunca mais a cantou.

Orlando Silva faleceu em 7 de agosto de 1978 e, torcedor do Flamengo, teve seu corpo velado na sede daquele clube, na Avenida Oswaldo Cruz, junto ao Morro da Viúva.

Seu féretro foi acompanhado por uma multidão a pé, até o Cemitério São João Batista.

Hoje seus restos se encontram no Cemitério São Francisco Xavier.
Norma

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