Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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Colaboração:Claude Bloc


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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A religiosidade do povo cratense - por Armando Lopes Rafael


“Foi sempre muito religioso, ainda hoje o é, o povo do Cariri. Vive, como o cearense, a apelar para a misericórdia divina, no decurso de sua existência entremeada de épocas de fartura e felicidades e de misérias e morte”.
Irineu Pinheiro in “O Cariri”. Edição de 1950, página 94

O Crato, a exemplo da maioria das cidades brasileiras, também nasceu e cresceu à sombra da Cruz. A origem da cidade remonta à construção, no segundo quartel do século XVIII, da humilde capela edificada pelo capuchinho Frei Carlos Maria de Ferrara e dedicada, de modo especial, a Nossa Senhora da Penha, à Santíssima Trindade e a São Fidelis de Sigmaringa.
Desde então, a religiosidade tem sido uma das características do alegre e hospitaleiro povo cratense.
As Procissões são uma das manifestações coletivas dessa religiosidade, como: as de São José, realizadas no dia 19 de março, no Bairro Seminário, a maior de todas que se promovem no decorrer do ano; a de Corpus Christi é a mais carregada de simbolismo, motivando os fiéis a decorarem as ruas centrais para este evento. As calçadas das residências são ornamentadas com pequenos altares, onde não faltam imagens de santos, sobre alvas toalhas, velas e flores.
Em 1° de setembro, temos a Procissão de N. Sra. da Penha, a padroeira da cidade. São realizadas, ainda, as procissões de São Francisco (4 de outubro), a do Domingo de Ramos (que abre os festejos da Semana Santa) e a do “Encontro”. Esta, partindo de pontos diferentes da cidade bifurca-se, quando a imagem de Jesus, carregando a cruz, se encontra com a imagem de Nossa Senhora das Dores, motivando copiosas lágrimas dos fiéis.
Quase todos os bairros do Crato, anualmente, realizam também suas procissões, ao final dos festejos do orago de suas capelas. Assim, temos as procissões de Santa Luzia, São Miguel, Sagrado Coração de Jesus, São José Operário, Nossa Senhora Aparecida, São Sebastião, Nossa Senhora de Fátima, São Vicente Férrer, dentre outras.
Durante a Semana Santa, muitas crendices populares são alimentadas. Divertimentos são evitados na quinta e sexta-feira santas. Jejuns prolongados, herança do Portugal medievo, são feitos. Sem esquecer a confissão dos pecados, que, dada a grande afluência do povo, obriga as oito paróquias da cidade a organizarem um “mutirão” de sacerdotes para atender aos fiéis.
Outra forte tradição religiosa do povo do Crato é a chamada “entronização” do Coração de Jesus. Esta solenidade ocorre no interior das residências, num ritual com orações e cânticos. Nessa ocasião, Jesus Cristo é consagrado como Rei e Soberano de cada lar que o entroniza. A cada ano, a mesma família repete a solenidade, agora com o nome de “renovação” da Consagração.Este costume foi introduzido no Sul do Ceará, no terceiro quartel do século XVIII, pelos Padres Lazaristas franceses que se fixaram no Crato como professores do Seminário São José. Eles difundiram as aparições de Jesus Cristo, ocorridas no século XVII na França, à freira Margarida Maria. Nessas aparições, Jesus pedia o estabelecimento no seio das famílias católicas da devoção ao seu Sagrado Coração. No Cariri, este apelo é atendido até os dias de hoje. Provavelmente, caso único no Brasil.

No Crato, também se mantém a tradição das famílias acenderem velas, colocando-as nas janelas externas de suas residências, em datas especiais, como: 2 de fevereiro (Dia de Nossa Senhora das Candeias) e 13 de Maio (Aparição de Nossa Senhora de Fátima).
Todas as comunidades rurais do município possuem suas capelas. O mesmo ocorre com as diversas escolas da cidade, onde existem pequenos oratórios. No último dia do mês de maio, é realizada a solenidade da “Coroação de Nossa Senhora”. A mais famosa dessas “coroações” é feita, há 109 anos, no patamar da Sé Catedral.
Registre-se ainda a existência de diversas “Irmandades”, compostas por leigos. Uma delas, a Irmandade do Santíssimo Sacramento, possui aqui um “braço feminino”.Fato inusitado, pois é caso único no Brasil.
Mas o profano também se mistura ao sagrado. As festas de São João e São Pedro pouco possuem de caráter religioso. Elas são comemoradas com fogueiras, bebidas, comidas típicas, além das chamadas “quadrilhas juninas” (dança típica do Nordeste brasileiro).
Uma curiosidade: o túmulo mais visitado – no Cemitério Nossa Senhora da Piedade - é o de Maria Caboré, uma deficiente mental, analfabeta e muito humilde, que levou uma vida anônima, mas, após sua morte, passou a ter fama de “milagreira”. Hoje, o povo simples, nas suas dificuldades, faz-lhe “promessas” e visita sua sepultura, no dia 2 de novembro.
No Crato nasceu o famoso Padre Cícero Romão Batista, o “Padim Ciço”, misto de guia espiritual e conselheiro das populações sertanejas, que o veneram como santo e são responsáveis pela maior romaria religiosa existente no interior do Brasil.
Texto e postagem: Armando Lopes Rafael

Um comentário:

socorro moreira disse...

Armando,

Cheguei hoje ao Crato. Por felicidade encontrei seu texto ilustrativo e informativo.
Sua presença sempre nos alegra.

Abraço

Claude

Amanhã é dia de Santa Edwirges. Você poderia postar algo sobre ela? Socorro é devota dela e lhe faz este pedido.