As tias, Maria e Rosa, foram ao Crato e daí para Fortaleza. Como costumam dizer: respirar o ar com iodo para não ter bócio. Eram vaidosas, lembravam de Valdemar, o grande cratense que fez carreira artística em Fortaleza e que carregava uma enorme massa no pescoço.
Por isso fui visitar Tia Mundinha, ele teve de ficar sozinha cuidando dos afazeres de suas terras. Cheguei ali por volta das 17 horas, aproximei o carro do alpendre e a encontrei, sentada, bordando uma varanda de rede.
A alegria dela ao me ver saltava nos olhos e no seu corpo agitado. Nem me deu tempo de relaxar da viagem e me oferecia refrescos, bolos, água, café, doces, queijos, pão torrado com nata e assim por diante. Não recusei aquele pão torrado no forno a lenha, pleno de nata na superfície, chegando à minha boca com aquela superfície de nata gratinada. Café e os cheiros do sertão.
Após o sabor de ambrosia, a comida dos deuses do Olimpo, daquele pão com nata e café, notei tia Mundinha um tanto preocupada. Pensei em algum problema com empregado da fazenda, algo com os animais ou com o roçado em fase coivara. Mas não era. Tratava-se da velha e necessária pesquisa à internet.
- O problema é o aquecimento global.
- Tia isso vai demorar. Os nossos ossos vão estar brancos de velhos e as mudanças que prometem ainda estarão no começo.
- Meu filho eu já vi muita coisa nesta vida. Não se admire do que pode ocorrer. Já vi muito anúncio de fim de mundo que não ocorreu, mas também já presenciei adivinhação acontecendo.
- Tia aqui é longe. Pode ser que a seca piore. Mas o mar está longe.
- Meu filho não de Tsunami que tenho medo. Não é ciclone, tornado, furacão e tufão. O que mais tenho medo é da corrupção do nível.
Olhei para um lado e outro. Um lapso de silêncio enquanto digeria a frase de Tia Mundinha. Era filosofia ou era confusão de internet? Após esta tergiversação perguntei o que ela queria dizer com “corrupção do nível”.
- Meu filho o nível é muito importante. Ele parece ser um dom de Deus. Nós dizemos: fulano é uma pessoa de bom nível e todo mundo entende. Quando pensamos em Deus estamos viajando num alto nível. Quando dizemos um palavrão estamos em baixo nível.
- E a corrupção? – eu queria a conclusão.
- Corrompeu-se o nível. Não é mais absoluto. O próprio nível pode mudar. Então quando dizem que aqui tem mais de quinhentos metros acima do nível do mar, agora vai mudar.
- Ih! Vai tia?
- Vai meu filho. Vai ser menor: o nível do mar vai subir. Se o próprio nível que mede tudo muda, da altura das serras aos lugares baixos e até as depressões, vai ser outra conversa. E eu que pensava que nós falávamos de coisas que nossa mente dominava. Se muda, nossa mente não domina. Hoje é o nível do mar, amanhã é nível do mar mais alto, de mais alto ainda e onde fica a nossa verdade?
Fiquei olhando para ela sem dizer mais nada. Logo ouvi o vaqueiro encurralando o gado e tinha motivo de ir ver coisas mais absolutas. Como o sol se pondo por trás do morro.
Por isso fui visitar Tia Mundinha, ele teve de ficar sozinha cuidando dos afazeres de suas terras. Cheguei ali por volta das 17 horas, aproximei o carro do alpendre e a encontrei, sentada, bordando uma varanda de rede.
A alegria dela ao me ver saltava nos olhos e no seu corpo agitado. Nem me deu tempo de relaxar da viagem e me oferecia refrescos, bolos, água, café, doces, queijos, pão torrado com nata e assim por diante. Não recusei aquele pão torrado no forno a lenha, pleno de nata na superfície, chegando à minha boca com aquela superfície de nata gratinada. Café e os cheiros do sertão.
Após o sabor de ambrosia, a comida dos deuses do Olimpo, daquele pão com nata e café, notei tia Mundinha um tanto preocupada. Pensei em algum problema com empregado da fazenda, algo com os animais ou com o roçado em fase coivara. Mas não era. Tratava-se da velha e necessária pesquisa à internet.
- O problema é o aquecimento global.
- Tia isso vai demorar. Os nossos ossos vão estar brancos de velhos e as mudanças que prometem ainda estarão no começo.
- Meu filho eu já vi muita coisa nesta vida. Não se admire do que pode ocorrer. Já vi muito anúncio de fim de mundo que não ocorreu, mas também já presenciei adivinhação acontecendo.
- Tia aqui é longe. Pode ser que a seca piore. Mas o mar está longe.
- Meu filho não de Tsunami que tenho medo. Não é ciclone, tornado, furacão e tufão. O que mais tenho medo é da corrupção do nível.
Olhei para um lado e outro. Um lapso de silêncio enquanto digeria a frase de Tia Mundinha. Era filosofia ou era confusão de internet? Após esta tergiversação perguntei o que ela queria dizer com “corrupção do nível”.
- Meu filho o nível é muito importante. Ele parece ser um dom de Deus. Nós dizemos: fulano é uma pessoa de bom nível e todo mundo entende. Quando pensamos em Deus estamos viajando num alto nível. Quando dizemos um palavrão estamos em baixo nível.
- E a corrupção? – eu queria a conclusão.
- Corrompeu-se o nível. Não é mais absoluto. O próprio nível pode mudar. Então quando dizem que aqui tem mais de quinhentos metros acima do nível do mar, agora vai mudar.
- Ih! Vai tia?
- Vai meu filho. Vai ser menor: o nível do mar vai subir. Se o próprio nível que mede tudo muda, da altura das serras aos lugares baixos e até as depressões, vai ser outra conversa. E eu que pensava que nós falávamos de coisas que nossa mente dominava. Se muda, nossa mente não domina. Hoje é o nível do mar, amanhã é nível do mar mais alto, de mais alto ainda e onde fica a nossa verdade?
Fiquei olhando para ela sem dizer mais nada. Logo ouvi o vaqueiro encurralando o gado e tinha motivo de ir ver coisas mais absolutas. Como o sol se pondo por trás do morro.
5 comentários:
Eu cheguei a pensar que as tias tinham transformado a fazenda num spa , e estavam porisso muito atararefadas . Só tenho notícias delas por aqui, e olhe lá !
Gostei do cardápio estendido na mesa nordestina: é daquele jeito ! Quem tem problemas de peso, que se cuide , e nem leia o texto pra não salivar...
Agora , cumprimento o Zé do Vale. Falta sentida, falta preenchida !
Esses dias lembramos todos de você.
Abraços.
A presença de Zé do Vale é alegria absoluta !
UAI, José do Vale,
Onde anda esse rapaz que ilustra nosso espaço?
Foi rapatado pelas tias? Empanturrou-se das delícias da casa (com café cheiroso) enquecendo-se dos pobres mortais que aguardam suas palavras?
Oxente, menino,aparaça mais...
Abraço,
Claude
Meninas: como todo curioso vim examinar os comentários. Aproveito para explicar-me pela ausência. Estou envolvido num projeto de um livro que tem me tomado muito tempo. Leituras de toda natureza e textos às carradas. De vez em quando vou tomando um fôlego e voltando aqui. Até que a tarefa acabe e me torne este ser banal que todo dia se encontra na praça.
Precisa explicar não...!
Queremos o prazer de uma bela futura leitura.
Livro na mão e pés pros altos, até findá-la !
Que Deus te inspire !
Ah, lançamento ( um dos ...) ,
na cidade do pequi.
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