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"Penetra surdamente no reino das palavras.
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Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A marca dos meus óculos - Carlos Esmeraldo



Nunca gostei dos meus retratos. As fotografias sempre me mostram coisas que o espelho esconde. Nelas, eu não vejo hoje, o menino tímido que fui e teimo em continuar sendo, mas um velho cheio de rugas, boca murcha, queixo um tanto caído e olhos quase semicerrados.
Uma tristeza sem fim!
Somente uma vez, um dos meus retratos me agradou. Durante minha passagem pelo Rotary Clube do Crato, pediram-me uma foto para galeria dos ex-presidentes. Submeti-me durante quase uma tarde inteira a uma seção de fotografia para tirar apenas um simples retrato.
Estava com os meus trinta e cinco anos e a fotografia clicada pelas mãos de uma verdadeira artista, a melhor profissional do Ceará, parece ter captado tudo de bom que existe no meu interior e, por fora, revelava-me um homem de beleza para mim totalmente desconhecida.
A dona Telma Saraiva teve muito trabalho para me enquadrar na postura correta. Ao final, para desculpar-me pelo tempo que a fiz desperdiçar, eu observei: “como os modelos fotográficos sofrem!”. E ela me respondeu: “Não! Eles sabem se colocar.”
Tenho consciência de que nunca fui nenhum padrão de beleza. Para piorar as coisas, na minha adolescência, eu comecei a notar que as letras das legendas dos filmes diminuíam de tamanho e o quadro-negro do colégio tinha sempre uma sombra que me obrigava a sentar na primeira fila. Os rostos das pessoas nas ruas eram desfocados por um intenso raio de luz, que não me permitia reconhecê-las à distância. Eu era míope e não sabia.
Já estudando em Salvador, aconselharam-me um oculista e, este me passou óculos de lentes grossas, cheias de círculos concêntricos, que reduziam os meus olhos a dois minúsculos pontinhos.
A minha miopia não seria curada nem com mil torneiras, como dizia brincando o “trapalhão” Zacarias na televisão.
Portanto senhores fotógrafos, apesar de usar lentes de contatos há mais de quarenta anos, as marcas dos pesados óculos permanecem no meu nariz por eles deformado.
Não sou nenhum modelo e por isso dispenso seus ensaios fotográficos. Aliás, no meu caso não seriam ensaios, mas simples treinamentos de amadores.


Por Carlos Eduardo Esmeraldo

3 comentários:

Anônimo disse...

Socorro, quando comecei a namorar Carlos, ele ainda usava óculos fundo de garrafa. Entretanto, enxerguei a beleza dele através das lentes grossas. Depois quando apareceu lentes de contato ele trocou os óculos pelas lentes e se sentiu com um visual melhor.

Abraços

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...

Prezada Socorro

Como você foi desenterrar isto? Gostei do título, ficou muito bom, deu novo sentido ao texto. Acredito que você entendeu bem o que eu quis dizer.

socorro moreira disse...

Carlos, eu amei esse texto , quando vc fez a postagem, copiei e deixei nos meus arquivos. Mas, na cópia não apareceu o título. Então tive que inventar. Perdôe-me... Ainda bem que vc aprovou.

Abraços pra vc e Magali.