Criadores & Criaturas



"Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
"

(Carlos Drummond de Andrade)

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... Por do Sol em Serra Verde ...
Colaboração:Claude Bloc


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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Reedição de um momento especial ...- por Stela Siebra de Brito


Exmo. Sr. Presidente da Mesa
Exmas. Autoridades
Exmas. Famílias
Srs. Professores
Queridos Diretores
Caros Humanistas
Colegas Concludentes

Hoje, com dez anos de funcionamento, dez anos de abnegação e de doação total, entrega o “São João Bosco” à cidade do Crato a sua 1ª turma de professorandas de participam alunas que o viram nascer.
A semente, como vedes, medrou.
As salas de aula e os corredores cresceram conosco. São testemunhas daquilo que ali recebemos – os mais reais e valorosos ensinamentos, estímulos, dedicação e, sobretudo, amor. Sim, educaram-nos num clima em que amor e abnegação se confundem numa mesma síntese. A nós não foram ministrados apenas ensinamentos que nos enriqueceram a inteligência e o espírito; não nos encaminharam apenas nos itinerários das letras, das ciências e das artes; levaram-nos mais além, pois que principalmente com o exemplo, ensinaram-nos a amar.
E que ensinamento mais belo para a nossa época – o Amor!
É sem dúvida esta a mais valiosa lição que recebemos.
No mundo de hoje, em que as máquinas tudo resolvem, em que o progresso avança continuamente, em que os homens correm e passam sempre alheios uns aos outros, é o amor que, unindo-os, poderá salvá-los.
Na Populorium Progressio, clama o Papa Paulo VI por um “desenvolvimento que não se reduza a um simples crescimento econômico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer: promover todos os homens e o homem todo”.
Vemos aí a preocupação dos grandes homens em unir os povos, em fazê-los mais humanos, em desenvolvê-los harmoniosamente em igualdade. A cada homem é dado o direito de liberdade, de inteligência; portanto, a cada homem é dado o direito de ser feliz.
E foi com este pensamento que nos educaram no São João Bosco. Uma educação primorosa, unida a um autêntico exemplo de fé vivificante. Aprendemos a amar, a procurar o Belo e buscar a Verdade.
Aqui estamos nós, professorandas!
É uma vitória que alcançamos depois de tantos anos de estudo. Hoje, podemos prosseguir. O nosso campo de ação nos espera e, nele, quantas crianças que nos pedem não só instrução, mas, como o demonstram em seus rostinhos, reclamam, além disso, carinho, dedicação, amizade.
E é aí que se encontra o segredo da educação. Só conseguiremos descobrir a criança, entendê-la, obter e fazer dela o que devemos, se a ela nos doarmos de fato. Para uma educação que abranja totalmente a criança, uma educação verdadeira, precisa o educador reconhecer o aluno como pessoa humana e fazer dele um cidadão que saiba conduzir-se, que seja ele mesmo promotor do seu bem estar material e desenvolvimento pleno.
Novamente cito um trecho da Populorium Progressio em que o Papa Paulo VI se refere ao homem como agente do seu desenvolvimento: “o homem só é verdadeiramente homem na medida em que senhor das suas ações e juiz do valor destas, é autor do seu progresso, em conformidade com a natureza que lhe deu o Criador, cujas possibilidades e exigências ele aceita livremente”.
É necessário, pois, que os educadores façam das crianças verdadeiros homens, que tenham confiança em si e vejam que podem seguir ao lado dos outros. Tudo isso é muito bonito! No entanto, sabemos bem que é sobremodo difícil de realizar.
Mas, as coisas difíceis são sempre as que mais nos empolgam.
E quando sabemos que depois de grandes lutas e sacrifícios conseguiremos a vitória, é doce conhecer o sabor da dificuldade.
É realmente o magistério uma carreira árdua, que exige do educador completo devotamento, porém, é uma carreira belíssima, porque é muito humana.
E todas nós, professorandas, sabemos bem disso.
Os nossos mestres nos foram muito fieis e sinceros.
Por isto é que dizemos: “Mestre, esta nossa vitória é também vossa”!
Se não fossem vossos esforços, vossa dedicação e os valiosos conhecimentos a nós transmitidos, não estaríamos a exultar de alegria, como agora.
Não há palavras nem gestos que digam da nossa gratidão, Mestres. Talvez uma coisa traduza o nosso agradecimento: a realização daquilo que nos ensinastes.
É apenas isto que podemos fazer, e sabemos que com isso vos fazemos o maior e o melhor agradecimento.
Queridos Pais: que vos dizer?
Fostes nossos faróis durante a longa jornada estudantil, estivestes sempre ao nosso lado, encorajando-nos, e, nos momentos difíceis, destes-nos vossa ajuda, e o vosso amor nos estimulou, nos deu coragem de vencer.
Nesta noite de festa e felicidade, vemos lágrimas em vossos olhos. Mas são lágrimas de alegria e justa alegria. As vossas filhas são aquilo que vós fizestes. E nós vos somos eternamente gratas pelo que nos destes e pelo que nos fizestes.
A vós, bondosos Diretores, que nos vistes ainda meninas, que acompanhastes nosso crescimento físico e espiritual, que nos destes tudo e sempre destes o melhor, é pensando nesse exemplo de bondade e amor que, hoje, vos apresentamos nossa gratidão! Fostes nossos segundos Pais. E como o fostes bem! O amor que nos dedicastes fala bem da grandeza de vossas almas. Aprendemos muito no convívio amigo e educativo do Colégio São João Bosco. E a vós tudo isso devemos, porque fostes fieis à vossa missão de educadores. Levaremos em nossas almas as mais belas e ricas lições, aprendidas no vosso exemplo edificante. Recordaremos com saudades os bons tempos em que estudamos sob o tão acolhedor teto do “São João Bosco”. E haverá sempre em nós a doce lembrança daquelas salas de aula, daqueles pátios e corredores que nos viram crescer, que nos viram sempre entre sorrisos e alegrias. Eles conhecem bem a juventude de nossas almas e a alegria dos nossos corações.
Colegas: hoje nos despedimos. Tomaremos os mais diversos rumos, porém haverá sempre algo que nos fará unidas, próximas umas às outras: a lembrança do tempo de estudantes. A grande amizade que nos vinculou até hoje, não dissipará agora; ela continuará firme e nos aglutinará mais ainda, na concretização dos nossos ideais.
Stela Maria Siebra Brito – oradora da Turma de Professorandas do Colégio São João Bosco
Crato, dezembro de 1968

(Cópia do discurso enviado a Rosineide com dedicatória:

Rosineide,
Especialmente para ti essa cópia do meu discurso, aliás, do discurso nosso. Não só eu senti isso e sim todas nós.
Guarda-o, pois tu também és da turma, tu serás sempre nossa.

Meu grande abraço

Stela
17-12-68

* Esse documento foi guardado por Rosineide Esmeraldo por 41 anos. Emocionei-me por demais, quando o encontramos , e fizemos uma segunda leitura . Irretocável ! Stela foi perfeita. Ela é a nossa estrela, e a turma daqueles tempos , amorosa , amiga, inesquecível !

Espero que possa ser lido por : Márcia, Regina, Magali, Edna, Gracinha, Ione, Ismênia, Socorro Matos, Rosineide, Angélica, Vera, Nezinha,Walda, Aldeir, Socorro Machado, Terezinha, Cristina, Iracema, Francíria, Maria Luiza ... Dona Ruth e Dr. José Newton, e demais professores ( Maryane, Cidália, Isa, Ana Cristina, Noélia,Ana Teresa, Ivone, Neide, Divane, Maria do Carmo, Heloísa...)
socorro moreira

*A releitura desse discurso teve para mim um gostinho especial, que foi constatar que, mesmo com 18 anos eu já tinha um pensamento de vanguarda a respeito de educação, e a desejava igual para todos, como um caminho de harmonia em busca do Amor, da Verdade, do Bem. Foi emocionante reler (re-discursar) na companhia de Rosineide e de Socorro. A cada palavra lida me vinha a sensação de como tudo que escrevi ainda está tão vivo dentro de mim, parecia que havia escrito aquilo há poucas semanas. A sinceridade de cada palavra escrita, a emoção de cada sentimento de gratidão aos pais, aos mestres, aos diretores; a alegria de relembrar os rostos das colegas de turma, do idealismo, da confiança no futuro, tudo, tudo foi bom muito reviver. Interessante é que, tanto tempo depois, o tema da educação ainda se permeie das mesmas preocupações, acrescidas de outras mais graves, infelizmente.Não trihei o caminho profissional da educação escolar, mas sempre me senti uma educadora, e o sou, de certo modo.
Stela Siebra

2 comentários:

Anônimo disse...

Socorro e Stela, foi muito emocionante ler esse discurso tão bem feito. Fiquei muito feliz com as recordações, pois foram momentos importantes da nossa vida.

Abraços

Magali

Stela disse...

Da nossa turma também eram Walda e Aldey, que certamente lerão o texto.
A releitura desse discurso teve para mim um gostinho especial, que foi constatar que, mesmo com 18 anos eu já tinha um pensamento de vanguarda a respeito de educação, e a desejava igual para todos, como um caminho de harmonia em busca do Amor, da Verdade, do Bem. Foi emocionante reler (re-discursar) na companhia de Rosineide e de Socorro. A cada palavra lida me vinha a sensação de como tudo que escrevi ainda está tão vivo dentro de mim, parecia que havia escrito aquilo há poucas semanas. A sinceridade de cada palavra escrita, a emoção de cada sentimento de gratidão aos pais, aos mestres, aos diretores; a alegria de relembrar os rostos das colegas de turma, do idealismo, da confiança no futuro, tudo, tudo foi bom muito reviver.

Interessante é que, tanto tempo depois, o tema da educação ainda se permeie das mesmas preocupações, acrescidas de outras mais graves, infelizmente.
Não trihei o caminho profissional da educação escolar, mas sempre me senti uma educadora, e o sou, de certo modo.